Scholarly article on topic 'Influence of breastfeeding in the first months of life on blood pressure levels of preschool children'

Influence of breastfeeding in the first months of life on blood pressure levels of preschool children Academic research paper on "Educational sciences"

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OECD Field of science
Keywords
{Child / Breastfeeding / "Blood pressure" / Criança / "Aleitamento materno" / "Pressão arterial"}

Abstract of research paper on Educational sciences, author of scientific article — Luciana Neri Nobre, Angelina do Carmo Lessa

Abstract Objective To investigate whether breastfeeding in early life affects blood pressure of preschoolers. Methods Cross‐sectional study nested in a cohort from a municipality in the state of Minas Gerais, Brazil. All children in the cohort were invited for this study. Thus, between 2009 and 2010, blood pressure of 230 preschool children and their mothers, in addition to anthropometric variables, previous history, and socioeconomic status were evaluated. Blood pressure measurement was assessed in the morning, using automatic Omron® HEM‐714INT and HEM‐781INT devices to measure the blood pressure of preschool children and their mothers, respectively. Logistic regression was used to study the association between breastfeeding and blood pressure. The significance level was set at 5%. Results This study identified 19 (8.26%) preschool children with high blood pressure (values above the 90th percentile). High systolic blood pressure was associated with low birth weight (OR=5.41; 95% CI=1.45–20.23) and total breastfeeding duration of less than six months (OR=4.14; 95% CI=1.40–11.95). High diastolic blood pressure was not associated with any variable, whereas high systolic blood pressure/diastolic blood pressure ratio was associated with breastfeeding duration of less than six months (OR=3.48; 95% CI=1.34–9.1). Conclusion The results of this study indicate that preschoolers breastfed for a period of less than six months were more likely to have high blood pressure when compared to those breastfed for a longer period, suggesting a protective effect of breastfeeding against high blood pressure in this population. Resumo Objetivo Investigar se aleitamento nos primeiros meses de vida tem influência sobre a pressão arterial de pré‐escolares. Métodos Estudo transversal aninhado numa coorte de nascidos num município mineiro. Foram convidadas todas as crianças da coorte. Entre 2009 e 2010, foram avaliados pressão arterial (PA) de 230 pré‐escolares e de suas mães, além de variáveis antropométricas e pregressas e condição socioeconômica. A medida da PA foi feita de manhã, com os monitores automáticos de braço Omron® modelo HEM‐714INT e HEM‐781INT para medir a pressão arterial dos pré‐escolares e de suas mães, respectivamente. Para o estudo da relação entre aleitamento materno e pressão arterial usou‐se a regressão logística. O nível de significância adotado foi 5%. Resultados Foram identificados 19 (8,26%) pré‐escolares com pressão arterial elevada (valores acima do percentil 90). A pressão arterial sistólica (PAS) elevada se associou ao baixo peso ao nascimento (OR=5,41; IC 95%= 1,45‐20,23) e ao período total de aleitamento materno inferior a seis meses (OR=4,14; IC 95%= 1,40‐11,95). Elevada pressão arterial diastólica (PAD) não se associou a qualquer variável e a PAS/PAD elevadas se associaram ao período de aleitamento materno inferior a seis meses (OR=3,48; IC 95%= 1,34‐9,1). Conclusão Os pré‐escolares amamentados por um período inferior a seis meses, quando comparados com os que amamentaram por um período superior, apresentaram maior chance de estar com pressão arterial elevada, o que sugere efeito protetor do aleitamento materno contra elevação da pressão arterial na população estudada.

Academic research paper on topic "Influence of breastfeeding in the first months of life on blood pressure levels of preschool children"

J Pediatr (Rio J). 2016;92(6):588-594

Jornal de

Pediatría

www.jped.com.br

ARTIGO ORIGINAL

Influence of breastfeeding in the first months of life on blood pressure levels of preschool children^

Luciana Neri Nobre* e Angelina do Carmo Lessa

CrossMark

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Faculdade de Ciencias Biológicas e da Saúde, Departamento de Nutricao, Diamantina, MG, Brasil

Recebido em 10 de setembro de 2015; aceito em 26 de janeiro de 2016

KEYWORDS

Child;

Breastfeeding; Blood pressure

Abstract

Objective: To investigate whether breastfeeding in early life affects blood pressure of preschoolers.

