J Pediatr (Rio J). 2015;91(6):535-542
Jornal de
Pediatría
www.jped.com.br
ARTIGO ORIGINAL
Ultra-processed food consumption in children from a Basic Health Unit^
CrossMark
Karen Sparrenbergera*, Roberta Roggia Friedricha, Mariana Dihl Schiffnerb, Ilaine Schuchc e Mário Bernardes Wagnera
a Programa de Pós-Graduacao em Saúde da Crianca e do Adolescente, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil
b Departamento de Nutricao, Laboratório de Avaliacao Nutricional, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil
c Departamento de Nutricao, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Centro de Estudos em Alimentacao e Nutricao (CESAN), Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
Recebido em 18 de setembro de 2014; aceito em 5 de janeiro de 2015
KEYWORDS
Food intake; Nutritional status; Children; Fast-food
Abstract
Objectives: To evaluate the contribution of ultra-processed food (UPF) on the dietary consumption of children treated at a Basic Health Unit and the associated factors. Method: Cross-sectional study carried out with a convenience sample of 204 children, aged 2-10 years old, in Southern Brazil. Children's food intake was assessed using a 24-h recall questionnaire. Food items were classified as minimally processed, processed for culinary use, and ultra-processed. A semi-structured questionnaire was applied to collect socio-demographic and anthropometric variables. Overweight in children was classified using a Z score >2 for children younger than 5 and Z score >+1 for those aged between 5 and 10 years, using the body mass index for age.
Results: Overweight frequency was 34% (95% CI: 28-41%). Mean energy consumption was 1672.3kcal/day, with 47% (95% CI: 45-49%) coming from ultra-processed food. In the multiple linear regression model, maternal education (r = 0.23; p = 0.001) and child age (r = 0.40; p <0.001) were factors associated with a greater percentage of UPF in the diet (r = 0.42; p < 0.001). Additionally, a statistically significant trend for higher UPF consumption was observed when data were stratified by child age and maternal educational level (p <0.001).
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/jjped.2015.01.007
* Como citar este artigo: Sparrenberger K, Friedrich RR, Schiffner MD, Schuch I, Wagner MB. Ultra-processed food consumption in children from a Basic Health Unit. J Pediatr (Rio J). 2015;91:535-42.
* Autor para correspondencia.
E-mail: karen_sparrenberger@yahoo.com.br (K. Sparrenberger).
2255-5536/© 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
PALAVRAS-CHAVE
Consumo de alimentos; Estado nutricional; Criancas; Fast-foods
Conclusions: The contribution of UPF is significant in children's diets and age appears to be an important factor for the consumption of such products.
© 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights reserved.
Consumo de alimentos ultraprocessados entre criancas de uma Unidade Básica de Saúde
Resumo
Objetivos: Avaliar a contribuicao dos alimentos ultraprocessados no consumo alimentar de criancas pertencentes a área de abrangencia de uma unidade básica de saúde e os fatores associados.
Método: Estudo transversal com amostra de conveniencia de 204 criancas, entre dois a 10 anos, no Sul do Brasil. O consumo alimentar das criancas foi obtido por meio do Recordatorio Alimentar de 24 horas e, posteriormente, os alimentos foram classificados em minimamente processados, processados para culinária e ultraprocessados. Um questionário semiestruturado foi aplicado para a coleta das variáveis sociodemográficas e antropométricas. O excesso de peso das criancas foi definido por meio do escore Z > 2 para menores de cinco anos e Z > +1 para entre cinco e 10 anos segundo o Índice de Massa Corporal para idade.
Resultados: A frequencia de excesso de peso foi de 34% (IC95%: 28% a 41%). O consumo médio de energia foi de 1.672,3 kcal/dia, 47% (IC95%: 45% a 49%) provenientes dos ultraprocessados. No modelo de regressao linear múltipla, a escolaridade materna (r = 0,23; p = 0,001) e a idade da crianca (r = 0,40; p< 0,001) foram associados a maior contribuicao percentual dos ultraprocessados na alimentacao (R = 0,42; p<0,001). Adicionalmente foi observada uma tendencia linear significativa para maior consumo de ultraprocessados quando os dados foram estratificados pela idade da crianca e nível de escolaridade materna (p < 0,001).
