J Pediatr (Rio J). 2014;90(4):396-402
Jornal de
Pediatría
www.jped.com.br
ARTIGO ORIGINAL
Association between breastfeeding and breathing pattern in children: a sectional study^'^
CrossMark
Teresinha S.P. Lopes3 *, Lúcia F.A.D. Mouraa e Maria C.M.P. Lima
a Setor de Odontopediatria, Departamento de Patología e Clínica Odontológica, Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil b Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitacao, Faculdade de Ciencias Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
Recebido em 28 de agosto de 2013; aceito em 20 de novembro de 2013
KEYWORDS
Breastfeeding; Mouth breathing; Respiration; Sucking behavior
Abstract
Objective: to determine the prevalence of mouth breathing and to associate the history of breastfeeding with breathing patterns in children.
Methods: this was an observational study with 252 children of both genders, aged 30 to 48 months, who participated in a dental care program for mothers and newborns. As an instrument of data collection, a semi-structured questionnaire was administered to the children's mothers assessing the form and duration of breastfeeding and the oral habits of non-nutritive sucking. To determine the breathing patterns that the children had developed, medical history and clinical examination were used. Statistical analysis was conducted to examine the effects of exposure on the primary outcome (mouth breathing), and the prevalence ratio was calculated with a 95% confidence interval.
Results: of the total sample, 43.1% of the children were mouth breathers, 48.4% had been breastfed exclusively until six months of age or more, and 27.4% had non-nutritive sucking habits. Statistically significant associations were found for bottle-feeding (p< 0.001) and oral habits of non-nutritive sucking (p = 0.009), with an increased likelihood of children exhibiting a predominantly oral breathing pattern. A statistically significant association was also observed between a longer duration of exclusive breastfeeding and a nasal breathing pattern presented by children.
Conclusion: an increased duration of exclusive breastfeeding lowers the chances of children exhibiting a predominantly oral breathing pattern.
© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights reserved.
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/jjped.2013.12.011
* Como citar este artigo: Lopes TS, Moura LF, Lima MC. Association between breastfeeding and breathing pattern in children: a sectional study. J Pediatr (Rio J). 2014;90:396-402.
** Trabalho atrelado a Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil e Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
* Autor para correspondencia.
E-mail: teresinhaspl@uol.com.br (T.S.P. Lopes).
2255-5536/© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
Associacao entre amamentacao e padrao de respiracao em criancas: estudo transversal
Resumo
Objetivo: determinar a prevalencia da respiracao bucal e associar o histórico de amamentacao com os padroes de respiracao em criancas.
Métodos: este foi um estudo observacional com 252 criancas de ambos os sexos, com idades entre 30-48 meses, que participaram de um programa de assistencia odontológica para maes e recém-nascidos. Como um instrumento de coleta de dados, foi entregue um questionário semies-truturado para as maes das criancas com perguntas sobre a forma e a duracao da amamentacao e os hábitos bucais de succao nao nutritiva. Para determinar os padroes de respiracao desenvolvidos nas criancas, foram utilizados o histórico médico e o exame clínico. Foi realizada uma análise estatística para determinar os efeitos de exposicao no principal resultado (respiracao bucal), e o índice de prevalencia foi calculado com um intervalo de confianca de 95%. Resultados: do total da amostra, 43,1% das criancas apresentaram respiracao bucal, 48,4% foram amamentados exclusivamente até os seis meses de idade ou mais e 27,4% apresentaram hábitos de succao nao nutritiva. Foram encontradas associacoes estatisticamente significativas para uso de mamadeira (p< 0,001) e hábitos bucais de succao nao nutritiva (p = 0,009), com um aumento da probabilidade de as criancas apresentarem um padrao de respiracao predominantemente bucal. Também foi observada uma associacao estatisticamente significativa entre uma maior duracao do aleitamento materno exclusivo e um padrao de respiracao bucal apresentado pelas criancas.