Methods: Cross-sectional study nested in a cohort from a municipality in the state of Minas Gerais, Brazil. All children in the cohort were invited for this study. Thus, between 2009 and 2010, blood pressure of 230 preschool children and their mothers, in addition to anthropometric variables, previous history, and socioeconomic status were evaluated. Blood pressure measurement was assessed in the morning, using automatic Omron® HEM-714INT and HEM-781INT devices to measure the blood pressure of preschool children and their mothers, respectively. Logistic regression was used to study the association between breastfeeding and blood pressure. The significance level was set at 5%.

Results: This study identified 19 (8.26%) preschool children with high blood pressure (values above the 90th percentile). High systolic blood pressure was associated with low birth weight (OR = 5.41; 95% CI = 1.45-20.23) and total breastfeeding duration of less than six months (OR = 4.14; 95% CI = 1.40-11.95). High diastolic blood pressure was not associated with any variable, whereas high systolic blood pressure/diastolic blood pressure ratio was associated with breastfeeding duration of less than six months (OR = 3.48; 95% CI = 1.34-9.1). Conclusion: The results of this study indicate that preschoolers breastfed for a period of less than six months were more likely to have high blood pressure when compared to those breastfed for a longer period, suggesting a protective effect of breastfeeding against high blood pressure in this population.

© 2016 Published by Elsevier Editora Ltda. on behalf of Sociedade Brasileira de Pediatria. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.Org/10.1016/j.jped.2016.02.011

* Como citar este artigo: Nobre LN, Lessa AC. Influence of breastfeeding in the first months of life on blood pressure levels of preschool children. J Pediatr (Rio J). 2016;92:588-94.

* Autor para correspondencia.

E-mail: lunerinobre@yahoo.com.br (L.N. Nobre).

2255-5536/© 2016 Publicado por Elsevier Editora Ltda. em nome de Sociedade Brasileira de Pediatria. Este é um artigo Open Access sob uma licenca CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Influencia do aleitamento materno nos primeiros meses de vida na pressao arterial de pré-escolares

Resumo

Objetivo: Investigar se aleitamento nos primeiros meses de vida tem influencia sobre a pressao arterial de pré-escolares.

Métodos: Estudo transversal aninhado numa coorte de nascidos num municipio mineiro. Foram convidadas todas as criancas da coorte. Entre 2009 e 2010, foram avaliados pressao arterial (PA) de 230 pré-escolares e de suas maes, além de variáveis antropométricas e pregressas e condicao socioeconómica. A medida da PA foi feita de manha, com os monitores automáticos de braco Omron® modelo HEM-714INT e HEM-781INT para medir a pressao arterial dos pré-escolares e de suas maes, respectivamente. Para o estudo da relaccao entre aleitamento materno e pressao arterial usou-se a regressao logística. O nivel de significancia adotado foi 5%. Resultados: Foram identificados 19 (8,26%) pré-escolares com pressao arterial elevada (valores acima do percentil 90). A pressao arterial sistólica (PAS) elevada se associou ao baixo peso ao nascimento (OR = 5,41; IC 95%= 1,45-20,23) e ao periodo total de aleitamento materno inferior a seis meses (OR = 4,14; IC 95%= 1,40-11,95). Elevada pressao arterial diastólica (PAD) nao se associou a qualquer variável e a PAS/PAD elevadas se associaram ao periodo de aleitamento materno inferior a seis meses (OR = 3,48; IC 95%= 1,34-9,1).

Conclusao: Os pré-escolares amamentados por um periodo inferior a seis meses, quando comparados com os que amamentaram por um periodo superior, apresentaram maior chance de estar com pressao arterial elevada, o que sugere efeito protetor do aleitamento materno contra elevaccao da pressao arterial na populaccao estudada.

© 2016 Publicado por Elsevier Editora Ltda. em nome de Sociedade Brasileira de Pediatria. Este e um artigo Open Access sob uma licenca CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

PALAVRAS-CHAVE

Crianca; Aleitamento materno; Pressao arterial

Introducao

Algumas doencas usualmente frequentes em adultos tem atingido criancas de forma preocupante; dentre elas podem ser citadas o excesso de peso e pressao arterial elevada. O excesso de peso - sobrepeso/obesidade - tem sido considerado uma epidemia mundial. A Pesquisa de Orccamento Familiar de 2008-20091 revelou que esse problema tem atin-gindo aproximadamente 33,5% das criancas brasileiras entre cinco e nove anos. Deacordocom Friedmanet al.,2 o excesso de peso geralmente acompanha aumento da pressao arterial.