Conclusoes: A contribuicao dos ultraprocessados é expressiva na alimentacao infantil e a idade da crianca mostrou-se como fator associado mais importante para o consumo desses produtos. © 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
Introducao
A prevalencia de obesidade e doencas crónicas nao trans-missíveis (DCNT) associadas á alimentacao tem crescido em ritmo acelerado e chamado atenccao para as taxas na populacao infantil.1 De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, de 2006, foi registrada uma pre-valencia nacional de sobrepeso de 6,6% em crianccas de até cinco anos.2 Já os resultados da Pesquisa de Orcamento Familiar (POF) mostraram que a prevalencia de excesso de peso variou de 25% a 40% em crianccas entre cinco e nove anos.3
As evidencias científicas apontam que o aumento nas taxas de excesso de peso e DCNT é decorrente, entre outros fatores, da inversao dos padroes alimentares.4 Essa inver-sao caracteriza- se pela substituicao cada vez maior da alimentaccao tradicional por alimentos e bebidas altamente processados e prontos para consumo.5
Em geral, esses produtos ultraprocessados apresentam alta densidade energética, excesso de gorduras totais e saturadas, maiores concentraccoes de accúcar e/ou sodio e baixo teor de fibras.5-7 Ainda, tem por característica, devido a sua composiccao e a seu processamento, ser hiperpalatáveis, com maior durabilidade e prontos para o consumo. Dessa forma, tem uma ampla vantagem comercial quando comparados com os alimentos in natura
ou minimamente processados, além de apresentar menor custo.5
Os dados da POF indicaram que a alimentacao das crianccas brasileiras é deficiente em frutas, legumes e verduras. Ainda, apresenta excesso de consumo de biscoitos, embutidos, bebidas com adicao de acúcar, sanduíches e salgados.8
Dentre os fatores que estao condicionados á qualidade da alimentaccao das crianccas, a renda e a escolaridade dos pais merecem destaque. As pesquisas sugerem que uma alimentaccao de qualidade está diretamente relacionada ao maior nível de escolaridade e á maior renda.9,10
Há evidencias entre excesso de peso na infancia e desenvolvimento precoce de diabetes mellitus, doencas cardiovasculares, dislipidemias e hipertensao na vida adulta.11 Assim, a infancia é um período crucial para a prevencao das DCNT por meio do incentivo e da adoccao de hábitos sau-dáveis que tendem a permanecer durante a fase adulta.12 Os pais exercem grande influencia no desenvolvimento des-ses hábitos pela criancca e devem ser exemplos positivos em relaccao á alimentaccao saudável associada á prática de exercício físico.13
Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a contribuicao dos alimentos ultraprocessados no consumo alimentar de criancas pertencentes á área de abrangencia de uma unidade básica de saúde e os fatores associados.
Métodos
Fez-se um estudo transversal descritivo, com uma amostra de conveniencia de criancas de dois a 10 anos que procuram atendimento com consultas previamente agendadas em uma unidade básica de saúde (UBS) de Porto Alegre, RS.
O presente trabalho faz parte de um estudo maior intitulado ''Obesidade e fatores de risco para doencas crónicas em criancas atendidas na Estratégia de Saúde da Familia em uma unidade básica de saúde de Porto Alegre, RS.'' Em termos de amostra, foram incluidas 204 criancas, o que for-neceu a este estudo um poder estatístico de 90% para testar uma diferenca de médias com magnitude de efeito (E/S) >0,5 desvio padrao para a= 0,05. Em dados categóricos, esse tamanho amostral forneceu um poder de 80% na comparacao de proporcóes com diferencas iguais ou maiores do que 20% vs. 40% para a = 0,05.
Foi incluida no estudo apenas uma crianca por núcleo familiar (mesma mae ou responsável, com v nculo biológico ou nao). Quando mais de uma crianca dessa faixa etária e do mesmo núcleo familiar compareceu á UBS, o responsável decidia qual participaria do estudo. Os cri-térios de exclusao foram: incapacidade física para tirar as medidas antropométricas, distúrbios do trato gastrointestinal ou orofaríngeo que acarretassem alteracóes do consumo alimentar e criancas com desordem do espectro autista.
A equipe de trabalho foi composta por nutricionistas e academicas de nutriccao previamente treinadas e a coleta dos dados ocorreu de setembro de 2012 a julho de 2013. As medidas antropométricas foram aferidas em duplicata com técnicas padronizadas conforme a Organizacao Mundial da Saúde.14 O peso (kg) foi obtido com balanca digital com capacidade para 200 kg e precisao de 50 g e para aferir a altura (cm) foi usado estadiómetro fixo á parede. Foram consideradas com excesso de peso (sobrepeso e obesidade) as crianccas menores de cinco anos com indicador de escore Z > 2 e as com cinco a 10 anos com indicador de escore Z > +1 de acordo com o IMC para idade.15 Os dados antropométricos foram analisados com os softwares Anthro® e Anthro Plus® (Anthro®, WHO AnthroPlus, 2007, EUA).
