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rev port estomatol med dent cir maxilofac. 2016;xxx(xx):xxx-xxx
Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
www.elsevier.pt/spemd
Investígagao original
Contágio emocional de ansíedade encarregado de educacao/crianga em odontopediatria
Nádia Martins * e Maria do Rosário Dias
Centro de Investigagao Multidisciplinar em Psicologia da Saúde Egas Moniz, Almada, Portugal
resumo
Objetivo: Avaliar a existencia de contágio emocional de ansiedade no par relacional encarregado de educacao/crianca.
Métodos:Foram inquiridas 41 criancas (3-6 anos) e respetivos encarregados de educacao, que compareceram a uma consulta de odontopediatria da Clínica Dentária Universitária Egas Moniz, com o recurso á aplicacao de um questionário demográfico e de 2 instrumentos de medicao de ansiedade, específicos de contextos de consultas médico-dentárias; o Venham Picture Test modificado (criancas) e a versao portuguesa da Modified Dental Anxiety Scale (encarregados de educacao). Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística na ver-sao 21 do Statistical Package forthe Social Sciences, nomeadamente recorrendo aos testes de Spearman's Roh, Shapiro-Wilk e Mann-Whitney, considerando-se um nível de significancia de 0,05.
ResuItados:Constatamos que nao existe uma correlacao significativa entre a ansiedade vivenciada pelos EE e a ansiedade manifestada pelas criancas, sendo a maioria das criancas consideradas como livres de ansiedade (56,1%) e a maioria dos encarregados de educacao considerada como moderadamente ansiosa (56,1%). No mesmo registo, assinalamos o facto das criancas, em ambos os grupos, se manifestarem ligeiramente mais ansiosas nas consultas de controlo.
ConcIusao:Apesar de nao se verificar a existencia de contágio emocional para a amostra estudada, é inegável a existencia da problemática da ansiedade, nomeadamente quando equacionada no ambito de consultas de medicina dentária.
© 2016 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licenga de CC BY-NC-ND
(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
informaqao sobre o artigo
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Recebido a 23 de setembro de 2015 Aceite a 23 de dezembro de 2015 On-line a xxx
Palavras-chave: Odontopediatria Ansiedade dentária Psicologia infantil Pais
Crianca em idade pré-escolar
* Autor para correspondencia. Correio eletrónico: nadialmartins@hotmail.com (N. Martins). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpemd.2015.12.006
1646-2890/© 2016 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licenga de CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
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Keywords: Pediatric Dentistry Dental Anxiety Child Psychology Parents
Child preschool
Emotional contagion of anxiety carer - Child in pediatric dentistry
abstract
Objective: To evaluate the Emotional Contagion of Anxiety existance between carers and their children.
Methods: 41 children (ages from 3 to 6) that were present in Paediatric Dentistry appointments at Clínica Dentária Universitária Egas Moniz and their respective carers were surveyed, using a demographic questionnaire and two instruments to measure the anxiety suffered in dental appointment settings; Modified Venham Picture Test (children) and the Portuguese Version of Modified Dental Anxiety Scale (carers). The data obtained were submitted to analysis with the 21st version of Statistical package for the Social Sciences, specifically recurring to, Spearman's Roh, Shapiro-Wilk e Mann-Whitney Tests, being considered a 0.05 level of significance.
Results: No significant correlation was found between the anxiety suffered by the children and the anxiety suffered by the carers with most of the children in the study (56.1%) considered free of anxiety and most of the carers in the study considered as moderately anxious (56.1%). On the same record we point the fact that children manifest slightly more anxious in follow-up appointments.
Conclusion: Even though no Emotional Anxiety Contagion was found on the studied sample, it is undeniable that the anxiety exists, especially in a Dentistry appointment setting.
© 2016 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Published by Elsevier España, S.L.U. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license
(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introdugáo
A ansiedade manifestada pelas crianzas na consulta de odontopediatria é uma problemática com que os médicos dentistas se deparam frequentemente, constituindo-se como uma relevante barreira na prática clínica1-3, sendo reconhe-cida como o principal impulsionador de comportamentos nao colaborantes4, relevando-se em criancas de idade pré--escolar como um dos problemas mais observáveis3,5. Neste sentido, o sucesso do tratamento no setting terapéutico parece estar relacionado com a capacidade do médico dentista lidar com as questoes afetivo-emocionais do paciente6,7. Por outro lado, configurando-se a ansiedade como uma problemática de etiologia multifatorial enfatizamos no presente artigo a emer-géncia do contágio emocional no contexto da díade-relacional, encarregado de educacao (EE)/crianca.