Niveis pressóricos elevados na infancia aumentam a chance de hipertensao arterial sistemica (HAS) no adulto e contribuem ainda para doencas cardiovasculares.2 Desse modo, a identificacao e o tratamento precoce da hiperten-sao na infancia podem prevenir desfechos adversos futuros.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia3 recomenda que seja aferida a pressao arterial (PA) a partir dos tres anos, anualmente, ou antes disso, quando houver fatores de risco. No entanto, a metodologia complexa estabelecida para verificacao da PA em criancas faz com que muitos profissionais a excluam de sua rotina ou interpretem os valores aferidos de forma incorreta, o que pode resultar em subdiagnóstico e consequencias indesejáveis para esses individuos.4 Assim, provavelmente, devido a esses fatores, a prevalencia de pressao arterial elevada no grupo infanto--juvenil foi durante muito tempo considerada insignificante. No entanto, diversas pesquisas identificaram que esse problema tem sido comum nessa fase da vida.5"11

Tal como acontece com a maioria das doenccas crónicas nao transmissiveis, a hipertensao tem como fatores de risco componentes genéticos, estilo de vida3,12 e práticas alimentares inadequadas.3,10 Alguns estudos tem sugerido que a amamentaccao pode também ser um importante fator prote-tor contra doenccas cardiovasculares, hipertensao arterial, dislipidemia e obesidade durante a infancia.13

No entanto, o efeito protetor do aleitamento materno contra niveis pressóricos elevados ainda é controverso. Ape-sar de algumas pesquisas terem identificado esse efeito,11,14 outras nao observaram.9,15

Para Balaban e Silva,16 as experiencias nutricionais nos primeiros meses de vida do individuo podem afetar sua sus-cetibilidade para doenccas crónicas na idade adulta, o que tem sido chamado de imprinting metabólico, termo que descreve um fenómeno pelo qual uma experiencia nutricio-nal precoce atuaria durante um periodo critico e especifico de desenvolvimento e poderia levar a uma programaccao de mecanismos regulatórios, por exemplo, de regulaccao da pressao arterial ao longo da vida.17

Nesse sentido, Horta et al.17 citam que diferentes mecanismos biológicos podem atuar nessa programaccao, dentre os quais a grande concentracao de ácidos graxos poliinsa-turados de cadeia longa, que sao componentes estruturais importantes das membranas celulares, inclusive do endoté-lio vascular.

Considerando os aspectos apresentados acima, este estudo tem como objetivo verificar se o aleitamento materno nos primeiros meses de vida tem influencia na pressao arterial de pré-escolares.

Métodos

Sujeitos e local de estudo

Trata-se de um estudo transversal aninhado numa coorte de nascimento da cidade de Diamantina, Minas Gerais, Brasil.18 Detalhes da formacao da coorte e do estudo transversal foram descritos em outra publicacao.19 Na presente pesquisa as criancas da coorte supracitada estavam com cinco anos, com variacao de quatro meses para mais ou para menos, e foram submetidas a avaliacoes antropométricas, socioeconómicas e de pressao arterial.

Diamantina fica no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, Brasil. Tem uma taxa de alfabetizacao de 83,4% e índice de desenvolvimento humano de 0,748. Entre os domicilios, 90,76% sao abastecidos com água tratada, 70,7% com sistema de esgoto e 69,67% com coleta de lixo.20

Os dados desta pesquisa foram coletados entre 2004 e 2005 e entre 2009 e 2010. No primeiro período foram coletados por uma nutricionista e discentes do Curso de Nutricao da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e no segundo período por quatro nutricionistas e uma discente do Curso de Nutricao da referida Universidade. Antes do inicio do estudo, as pesquisadoras foram treinadas para padronizaccao das medidas.

Cada criancca foi visitada em seu domicílio em ambos os períodos de estudo. No primeiro todas as variáveis foram avaliadas no domicílio e no segundo foi feita uma visita domiciliar no qual foi aplicado um questionário ao responsá-vel pela criancca e em seguida foram agendados dia e horário para afericao de medidas antropométricas e de pressao arterial das crianccas e de suas maes.