Para avaliar o consumo alimentar, foram usados dois recordatórios alimentares de 24 horas (R24h). O primeiro foi feito por meio de entrevista direta com a mae ou respon-sável. As perguntas referiram-se á alimentacao da crianca no dia anterior acerca do tipo, modo de preparo, da marca comercial, das medidas usadas e quantidades consumidas. Para minimizar o viés de memória e fortalecer a qualidade da informaccao sobre o tamanho das porccóes consumidas, foi usado um álbum de fotografias de utensilios e alimentos.16 Já o segundo R24h foi obtido via contato telefónico com intervalo de uma a oito semanas com a mesma pessoa que respondeu o primeiro e nao correspondente ao mesmo dia da semana do anterior, para, posteriormente, estimar a média de consumo.
A conversao dos alimentos relatados em medidas casei-ras para gramas foi feita com base na padronizaccao de Pinheiro.17 E a análise dos nutrientes foi feita de acordo com a Tabela Brasileira de Composicao dos Alimentos (TACO)18 e também a consulta de rótulos daqueles alimentos nao constantes na tabela. Posteriormente, os alimentos foram agrupados de acordo com a proposta de Monteiro et al.5 em
in natura ou minimamente processados (G1), processados para culinária (G2) e ultraprocessados (G3).
As variáveis estudadas foram: 1. Crianca: sexo, idade, peso, altura e consumo alimentar (calorias, prote nas, lip -dios, carboidratos, fibras, sódio, gordura saturada, gordura monoinsaturada, gordura poli-insaturada, gordura trans); 2. Mae: idade e escolaridade; 3. Núcleo familiar: renda per capita.
Para a análise das caracter sticas associadas á contribuiccao dos alimentos segundo o grau de proces-samento na alimentaccao das crianccas, foram usados os macronutrientes (carboidratos, lip deos e prote nas).
A escolaridade materna foi definida de acordo com a quantidade de anos de estudo. Essa variável foi dicotomi-zada em: < 11 anos (até ensino médio incompleto) ou > 11 anos (ensino médio completo e/ou superior). Já a renda familiar per capita foi avaliada em reais (R$) e, posteriormente, categorizada como R$ < 500 e R$ > 500.
Para as análises, as crianccas foram estratificadas em dois grupos: pré-escolares (dois a seis anos) e escolares (sete a 10 anos). O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre sob o n° 120124.
Os dados quantitativos foram inicialmente descritos em média e desvio padrao. Na presenca de assimetria, a mediana e a amplitude interquartil (P25; P75) foram usadas. A normalidade das distribuiccóes foi testada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Dados categóricos foram sumariza-dos com frequéncias absolutas e relativas. Para apresentar a tendéncia central das variáveis da contribuicao absoluta e percentual da ingestao dos nutrientes de acordo com o grau de processamento dos alimentos, foi usada média (erro padrao).
Para a comparacao das variáveis quantitativas foi usado o teste t de Student e na comparacao das proporcóes o teste do qui-quadrado. Em casos de assimetria, foi empregado o teste de Mann-Whitney.
Para avaliar a associaccao independente dos fatores em estudo que apresentaram significancia na análise univariada foi feita uma regressao linear múltipla com a contribuiccao percentual de alimentos ultraprocessados (AUP) como variá-vel dependente.
Além disso, foi feita uma análise estratificada pela esco-laridade da mae e idade da crianca. A avaliacao da tendéncia linear dessa estratificaccao em relaccao ao percentual de AUP foi por meio da regressao linear simples e para o excesso de peso por meio do qui-quadrado de tendéncia linear.
Considerou-se como nivel de significancia estatística a probabilidade inferior a 5% em todos os testes esta-belecidos. Os dados foram duplamente digitados com o software EpiData® (Epi Info, versao 6, Statistics Program for Public Health, 1995, EUA) com checagem de consis-téncia. As análises estatísticas foram feitas no software SPSS® (IBM SPSS Statistics para Windows, versao 20.0, 2011, EUA).