A aprendizagem adaptativa é feita através da observacao do ambiente envolvente6,8, assim, as criancas imitam fre-quentemente os seus familiares e pares internalizando os seus hábitos. Neste sentido, a vivéncia de medos e/ou reacoes adversas relativamente a medicina dentária, podem indu-zir na crianca a preconcecao de que «o dentista deve ser evitado»9-11.
A ansiedade consiste na resposta a uma situacao nao--imediata2,9,12-15, que causa apreensao, desconforto e cria expetativas negativas ao doente12,14,16. O contágio emocional envolve uma tendéncia para imitar e sincronizar automaticamente expressoes, vocalizares, posturas e movimentos com o outro, confluindo emocionalmente17-21.
A relacao entre a ansiedade das criancas e das maes foi comprovada em múltiplos estudos8-10,13,15,22-26, principalmente em criancas em idade pré-escolar6,7,15,23,27, por
serem, naturalmente, mais dependentes das figuras parentais femininas15.
Numa investigado anterior, foram aplicadas: a Frankl Behaviour Scale, a 119 criancas entre os 5-16 anos, e a Modified Dental Anxiety Scale (MDAS) aos pais, e os resultados denunciaram que a ansiedade parental influenciava significativamente o comportamento da crianca na consulta24. Em contradicho, um outro estudo que consistiu na aplicacao do Venham Picture Test (VPT) modificado, ainda na sala de espera e, posteriormente, na avaliacao do comportamento da crianca no setting de consulta com recurso a Frankl Behaviour Scale, a 50 criancas entre os 4-9 anos, bem como na aplicacao da Dental Anxiety Scale aos respetivos EE, revelou que 47,83% das criancas entre os 4-6 anos e 55,56% dos sujeitos entre os 7-9 anos foram consideradas livres de ansiedade, e 98% dos pais avaliados obtiveram pontuacoes equivalentes a níveis baixos/moderados de ansiedade. Contudo, este estudo, apesar de identificar uma relacao entre os níveis de ansiedade infantil e a cooperacao da crianca na consulta, nao parece denunciar uma relacao linear entre a ansiedade dos pais e a ansiedade das criancas7.
Assim, na presente investigacao, constitui-se como ques-tao principal o facto de se saber até que ponto a ansiedade do EE pode influenciar a ansiedade infantil na consulta odonto-pediátrica.
Pretendemos, assim, averiguar se existe uma relacao entre ansiedade do EE e das criancas (3-6 A), que acederam a uma consulta de odontopediatria na Clínica Dentária Universitá-ria Egas Moniz (CDUEM), testando, neste sentido, a hipótese da existéncia de contágio emocional entre as criancas e os seus EE. Avaliamos, também, a relacao entre a ansiedade da crianca e o género, a ansiedade da crianca e a idade, a ansiedade do EE e o género e a ansiedade da
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criança, numa consulta de primeira vez vs. consulta de controlo.
Materiais e métodos
A presente investigacao emoldura-se num estudo clínico de natureza transversal, efetuado com o recurso a instrumentos previamente validados - versao portuguesa da MDAS e VPT modificado - e de um questionário demográfico.
O VPT modificado é composto por 4 personagens (uma para cada 8 pares de figuras), 2 meninos e 2 meninas, de etnia branca e negra6,7. Cada conjunto de 8 pares de figuras apresenta várias reacoes emocionais e a crianca deverá esco-lher, em cada par, aquela que melhor reflete as suas emocoes. Á figura reveladora de um sentimento negativo é atribuido um ponto e a figura representativa de um sentimento positivo nao é atribuida pontuacao, obtendo-se, no final, uma pontuacao entre 0 (crianca livre de ansiedade) e 8 pontos2,6,14.