Variáveis estudadas

Dentre as variáveis avaliadas, as usadas neste estudo sao o índice de massa corporal (IMC), a circunferencia da cintura (CC), a renda familiar, o número de moradores no domicilio e a pressao arterial das criancas aos cinco anos e de suas maes. Além disso, foram usadas informales sobre peso corporal ao nascimento e tempo de aleitamento materno nos primeiros meses de vida.

O peso das criancas foi aferido com balanca Kratos® portátil (Kratos®, SP, Brasil), eletronica e digital, com capa-cidade máxima de 150 kg e divisoes de 50 g; e a altura, em estadiometro Altura Exata® (Alturexata®, MG, Brasil) com escala de precisao de 0,1 cm. A medida da CC foi feita com fita métrica inextensível no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela.21 Essas medidas foram aferidas segundo protocolos recomendados por Jelliffe,22 nas dependencias da UFVJM, no período matutino.

O ponto de corte > 1 escore Z identificou criancas com excesso de peso de acordo com o IMC/idade.23 Os softwares WHO Anthro 2005 versao 2.0.1 e WHO Anthro Plus 2009 versao 3 foram usados para identificacao dos escores Z das criancas. Vale destacar que foram usados os dois softwares tendo em vista que a idade das criancas durante a coleta de dados foi cinco anos com variacao de quatro meses para mais ou para menos. Para análise da variável CC definiram-se como categoria de risco valores acima do percentil 75.

A renda familiar per capita da crianca foi calculada a partir de informacoes sobre a renda familiar total e número de moradores no domicílio. No período da pesquisa o salá-rio mínimo vigente era de R$ 540. Essas informacoes foram obtidas por meio de um questionário estruturado aplicado á mae ou ao responsável pela crianca no domicílio.

A pressao arterial foi aferida numa única ocasiao, com tres medidas num intervalo de 5 minutos cada, precedidos por 10 minutos de descanso. A média das tres medidas foi usada para a análise. Foram usados monitores automáticos de braco modelo Omron® (Omron®, Países Baixos) HEM-714INT e 781INT para avaliar PA dos pré-escolares e de suas maes, respectivamente. Essa medida ocorreu segundo orientaccoes dos fabricantes dos aparelhos.

A classificacao da pressao arterial seguiu critérios da VI Diretrizes de Hipertensao Arterial,3 as quais conside-ram para crianccas e adolescentes valores de PA de acordo com os percentis de estatura para ambos os sexos abaixo do percentil 90 como normotensao, desde que inferiores a 120/80 mmHg; entre os percentis 90 e 95, como limítrofe, e igual ou superior ao percentil 95, como hipertensao arterial. Neste estudo, para os pré-escolares, foram considerados ''PA elevada'' valores acima do percentil 90 e para as maes, valores maiores ou igual a 140 x 90 mmHg.

O aleitamento materno foi definido de acordo com as recomendacoes da Organizacao Mundial de Saúde.24 Assim, as crianccas que permaneceram em aleitamento materno até os seis meses, independentemente da introduccao de outros alimentos, foram consideradas em aleitamento materno. Os dados sobre a prática de aleitamento materno foram obtidos prospectivamente, a partir do estudo de coorte, quando as criancas foram visitadas, também no domicílio, com perio-dicidade mensal.

O presente estudo usou dados de dois estudos maiores intitulados ''Alimentacao e crescimento no primeiro ano de vida: um estudo de coorte''18 e ''Determinantes do estado nutricional de crianccas aos cinco anos de idade do município de Diamantina: estudo de uma coorte avaliada no primeiro ano de vida''.25 Ambos foram aprovados pelos Comités de Ética da UFVJM, cujos números de protocolos sao 011/05 e 039/08, respectivamente. Para participar do estudo, os pais ou responsáveis pelas crianccas assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Análise estatística

A análise de regressao logística foi usada para determinar a influéncia do aleitamento materno na presenca de pressao arterial elevada nos pré-escolares. Inicialmente, fez-se a análise bivariada, aquelas variáveis que apresentaram valor de p menor do que 20% foram selecionadas para a análise multivariada. O nível de significancia definido para rejeicao da hipótese de nulidade foi de 95%.