Resultados
A amostra final foi composta por 204 criancas, com uma perda de cinco, devido ao nao preenchimento do R24h. Quanto ás características da amostra, foi registrado um
Tabela 1 Distribuicao da amostra segundo as características sociodemográficas e antropométricas
Características Total Pré-escolar Grupo etário Escolar p
Sexo, n (%) (n = 204)
Feminino 102 (50,0) 66 (55,0) 36(43,4) 0,12
Idade, anos (n = 204) 5,9± 2,5 4,1 ±1,4 8,5 ±1,1 -
Peso, kg (n = 202) 26,4 ±10,8 20,2 ±5,6 35,2 ±10,4 -
Altura, cm (n=199) 199,3 ±16,5 107,9 ±10,7 134,9 ±8,4 -
Estado nutricional, n (%) (n=199)
Eutrofia 131 (66,0) 81 (70,0) 50 (60,2) 0,16
Excesso de peso 68 (34,0) 35 (30,0) 33 (39,8)
Idade materna, anos (n=187) 34,8 ±8,1 33,3 ±8,3 37,1 ±7,2 0,001
Escolaridade materna n (%) (n = 184)
< 11 anos de estudo 66 (36,0) 32 (29,0) 34 (46,0) 0,01
> 11 anos de estudo 118(64,0) 78(71,0) 40 (54,0)
Renda per capita, R$ (n= 182) 545,6 533,3 570, 8 0,51
(339,0; 757,5) (349,9; 757,50) (302,7; 783,7)
Os resultados sao expressos em média ±dp, frequencias (%) e mediana (P25; P75). Teste t de Student; qui-quadrado; p<0,05.
número maior de crianccas em idade escolar. Com relaccao ao sexo, as proporccoes foram identicas. A frequencia de excesso de peso na amostra avaliada foi de 34% (IC95%: 28% a 41%) (tabela 1).
Quanto á ingestao de energia (tabela 2), em média as chancas consumiram 1.672,3 kcal/dia e 47% (IC95%: 45% a 49%) foram derivadas do G3. A contribuyo dos alimentos do G1 se destaca na disponibilidade para o consumo de nutrientes essenciais, como proteína, fibra e gordura monoinsaturada. Já no G3, verificamos uma contribuiccao mais expressiva de lipídios, carboidratos, sodio e gordura trans.
Quando analisados os dados acerca da contribuicao per-centual do consumo diário de macronutrientes de acordo com o grau de processamento dos alimentos (tabela 3), observou-se que a ingestao de alimentos provenientes do G1 foi inversamente proporcional ao aumento da idade da chanca (p< 0,001). Em contrapartida, a proporcáo de consumo do G3 tem uma relaccao direta á medida que a idade da crianca aumenta (p< 0,001). Em relacao ás variáveis sexo, estado nutricional e renda per capita, nao foram observadas diferenccas significativas na contribuiccao dos diferentes grupos.
Ao comparar o percentual de consumo de macronutri-entes das crianccas e a escolaridade materna, foi observado que as chancas filhas de maes com escolaridade inferior a 11 anos tenderam a consumir mais alimentos do G1 (p = 0,09). Enquanto que aquelas filhas de maes com escolaridade > 11 anos tem maior contribuicao do G3 na alimentacao (p=0,04).
A partir do modelo de regressao linear múltipla, com o percentual de contribuiccao do G3 como variável dependente, os fatores escolaridade materna (r = 0,23; p = 0,001) e idade da chanca (r = 0,40; p< 0,001) apresentaram uma correlaccao múltipla moderada e foram fatores significantes para maior contribuicao do G3 na alimentacao das chancas (R= 0,42; p < 0,001).'
Adicionalmente, foi observado um crescimento no consumo de AUP quando os dados foram estratificados pela escolaridade materna e pela idade da chanca. Esse achado atingiu significancia estatística pelo teste de tendencia linear (p< 0,001). O excesso de peso também aumentou na comparacao dos grupos extremos nessa estratificacao (18 vs. 38%). No entanto, na análise de tendencia linear o crescimento atingiu significancia limítrofe (p = 0,079).
Discussao
Com base nos resultados, foi possível observar que há uma taxa elevada de excesso de peso nas chancas estudadas, o que chama atencao para esse agravo nutricional nessa faixa etária. O crescente aumento nos índices de sobrepeso e obesidade ainda na infancia tem sido relatado na literatura científica e relacionado como importante pre-ditor de obesidade e desenvolvimento de DCNT na vida adulta.19,20
A frequencia de excesso de peso encontrada neste traba-lho acompanha o observado no Brasil. Valores semelhantes foram verificados em um levantamento de base escolar em Itajaí, SC, cuja frequencia observada foi de 30% em chancas de seis a 11 anos.9 Os resultados de um estudo feito em áreas de abrangencia das unidades de saúde em Colombo, PR, indicaram menores frequencias, 12% das criancas entre dois e cinco anos tinham excesso de peso.21
Nesta pesquisa, a contribuicao calórica proveniente do G3 foi superior á encontrada para a populacao brasileira, estimada em 28%.6 Já para a populacao do Canadá, esse valor se torna mais expressivo ainda, representa 61% da energia diária.7 No entanto, nenhuma das pesquisas citadas avaliou exclusivamente criancas como o presente estudo.