A MDAS é um questionário de autoanálise, convidando-se o sujeito a avaliar o seu nivel de ansiedade de acordo com 5 situacoes-tipo no ámbito da medicina dentária (v. g. consulta no dia seguinte, sala de espera, consulta de destartarizacao, preparo cavitário e anestesia local)28. Para cada uma das situacoes sao propostas 5 opcoes de resposta, que vao desde nada ansioso (a qual é atribuído um ponto) a extremamente ansioso (a qual sao atribuídos 5 pontos). No final, somam--se as pontuacoes das 5 questoes e obtém-se um valor entre 5-25; valores superiores a 20 subentendem níveis fóbicos de ansiedade.
Optou-se pela MDAS por ser um instrumento confiável e validado28,29, inclusivamente na sua versao portuguesa30. Recorreu-se ao VPT modificado por ser um instrumento recente, validado, adaptado a populacao em idade pré-escolar e visualmente mais atrativo que o VPT original31. Finalmente, realca-se a importancia da escolha de instrumentos que medem especificamente a ansiedade médico-dentária e nao em contextos generalistas.
Após a aprovacao do estudo por parte da Comissao de Ética da Egas Moniz-CES/CRL, foram inquiridas 41 criancas (3-6 A) e os respetivos EE. Para a selecao da amostra foram utilizados como critérios de inclusao: criancas com idades entre os 3-6 anos, que comparecam a consulta de odontopediatria da CDUEM, sem denunciarem necessidades especiais e devi-damente acompanhadas por um adulto; como critérios de exclusao, EE iletrados e, como tal, impossibilitados de preen-cher o questionário demográfico e/ou a MDAS.
Aos EE foi pedido que preenchessem o questionário demográfico e respondessem as 5 questoes que constituem a MDAS. Seguidamente, foi apresentado a crianca o VPT modificado (com a figura adaptada a sua etnia e género), pedindo-lhe que escolhesse, em cada par, a figura mais próxima das emocoes que estava a sentir naquele momento. O ques-tionário demográfico inquiria os EE sobre a sua idade e género, bem como sobre a idade e género da crianca que acompanhavam.
Os dados obtidos foram inseridos na base de dados e submetidos a análise estatística na versao 21 do Statistical Package for the Social Sciences (IBM© SPSS©), nomeadamente recorrendo aos testes de Spearman's Roh, Shapiro-Wilk e
Ansiedade da criança (VPT Modificado)
~T 2 3
VPT Modificado
Figura 1 - Distribuiçâo do n.° de sujeitos em relaçâo aos valores de VPT modificado.
Mann-Whitney, considerando-se um nível de significância de 0,05.
Resultados
A média de idades das criancas foi de 4,9 anos, 22 meninos (53,7%) e 19 meninas (46,3%); 19 criancas (46,3%) comparece-ram a uma consulta de primeira vez e 22 criancas (53,7%) a consultas de controlo. Relativamente aos EE, a idade média foi de 38,9 anos, sendo 73,2% dos sujeitos do género feminino e 26,8% do género masculino. Os valores obtidos com recurso ao VPT modificado sao apresentados nas figuras 1 e 2.
Ansiedade de criança (Grupos)
□ Livres de ansiedade
□ Baixos níveis de ansiedade
□ Signifícativamente ansiosos
Figura 2 - Distribuicáo da ansiedade da crianga por grupos (livres de ansiedade: 0 pontos; ansiedade reduzida: 1-3 pontos; significativamente ansiosos: 4-8 pontos).
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Tabela 3 - Correlacao entre os valores obtidos no VPT modificado e idade da crianza
Tabela 1 - Distribuicao dos valores de MDAS
MDAS N.° de sujeitos Percentagem
5 3 7,3
6 4 9,8
7 5 12,2
8 4 9,8
9 2 4,9
10 8 19,5
11 3 7,3
14 5 12,2
17 5 12,2
20 1 2,4
22 1 2,4
Idade da crianga VPT Total
0 1 2 3 4 5 8
3 2 0 1 0 1 1 1 6
4 3 1 0 2 0 0 0 6
5 8 2 0 0 1 1 1 13
6 10 4 0 2 0 0 0 16
Total 23 7 1 4 2 2 2 41
Ansiedade do encarregado de educagao
□ Reduzida
□ Moderada
□ Elevada
Figura 3 - Distribuicao dos grupos de ansiedade dos EE (ansiedade reduzida: 5-7pontos; ansiedade moderada: 814 pontos; ansiedade elevada: 17-22pontos).