O poder da amostra foi calculado a posteriori com o software estatístico G*Power.26 Para essa análise os parámetros usados foram razao de chances (OR) de 2,6 para pressao arterial elevada (PAS/PAD) segundo o período de aleitamento materno obtido na análise de regressao logística nao ajustada e probabilidade máxima de erro de 5%. O poder identificado foi de 99 e foi considerado amostra adequada.

Resultados

Este estudo é um transversal aninhado numa coorte de nascimento e como dito anteriormente a formacao da coorte e do acompanhamento das criancas foi anteriormente publicada.19 Assim na busca das criancas para este estudo optou-se por estudar os pré-escolares elegíveis para a coorte, e nao apenas os que foram acompanhados no pri-meiro ano de vida para evitar perdas significativas e que invalidasse o presente estudo, já que houve perda de algu-mas criancas durante o seguimento. Assim sendo, neste estudo tivemos uma perda de 49 pré-escolares.

Foram avaliadas 230 criancas, das quais 19 (8,2%) foram classificadas como com pressao arterial elevada, ou seja, com valores de PAS/PAD superiores ao percentil 90; 6,5% e 3,9% com PAS e PAD elevadas, respectivamente. A preva-lencia de aleitamento materno no sexto mes de vida foi de aproximadamente 74% (tabela 1).

Os resultados da análise bivariada das variáveis associa-das á pressao arterial sistólica, diastólica elevadas e ambas encontram-se na tabela 2. Observa-se que o peso ao nasci-mento e o tempo de aleitamento materno foram associados aos valores de PAS. Nenhuma variável foi associada á PAD; no entanto, o peso ao nascimento e tempo de aleitamento materno associaram-se aos valores de PAS/PAD (tabela 2).

No modelo ajustado, o peso ao nascimento e o tempo de aleitamento materno permaneceram associados á PAS elevada e o tempo de aleitamento materno á PAS/PAD elevadas (tabela 3).

Discussao

Entre os pré-escolares estudados a prevalencia de pressao arterial elevada encontra-se dentro das estatísticas nacio-nais. Nossos achados apontam que as crianccas que nasceram com baixo peso e aquelas que amamentaram por período inferior a seis meses apresentaram maior chance de estar com pressao arterial sistólica elevada aos cinco anos. A PAD elevada nao se associou a alguma variável avaliada e as crianccas que foram amamentadas por período inferior a seis meses, quando comparadas com as que amamentaram por período superior, apresentarem maiores valores de PAS/PAD.

No Brasil nao há estatística nacional sobre prevalencia de pressao elevada no grupo infanto-juvenil, o que dificulta o conhecimento do real problema enfrentado pelas nos-sas crianccas. Além disso, acredita-se que a pressao arterial elevada na infancia seja rara e sua incidencia acaba subestimada pela dificuldade de diagnóstico, que requer técnica, material e ambiente adequados para afericao da pressao.4,27 Ademais, por ser considerada pouco prevalente, nao é conduta rotineira a afericao da pressao arterial em consultas de rotina desse grupo.

No entanto, vale destacar que as pesquisas citadas neste estudo5"11,28 que avaliaram pressao arterial elevada em crianccas e/ou adolescentes identificaram prevalencias de 1,7 a 19,9%. Nenhuma dessas pesquisas citou o horário em que foi medida a pressao e houve também variaccao na metodologia de afericao, ou seja, os aparelhos usados variaram de automático a esfigmomanometro aneroide, e também o número de medidas e intervalo entre as medidas; essas variacoes podem explicar diferencas nessas estatísticas.

Tabela 1 Características socioeconómicas, materna, pre-gressas e atuais dos pré-escolares. Diamantina, MG-2010

Variáveis Pré-escolares estudados

avaliadas (n = 230)

Feminino 141 61,3

Masculino 89 38,7

Peso ao nascimento (quilos)

>2,5 213 82,6

<2,5 17 7,4

Aleitamento materno (meses)

>6 169 73,5

<6 61 26,5

Excesso de peso atual (IMC)

Nao 190 82,6

Sim 40 17,4

Circunferencia da cinturaa

<p75 213 92,6

>p75 17 73,0

PAS da crianca (mmHg)

Normal 215 93,5

Elevada 15 6,5

PAD da crianca (mmHg)

Normal 221 96,1

Elevada 9 3,9

PAS/PAD da crianca (mmHg)

Normal 211 91,7

Elevada 19 8,3

PAS/PAD da mäe (mmHg)

Normal 191 84,5

Elevada 35 15,5

Renda per capita mensal (R$)b

<V SM 198 85,2

>v SM 34 14,8

SM, salário mínimo.

a Definiu-se como categoria de risco valores de CC acima do percentil 75.

b Salário mínimo vigente na época da pesquisa R$ 540.