Como observado (tabela 2), a contribuicao dos carboi-dratos e lipídeos na alimentacao das criancas foi mais expressiva no G3. Esse resultado reforca os achados de maior
Tabela 2 Contribuiçâo absoluta e percentual na ingestâo diária de nutrientes de acordo com o grau de processamento dos alimentos
Total (n = 204) G1 Média (EP) G2 Média (EP) G3 Média (EP)
Energia (kcal/d)
Absoluto 1672,3 (41,4) 761,8 (21,3) 96,9(5,8) 813,6(31,0)
Percentual 100 47,0 (1,0) 6,0(0,4) 47,0(1,1)
Proteína (g/d)
Absoluto 68 (2,1) 48,1 (1,6) 0,4(0,1) 19,6(1,0)
Percentual 100 70,6 (1,1) 0,6(0,1) 28,8(1,1)
Lipídeos (g/d)
Absoluto 56,2 (1,8) 21,5 (0,8) 6,3(0,3) 28,5 (1,5)
Percentual 100 40,6 (1,3) 12,0(0,6) 47,4(1,4)
Carboidrato (g/d)
Absoluto 206,5 (5,8) 80,3 (3,1) 10,2 (1,2) 115,9(4,5)
Percentual 100 39,7(1,2) 4,9(0,5) 55,3 (1,3)
Fibra (g/d)
Absoluto 14,6(0,5) 10,2 (0,4) 0,1 (0,0) 4,3 (0,3)
Percentual 100 68,7(1,3) 0,7(0,1) 30,6(1,3)
Sódio (mg/d)
Absoluto 2215,7(71,2) 348, 3 (20,1) 721,7(24,8) 1147,6(58,7)
Percentual 100 17,3 (0,8) 34,9(1,1) 47,8(1,4)
Gordura saturada (g/d)
Absoluto 20,7(0,7) 9,5 (0,4) 1,1 (0,1) 10,1 (0,5)
Percentual 100 47,4 (1,4) 5,6(0,3) 47,0(1,4)
Gordura monoinsaturada (g/d)
Absoluto 13,8(0,5) 6,9(0,3) 1,5 (0,1) 5,4(0,3)
Percentual 100 50,9 (1,4) 12,2(0,6) 36,9(1,5)
Godura poli-insaturada (g/d)
Absoluto 9,5(0,3) 2,5 (0,1) 3,6(0,2) 3,4(0,2)
Percentual 100 28,2 (1,3) 38,1 (1,6) 33,7(1,7)
Gordura trans (g/d)
Absoluto 1,4(0,1) 0,3 (0,0) 0,0(0,0) 1,0(0,1)
Percentual 100 29,5 (1,8) 5,2 (0,5) 65,3(1,9)
G1, alimentos in natura ou mínimamente processados; G2, ingredientes culinários; G3, alimentos ultraprocessados; EP, erro padrâo.
ingestao de alimentos ricos em gorduras e accúcares, como biscoitos recheados, produtos de panificacao, doces e refrigerantes pelo público infantil.22
Os resultados deste estudo também se assemelham aos de outras pesquisas. No Canadá, uma pesquisa comparou uma cesta básica composta por alimentos do G1 mais do G2 e outra apenas com os do G3. A cesta que nao continha os ultraprocessados apresentou maior teor de proteína (19 vs. 10%) e fibra (14,8 vs. 6,8 g), menor quantidade de gordura total (33,8 vs. 39,3%), acúcares livres (3,8 vs. 18,6%) e sódio (3,1 vs. 3,8g).7 As pesquisas brasileiras indicam achados semelhantes em relacao a esses nutrientes.5,23
Outro aspecto desfavorável dos AUP é serem ricos em sódio. A ingestao de sódio em excesso está associada ao desenvolvimento de hipertensao arterial.24 A alteracao da pressao arterial na infancia tem uma associaccao com esse problema na vida adulta.25
Ainda cabe salientar que o sal usado na preparaccao dos alimentos ou á mesa é componente do G2. Portanto, somado
ao sódio intrínseco dos AUP eleva a estimativa de ingestâo diária de sódio pelas criancas em estudo.