O valor médio dos resultados obtidos através da MDAS foi de 10,6, sendo os valores distribuídos de acordo com a tabela 1. Os dados agrupados evidenciam que a maioria dos EE integra o grupo - ansiedade moderada (fig. 3). Na tabela 2 sao apresen-tados os valores médios, referentes a cada uma das questoes constituintes da MDAS.
No sentido de avaliar a relacao entre a ansiedade do EE e a ansiedade da crianca, recorreu-se ao teste de Spearman's Roh, tendo sido obtido um coeficiente de correlacao de -0,112 com uma significancia de 0,485, rejeitando-se, assim, a hipó-tese de partida de contágio emocional. No que concerne á relacao entre os valores do VPT, correspondentes á ansiedade das criancas e a idade (tabela 3), obteve-se, no teste de Spearman's Roh, um coeficiente de correlacao de -0,268 com um valor de significancia de 0,9. Neste sentido, podemos afirmar que, com um aumento da idade da crianca, parece existir uma diminuicao ligeira dos seus valores de ansiedade.
Ansiedade da crianza (VPT Modificado) em relagao ao género
0 1 2 3 4 5 8
VPT Modificado
Figura 4 - Distribuicao dos valores obtidos no VPT modificado de acordo com o género da crianca.
Relativamente aos valores de ansiedade da crianca e a variável género, no género masculino, o valor médio do VPT foi de 1,86 e, no género feminino, de 0,74, revelando-se as meninas ligeiramente menos ansiosas. Ainda assim, a maioria das criancas é considerada livre de ansiedade (figs. 2 e 4). Apenas os meninos obtiveram pontuacoes entre 4-8 (6 sujeitos), podendo ser considerados como significativamente ansiosos (fig. 4).
A média dos valores de ansiedade obtidos (VPT modificado) para as consultas de primeira vez é de 1,11 e de 1,55 para consultas de controlo, considerando-se assim que, em consultas de controlo, as criancas sao ligeiramente mais ansiosas.
Tabela 2 - Média dos valores obtidos por questao do MDAS
Situafáo hipotética Consulta no dia Aguardar na sala seguinte de espera Brocar um dente Destartariza^ao e polimento Inje^ao de anestésico local
Média MDAS 1,8 2 2,3 1,8 2,6
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Relativamente aos valores obtidos na MDAS, referentes a ansiedade dos EE e a sua relacao com o género, o género feminino (x = 10, 8) revelou-se, em média, ligeiramente mais ansioso que o género masculino (x = 9,9). Em ambos os géneros foram encontrados indivíduos livres de ansiedade (5 pontos), sendo o valor mais elevado no género masculino de 17 pontos e no género feminino de 22, tendo sido também identificados 2 indivíduos com níveis fóbicos de ansiedade (> 19 pontos) no género feminino.
Discussáo
De acordo com os resultados obtidos, sublinha-se o facto de 56,1% das criancas se revelarem livres de ansiedade, resultados estes que parecem corroborar outros estudos empíricos consultados1,7,32. Este facto prende-se, eventualmente, com a desmistificacao atual do medo associado a imagem do médico dentista33 e a emergéncia de programas de intervencao precoce, que promovem a higiene oral em ambientes escolares. Por outro lado, 56,1% dos EE revelaram níveis médios de ansiedade, indo ao encontro dos resultados obtidos em outras investigares7,10,24.
Analisando os valores médios, relativos a cada uma das questoes da MDAS, podemos arrogar que os EE se sentem mais ansiosos quando confrontados com uma situacao hipotética de injecao com anestésico local, seguindo-se a situacao hipotética de brocar um dente (ou seja, quando confrontados com a carpule e a agulha para a injecao com anestésico local e com a turbina/contra-angulo), corroborando, novamente, os resultados obtidos noutros estudos3,8,14,16,23,27.
Quanto a inexisténcia de uma relacao entre a ansiedade do EE e da crianca, os resultados nao parecem ir ao encontro do esperado no ambito das hipóteses de partida formuladas, bem como no ambito de alguns estudos da literatura científica consultada8-10,13,15,22-26, contudo, existem estudos que cor-roboram os resultados obtidos no presente estudo7,15,16,34-43. Assim, os resultados obtidos podem, eventualmente, ter sido alvo de um enviesamento metodológico, na medida em que foram utilizadas 2 escalas distintas. Porém, dada a diferenca entre as 2 faixas etárias escolhidas, consideramos a utilizacao dos instrumentos escolhidos a opcao mais assertiva e pertinente em termos metodológicos.