Além disso, os pontos de corte usados para classificaccao de pressao arterial elevada variaram entre acima dos percentis 90 ou 95.

Um aspecto importante que deve ser citado é a possibili-dade de a medida da pressao ser resultante da síndrome do avental branco, uma vez que nesta pesquisa a pressao foi aferida em uma única ocasiao e para a maioria das crianccas era a primeira vez que a pressao arterial era medida. Esse dificultador, no entanto, deve ser compartilhado pela maio-ria das pesquisas de cunho transversal.

Vale destacar, todavia, que o cuidado no cumprimento da metodologia de afericao pode ter minimizado esse problema. Nesta pesquisa a PA foi avaliada no período matutino, tres medidas de pressao foram feitas com intervalo de cinco minutos cada e a média foi usada para análise. Além disso, o aparelho usado para essa medida dispoe de um sistema

Tabela 2 Odds ratio bruta (OR) e seus respectivos intervalos de confianca (IC) da análise das variáveis associadas a pressao arterial dos pré-escolares. Diamantina, MG-2010

Variáveis PASd PADd PAS/PADd

OR IC 95% p-valor OR bruta IC 95% p-valor OR IC 95% p-valor

Sexo Masculino 1 Feminino 0,7 0,2-2,2 0,51 1 0,8 0,2-2,9 0,72 1 0,7 0,3-1,7 0,42

Peso ao nascer (kg) >2,5 1 <2,5 5,6 1,6-20,2 0,008 1 3,9 0,7-20,6 0,10 1 2,6 0,7-10,1 0,16

Aleitamento total (meses)a >6 1 <6 4,7 1,6-13,8 0,005 1 2,3 0,6-8,8 0,23 1 3,5 1,3-9,0 0,001

Excesso de peso (Kg/m2) Nao 1 Sim 1,2 0,3-4,5 0,78 1 0,9 0,2-3,2 0,85

CC (cm)b <p75 1 >p75 2,0 0,4-9,9 0,37 1 1,5 0,3-7,3 0,58

PAS/PAD da mae (mmHg) Normal 1 Elevada 1,4 0,4-5,2 0,62 1 1,6 0,3-8,0 0,57 1 1,5 0,5-4,9 0,48

Renda per capita (R$)c >Vi sm 1 <Vi SM 0,7 0,2-2,5 0,55 - - 1 0,9 0,2-3,3 0,89

a Valor refere ao tempo total de aleitamento materno. b Refere-se a circunferencia da cintura. c Valor refere a um salário mínimo (SM) de R$ 540.

d Valores elevados foram aqueles superiores ao percentil 90 isoladamente (pressao arterial sistólica - PA ou diastólica - PAD) ou de ambas (PAS/PAD).

Tabela 3 Odds ratio ajustada (OR) e seus respectivos intervalos de confianca (IC) da análise das variáveis associadas a pressao arterial de pré-escolares. Diamantina, MG-2010

Variáveis PASa PAS/PADb

OR IC 95% p-valor OR IC 95% p-valor

Peso ao nascer (kg) >2,5 1 <2,5 6,0 1,5-23,3 0,009 1 2,6 0,6-10,5 0,171

Aleitamento total (meses) >6 1 <6 4,9 1,6-14,9 0,005 1 3,5 1,3-9,1 0,011

Nivel de significancia adotado 5% de probabilidade. a Pressao arterial sistólica (PAS) - Análise ajustada para tempo de aleitamento materno e peso ao nascimento. b Pressao arterial sistólica (PAS) e pressao arterial diastólica (PAD) - Análise ajustada para tempo de aleitamento materno e peso ao nascimento.

automático que detecta arritmia e sensor de movimento do corpo, dispositivos que orientaram as pesquisadoras sobre a possibilidade dessa síndrome.