De acordo com Sarno et al.,24 o excesso de sódio consumido pode ser motivado pelo aumento do consumo de alimentos industrializados. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos demonstrou que, do total de sódio consumido diariamente, 44% foram provenientes de pâes, carnes pro-cessadas, pizzas, sopas, sanduíches, queijos e pratos mistos à base de massa ou carnes.26
No Brasil, as estimativas nâo diferem dos demais países. Os dados da POF apontam que o consumo de AUP (pizza, carnes processadas, salgadinhos, biscoitos recheados e refrigerantes) esteve relacionado com maior ingestâo de sódio.8 Vitolo et al.27 sugerem que há uma associacâo positiva entre a ingestâo de sódio e a pressâo arterial alterada de pré-escolares. As pesquisadoras destacam o fato de nâo terem avaliado o sal adicionado às preparacoes e, portanto, acreditam que a principal fonte desse nutriente foi proveniente dos AUP.
Tabela 3 Características associadas à contribuiçâo percentual no consumo de macronutrientes de acordo com o grau de processamento dos alimentos
Grupo etário Pré-escolar Escolar Valor p
Sexo Masculino Feminino Valor p
Estado nutricional, IMC/idade Eutrofia
Excesso de peso Valor p
Escolaridade materna,
< 11 anos de estudo
> 11 anos de estudo Valor p
Renda per capita, R$
> 500 Valor p
121 83
102 102
131 68
66 118
77 105
50,9(1,2) 40,6(1,6) < 0,001
45,7(1,5) 47,7(1,4) 0,33
47,0(1,3) 45,2(1,7) 0,41
49,4(1,8) 45,5 (1,4) 0,09
46,8(1,6) 46,9(1,5) 0,95
5,5 (0,6) 4,7(0,5) 0,60
5.1 (0,6)
5.2 (0,5) 0,65
4,8 (0,4) 5,8 (0,8) 0,55
5,8 (0,8) 4,7(0,5) 0,11
5.3 (0,6) 4,7(0,5)
43,7(1,4) 54,7(1,7) < 0,001
49,2 (1,6)
47.1 (1,5) 0,36
48.2 (1,4) 49,0(2,0) 0,73
44,8(1,9) 49,8(1,5) 0,04
48,0(1,7) 48,4(1,6) 0,85
G1, alimentos in natura ou minimamente processados; G2, ingredientes culinários; G3, alimentos ultraprocessados; IMC, índice de massa corporal. Os resultados sâo expressos em média (erro padrâo). p < 0,05. a Teste t de Student. b Mann-Whitney.
Os resultados acerca do consumo de fibras proveniente dos AUP reforcam o que vem sendo apresentado na literatura científica. Ou seja, os alimentos pertencentes a esse grupo sao fontes extremamente pobres desse nutriente.5
Além disso, os AUP foram a principal fonte de gorduras trans, contida na alimentacao das chancas. Esse tipo de gordura vem sendo usado em ampla escala pela indús-tria alimentícia com a finalidade de melhorar o aspecto físico e sensorial dos produtos. O consumo em excesso está associado a aumento do LDL-colesterol, a risco de doenca cardiovascular, a diabetes e á hipertensao.28
Apesar de os resultados nao atingirem significancia esta-tística pelo teste de tendencia linear, entre excesso de peso e as variáveis idade da chanca e escolaridade materna, o que pode ter ocorrido devido ao número pequeno de crianccas em cada grupo, observa-se (figura 1) que há um aumento crescente nas tres primeiras categorias. De forma similar, os dados apresentados em estudos epidemiológicos indicam que há uma relaccao direta entre o excesso de peso em chancas e o nível de escolaridade da mae.19
O maior consumo de macronutrientes derivados do G3 pelas crianccas em idade escolar, quando comparadas com pré-escolares, pode ser explicado pelo fato de que essas tem maior autonomia nas escolhas alimentares. Sendo assim, sao mais susceptíveis a sofrer influencias do meio em que estao inseridas, que lhes oferece opccoes de escolhas alimentares pouco saudáveis.29
Em nosso estudo, ao contrário do que indicam algu-mas referencias,9,30 o maior nível de escolaridade materna
mostrou-se associado a uma maior contribuyo de AUP na alimentaccao das crianccas. No entanto, essa associaccao com a escolaridade materna foi de magnitude bastante fraca (r = 0,23) e consideravelmente menor do que a associacao observada entre o consumo de AUP e a idade da criancca (r = 0,40).
p(tendência) <0,001
p(tendência)=0,079
< 11 anos >11 anos < 11 anos > 11 anos Escolaridade
meterna Grupo etário
Pré-escolar
Escolar
Figura 1 Percentual da contribuyo dos alimentos ultra-processados e o excesso de peso das crianccas segundo a escolaridade materna e o grupo etário. Tendencia de consumo de ultraprocessados: regressao linear simples; Tendencia de excesso de peso: qui-quadrado de tendencia linear.