No que diz respeito a relacao entre a ansiedade da crianca e a idade, os resultados parecem ir ao encontro de outros estudos elaborados com esta faixa etária, apontando para a hipótese de um incremento do nível de maturidade emocional e a consequente diminuicao da ansiedade27,44.
O facto de as criancas que comparecem a consultas de controlo se terem revelado ligeiramente mais ansiosas que as criancas em consulta de primeira vez, vai ao encontro dos resultados obtidos por outros investigadores27,45,46. Partimos do pressuposto que muitas criancas que necessitam de várias consultas de controlo já efetuaram, anteriormente, tratamentos invasivos, dolorosos e desconfortáveis. Reforcamos, assim, a necessidade de iniciativas no ámbito da educacao para a saúde oral, de consultas de rastreio e de procedimentos de natureza preventiva, evitando que a saúde oral da crianca esteja de tal modo deteriorada que possa precipitar a ocor-réncia de procedimentos clínicos considerados traumáticos.
Os resultados obtidos denunciam também que os EE do género feminino sao mais ansiosos que os EE do género masculino, conciliando-se com os resultados obtidos por Dikshit et al.10, eventualmente, justificados pelo facto de as mulheres expressarem mais fácil e frequentemente as suas emocôes. Por outro lado, acresce referir que, nos dias de hoje, face à informacao veiculada pelos mass media e pelos Planos Nacionais de Saúde, os EE tentam, cada vez mais, promover precocemente a saúde oral dos seus filhos, ultrapassando, assim, os seus temores pessoais7.
A maioria dos estudos referenciados na literatura de suporte configura a sua problemática de estudo, no âmbito do contágio da ansiedade na díade mae/crianca34,47. No presente estudo, constitui-se como algo de inovador o facto de se eleger, na qualidade de EE, o acompanhante da crianca à consulta, independentemente do género ou do facto de serem ou nao os progenitores da crianca. Contudo, ainda que seja considerável uma amostra de 41 sujeitos, uma amostra mais alargada poderia, eventualmente, permitir uma generalizacao mais sedimentada dos resultados.
Sugerimos, futuramente, estudos empíricos análogos, abrangendo, nao só criancas em idade pré-escolar, como também em estádios de desenvolvimento diferenciados, alargando, assim, o espectro de influencia da variável idade quando cruzada com os níveis de ansiedade, bem como o recurso a instrumentos de medida que avaliem o comporta-mento e o grau de adesao terapéutica da crianca.
Conclusoes
De acordo com os resultados obtidos, podemos afirmar que, na amostra estudada, nao se identificaram contornos que delineiem a existéncia de contágio emocional da ansiedade na díade crianca/EE. A maioria das criancas foi considerada como livre de ansiedade. Por outro lado, a maioria dos EE apresenta-se como moderadamente ansiosos, sendo o proce-dimento que invoca uma maior ansiedade associado a injecao com anestésico local. Quando a idade da crianca aumenta, a ansiedade tende a diminuir. As criancas do género feminino revelaram-se menos ansiosas que as do género masculino, sendo mais ansiosas em consultas de controlo do que em consultas de primeira vez. De registar, também, que os EE do género feminino demonstraram ser ligeiramente mais ansiosos do que os do género masculino.
Apesar dos dados obtidos nao corroborarem a problemática do contágio emocional de ansiedade na díade EE/crianca, nao poderemos sublimar a influéncia da variável ansiedade quando conotada com settings terapéuticos em medicina den-tária, tornando-se imprescindível que, ao nível da formacao de base dos futuros médicos dentistas, sejam administrados conteúdos programáticos no ambito das ciéncias sociais e comportamentais, que capacitem o MD para o correto diagnóstico emocional dos seus doentes.
Responsabilidades éticas
Protegao de pessoas e animais. Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regu-lamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissao de
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Investigaçâo Clínica e Ética e de acordo com os da Associaçao Médica Mundial e da Declaracao de Helsinki.
Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicacao dos dados de pacientes.
Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram que nao aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interesses
Os autores declaram nao haver conflito de interesses. bibliografía
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