Sobre a relacao entre tempo de aleitamento materno e pressao arterial, nossos achados corroboram outras pesquisas, que também identificaram associacao entre menor tempo de aleitamento materno e aumento da pressao

arterial na infancia.9,11,14,28,29 No presente estudo as chancas que amamentaram por periodo inferior a seis meses apre-sentaram um risco 4 vezes maior de PAS elevada e 3 vezes maior de PAS/PAD elevadas quando comparadas com foram amamentadas por periodo superior.

É importante ressaltar que o presente estudo é transversal aninhado numa coorte e isso confere maior consisténcia

aos achados, tendo em vista que a coleta dos dados de aleitamento materno foi prospectiva, ou seja, ela foi avaliada mensalmente no primeiro ano de vida das criancas, e isso reduziu um importante viés, que é o de memória das mâes sobre a prática alimentar de seus filhos.

Assim como neste estudo, Amorin et al.11 e Naghettini et al.28 observaram média de pressâo arterial sistólica maior entre as criancas com menor tempo de aleitamento materno quando comparadas com aquelas com maior tempo. Martin et al.14 também observaram resultado similar numa coorte de criancas do Reino Unido. Esses pesquisadores observaram que aos sete anos e meio as criancas que foram ama-mentadas apresentaram pressâo arterial sistólica 1,2 mmHg e diastólica de 0,9 mmHg menor quando comparadas com aquelas que nunca amamentaram.

No estudo de Lawlor et al.29 com estudantes entre 9 e 15 anos, os pesquisadores identificaram associacâo significativa entre período de amamentacâo e pressâo arterial, com efeito dose-resposta, ou seja, maiores reduces na pressâo arterial ocorreu entre os com maior tempo de aleitamento materno exclusivo.

Na presente pesquisa a prevalência de PAD elevada foi menor do que PAS elevada, o que justifica a ausência de associacâo com as variáveis estudadas. Esse resultado era esperado, já que o grupo estudado é de criancas em idade pré-escolar e sem diagnóstico de alguma doenca que poderia afetar o sistema circulatório. E considerando que a medida de pressâo arterial avalia a contracâo cardíaca (PAS) e o subsequente impulso sanguíneo às partes corporais extra-cardíacas (PAD), o qual é um indicativo da forca do fluxo nas artérias, nâo é comum verificar esse tipo de alteracâo em criancas consideradas hígidas, como nesta pesquisa.

Na perspectiva dos mecanismos propostos já citados neste estudo sobre o efeito do leite materno sobre a pressâo arterial,16 Forsyth et al.30 desenvolveram pesquisa na qual bebês foram alimentados no período neonatal com fórmula láctea suplementada com ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa. Esses pesquisadores observaram que no fim da infância essas criancas apresentaram uma reducâo de 3 mmHg na pressâo arterial, quando comparadas com criancas que receberam fórmula sem a suplementacâo com esses ácidos graxos.

Embora pesquisa desenvolvida por Yi et al.,8 com criancas chinesas, tenha identificado que história familiar de hiper-tensâo arterial, valores de circunferência da cintura e índice de massa corporal foram associados com pressâo arterial das criancas avaliadas, neste estudo essas variáveis nâo foram associadas com PA dos pré-escolares estudados. No presente estudo, foram variáveis de controle da relacâo principal investigada.

Uma limitaccâo do presente estudo é a sua transversali-dade, o que dificulta identificar relaccâo causal. Os ensaios clínicos randomizados e estudo de coorte sâo mais apropria-dos para identificaccâo de causalidade. Além disso, outras variáveis como alimentaccâo e hipertensâo paterna nâo foram estudadas e podem exercer efeito de confundimento na associacâo observada.

Os resultados desta pesquisa apontam que os pré--escolares amamentados por um período inferior a seis meses, quando comparados com os que amamentaram por um período superior, apresentaram maior chance de estar com pressâo arterial elevada, o que sugere efeito protetor

do aleitamento materno contra elevacäo da pressâo arterial na populacäo estudada.

Financiamento

Fundaçâo de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), processo APQ-00428-08).

Conflitos de interesse

Os autores declaram näo haver conflitos de interesse.

Referências

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