Além disso, diferentemente do que relatam algumas pesquisas,10 nosso estudo nao encontrou uma associacao de maior consumo de AUP com menor renda. Entretanto, esse achado pode ser explicado pelo fato de que uma amostra de usuários de uma UBS tem renda relativamente baixa no contexto económico da sociedade. Assim, essa relativa homogeneidade leva a pouca variabilidade de renda no grupo, o que dificulta (ou distorce) a deteccao de associacóes com esse fator e com outros que sejam colineares (p.e., escolaridade).
Segundo o estudo de Vitolo et al.,27 ao avaliar criancas de baixa renda em uma cidade da regiao metropolitana do Rio Grande do Sul, contatou-se que os AUP contribuíram em grande parte na alimentaccao. Dentre os mais consumidos, destacam-se paes (78,8%), bebidas acucaradas (75,6%), snacks doces (63,2%), biscoitos (52,5%), embutidos (42,9%), chips (17,7%) e macarrao instantáneo (11,0%). No entanto, é válido destacar que a maioria dos paes (p.e. pao francés) veicula ferro e ácido fólico em sua composicao, nutrientes importantes na alimentaccao das crianccas. Esse tipo de alimento, em quantidades adequadas, é parte de uma alimentaccao saudável.
No entanto, há indicativos de que o aumento do consumo ultraprocessados atinge tanto a populaccao com menor renda quanto a com renda superior. E sugere-se que a reducao do consumo de alimentos do G1 é mais significativa entre a renda mais elevada.
Sobre as limitaccóes do trabalho, tem-se que os resultados nao podem ser generalizados para outras populaccóes, já que foi incluída uma populaccao específica vinculada á UBS. Outro ponto a salientar é que este estudo tem um tama-nho de amostra de 204 crianccas e em algumas situaccóes as diferencas observadas podem nao ter atingido significancia estatística devido á limitaccao do poder estatístico. Ainda, pontua-se sobre o método usado para estimar a ingestao diária (R24h), que pode apresentar o viés de subestimar ou superestimar o real consumo, bem como nao refletir neces-sariamente o hábito alimentar. Além disso, pode existir o viés de memória, visto que o entrevistado tem de relatar o consumo referente ao dia anterior.
Conclui-se, com este trabalho, que a contribuicao dos AUP na alimentacao das criancas estudadas é expressiva, evidencia uma qualidade ruim da alimentaccao em termos da presencca de alimentos e nutrientes protetores, e de risco á saúde. Ainda, observou-se maior frequéncia de consumo dos AUP em crianccas em idade escolar e filhas de maes com maior nível de escolaridade. Destaca-se também a elevada frequéncia de excesso de peso encontrada na populaccao em estudo.
Assim, reforca-se a necessidade de acóes de educacao alimentar e nutricional voltadas para as crianccas e os pais, pois a infancia é um importante período para o incentivo e desenvolvimento de práticas alimentares saudáveis. E, tam-bém, que novos estudos sejam feitos para avaliar o impacto dos AUP na qualidade da alimentacao e no estado nutricional das crianccas.
Conflitos de interesse
Os autores declaram náo haver conflitos de interesse.
Agradecimentos
Karen Sparrenberger foi financiada pela bolsa de mestrado
da Coordenacáo de Aperfeicoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). Programa de Pós-Graduacáo em Saúde da
Crianca e do Adolescente, Faculdade de Medicina, Universi-
dade Federal do Rio Grande do Sul.
Referencias
1. Vernarelli JA, Mitchell DC, Hartman TJ, Rolls BJ. Dietary energy density is associated with body weight status and vegetable intake in U.S. children. J Nutr. 2011;141:2204-10.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretária de Ciencia, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciencia e Tecnologia. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Crianca e da Mulher (PNDS-2006). Brasilia: Ministério da Saúde; 2009.
3. Brasil. Ministério do Planejamento, Ornamento e Gestáo. Pesquisa de Orcamentos Familiares 2008-2009: Antropometria e estado nutricional de criancas, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística; 2010.
4. Enes CC, Slater B. Obesidade na adolescencia e seus principais fatores determinantes. Rev Bras Epidemiol. 2010;13:163-71.
5. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, Castro IR, Cannon G. A new classification of foods based on the extent and purpose of their processing. Cad Saude Publica. 2010;26:2039-49.
6. Martins AP, Levy RB, Claro RM, Moubarac JC, Monteiro CA. Participacáo crescente de produtos ultraprocessados na dieta brasileira (1987-2009). Rev Saude Publica. 2013;47:656-65.
7. Moubarac JC, Martins AP, Claro RM, Levy RB, Cannon G, Monteiro CA. Consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health. Evidence from Canada. Public Health Nutr. 2013;16:2240-8.
8. Brasil. Ministério do Planejamento, Orcamento e Gestáo. Pesquisa de Orcamentos Familiares 2008-2009: Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística; 2010.
9. Momm N, Hofelmann DA. Qualidade da dieta e fatores asso-ciados em criancas matriculadas em uma escola municipal de Itajai, Santa Catarina. Cad Saude Coletiva. 2014;22:32-9.
10. Zarnowiecki DM, Dollman J, Parletta N. Associations between predictors of children' dietary intake and socioeconomic position: a systematic review of the literature. Obes Rev. 2014;15:375-91.
11. Reilly JJ, Kelly J. Long-term impact of overweight and obesity in childhood and adolescence on morbidity and premature mortality in adulthood: systematic review. Int J Obes. 2011;35:891 -8.
12. Peters J, Dollman J, Petkov J, Parletta N. Associations between parenting styles and nutrition knowledge and 2-5-year-old children's fruit, vegetable and non-core food consumption. Public Health Nutr. 2013;16:1979-87.
13. Friedrich RR, Schuch I, Wagner MB. Efeitode intervenes sobre o índice de massa corporal em escolares. Rev Saúde Pública. 2012;46:551-60.
14. World Health Organization (WHO). Physical status: the use and interpretation of anthropometry: report of a WHO Expert Committee. Geneva: World Health Organization; 1995.
15. World Health Organization (WHO). Department of Nutrition for Health and, Development Child Growth Standards: length/height-for-age, weight-for age, weight-for--length, weight-for-height and body mass index-for-age. Methods and development. Geneva: World Health Organization; 2006.
16. Zaboto CB. Registro fotográfico para inquéritos dietéticos: utensilios e porcoes. Campinas: Nepa-Unicamp; 1996.
17. Pinheiro AB. Tabela para avaliajao do consumo alimentar em medidas caseiras. 4 ed. Sao Paulo: Atheneu; 2004.
18. Nepa-Unicamp. Tabela Brasileira de Composicao dos Alimentos (Taco). 4 ed. Campinas: Nepa-Unicamp; 2011.
19. Silveira JA, Colugnati FA, Cocetti M, Taddei JA. Secular trends and factors associated with overweight among Brazilian preschool children: PNSN-1989, PNDS-1996, and 2006/07. J Pediatr (Rio J). 2014;90:258-66.
20. ParkMH, Falconer C, Viner RM, Kinra S. The impact of childhood obesity on morbidity and mortality in adulthood: a systematic review. Obes Rev. 2012;13:985-1000.
21. Monteiro F, Schmidt ST, Costa IB, Almeida CC, Matuda NS. Bolsa Familia: inseguranca alimentar e nutricional de criancas menores de cinco anos. Cienc Saude Coletiva. 2014;19:1347-58.
22. Nobre LN, Lamounier JA, Franceschini SC. Preschool children dietary patterns and associated factors. J Pediatr (Rio J). 2012;88:129-36.
23. Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, de Castro IR, Cannon G. Increasing consumption of ultra-processed foods and likely impact on human health: evidence from Brazil. Public Health Nutr. 2011;14:5-13.
24. Sarno F, Claro RM, Levy RB, Bandoni DH, Monteiro CA. Estimativa de consumo de sódio pela populacao brasileira, 2008-2009. Rev Saude Publica. 2013;47:571-8.
25. Pinto SL, Silva RdC, Priore SE, Assis AM, Pinto Ede J. Prevalén-cia de pré-hipertensao e de hipertensao arterial e avaliacao de fatores associados em criancas e adolescentes de escolas públicas de Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27:1065-75.
26. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Vital signs: food categories contributing the most to sodium consumption - United States, 2007-2008. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2012;61:92-8.
27. Vitolo MR, da Costa Louzada ML, Rauber F, Campagnolo PD. Risk factors for high blood pressure in low income children aged 3-4 years. Eur J Pediatr. 2013;172:1097-103.
28. Santos RD, Gagliardi AC, Xavier HT, Magnoni CD, Cassani R, Lottenberg AM, et al. I Diretriz sobre o consumo de gorduras e saúde cardiovascular. Arq Bras Cardiol. 2013;100: 1 -40.
29. Rossi A, Moreira EA, Rauen MS. Determinantes do comportamiento alimentar: uma revisao com enfoque na familia. Rev Nutrido. 2008;21:739-48.
30. Wijtzes AI, Jansen W, Jansen PW, Jaddoe VW, Hofman A, Raat H. Maternal educational level and preschool children's consumption of high-calorie snacks and sugar-containing beverages: mediation by the family food environment. Prev Med. 2013;57:607-12.