Conclusao: uma maior duracao do aleitamento materno exclusivo diminui as chances de as crianccas apresentarem um padrao de respiraccao predominantemente bucal. © 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
PALAVRAS-CHAVE
Amamentacäo; Respiraçâo bucal; Respiracäo; Comportamento de succäo
Introduçâo
A nutriçâo desempenha um papel importante no crescimento e desenvolvimento das crianças. O leite materno contém nutrientes essenciais para os recém-nascidos nos primeiros meses de vida e possui importantes funçoes nos dominios socioeconómico e psicoemocional, e exclusivamente a amamentacâo, que é recomendada nos primeiros seis meses de vida e deve continuar até os dois anos de idade ou mais.1,2 Os mecanismos de amamentaçcâo em recém-nascidos sâo complexos e exigem do sistema nervoso central a coordenaçcâo de procedimentos de succçâo, respiraçcâo e deglutiçâo.3,4 Criancas em aleitamento materno exclusivo (AME) durante os primeiros meses de vida apresentam um padrâo fisiológico de succâo com mais movimentos e melhor coordenados, em comparaçcâo aos alimentados artificialmente por mamadeiras. Esse fenómeno ocorre devido aos músculos orofaciais serem menos exercitados em neonatos alimentados artificialmente, tornando-os mais flácidos e hipotônicos.5
Os movimentos de succâo realizados pelos neonatos ao serem amamentados favorecem um equilibrio nas forçcas musculares periorais e sâo os principais fatores de crescimento adequado dos ossos e dos músculos orofa-ciais, promovendo o desenvolvimento normal do sistema estomatognático.6,7 Quando ocorre desmame precoce, a crianca nâo consegue realizar movimentos fisiológicos e succâo sincronizada e, em geral, apresenta uma tendência para o desenvolvimento de hábitos nocivos, como chupar chupeta ou os dedos, o que pode interferir no processo de respiraçâo nasal.8
A respiracao é uma funcao vital de organismos vivos, e, em humanos, ela ocorre fisiologicamente pelo nariz.9 Após o nascimento, vários fatores podem interferir no padrao de respiraccao normal, e esses fatores podem ser físicos condicionados, como predisposicoes anatómicas, ou podem estar presentes no ambiente, como condiccoes climáticas, posiccao de dormir, alimentaccao artificial e hábitos bucais, inclusive succao nao nutritiva.10
Crianccas que respiram pela boca sao mais predispostas ao desenvolvimento de alteraccoes faciais, mau posicionamento dentário, postura inadequada e distúrbios da fala.11 Essas condiccoes ainda podem desenvolver e desencadear doenccas cardiorrespiratórias, endócrinas, distúrbios de aprendizado, distúrbios do sono e transtornos do humor, que afetam significativa e negativamente a saúde geral e a qualidade de vida.5,12"14 Estudos demonstraram que criancas que respi-ram pelo nariz sao amamentadas por tempos de duraccao mais longos, já que, quando amamentada, a crianca man-tém seus lábios fechados e coloca a língua em uma postura adequada e, como consequencia, estabelece um padrao correto de respiracao.15,16 Faltam estudos examinando de forma precisa essa relaccao.
Este estudo visou determinar a prevalencia de respiraccao pela boca em criancas associada á duracao e tipo de amamentaccao.
Métodos
Este foi um estudo observacional, transversal, analítico descritivo composto por crianccas com idades entre 30 e
48 meses, que participaram de um programa de assistencia odontológica chamado Programa Preventivo para Mulheres Grávidas e Bebes (PPGB). O PPGB é um projeto de exten-sao do curso de odontologia da Universidade do Piauí na Iniciativa Hospital Amigo da Chanca (IHAC), na Maternidade Evangelina Rosa, Teresina, Piauí.
Do total de prontuários médicos de 3.374 criancas atendidas no PPGB, a priori, 625 registros atenderam aos critérios de pesquisa, e, a partir desses dados, foi calculado o tama-nho da amostra. Para selecao, os critérios de inclusao foram os que seguem: denticao decidua completa, peso normal ao nascer, nascido a termo e boa saúde. Foram excluidas as crianccas que apresentaram perda de dentes, doenccas como as dentofaciais, grandes lesoes de cárie que compromete-ram oclusao, sindrómicas, distúrbios neurológicos, fissuras labiais, fendas palatinas; ou que permaneceram na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.
Este artigo é extraído de um estudo maior sobre as implicaccoes de desmame do sistema motor oral, com outras variáveis. Para calcular o tamanho da amostra com a pre-cisao desejada acerca da prevalencia e para possibilitar um intervalo de confiancca de 95%, consideramos uma prevalen-cia de 50% e um erro de 4%. Os cálculos foram preparados utilizando a versao Epi-Info 6.04b (CDC, Geórgia, EUA) no módulo StatCalc, que utiliza a fórmula: s=[p (1-p)] * z2 / d2, onde p é a prevalencia na populacao, z é o per-centil da distribuiccao normal padrao e d é a amplitude máxima do valor absoluto da diferenca entre a estimativa e o valor populacional, ajustado por um fator de correcao para populacoes finitas. O resultado indicou que foi necessária uma amostra de 252 crianccas para a pesquisa.
Uma correspondencia foi enviada aos pais das crianccas identificadas, convidando-os para trazer seus filhos para uma avaliacao de saúde, onde foram informados dos objetivos do estudo. Entregamos um questionário semiestruturado para as maes das crianccas com perguntas abertas relacionadas aos hábitos diários de alimentaccao e ao uso de mamadeira, e perguntas fechadas para caracterizar os seguintes aspectos da populaccao: sexo, idade, tipo e duraccao da amamentaccao e presenca de hábitos bucais de succao nutritiva e nao nutritiva nas crianccas. A coleta de dados foi feita no período de abril de 2010 a junho de 2011, pelo pesquisador, previamente treinado e calibrado, auxiliado por estagiários do PPGB, alunos de odontologia da UFPI, na medida em que as crianccas voltaram para o projeto.
Foram utilizadas no estudo as definiccoes de amamentacao recomendadas pela Organizacao Mundial de Saúde (OMS).17 Para este trabalho, escolhemos tres dos seguintes termos: aleitamento materno exclusivo (AME), aleitamento materno (AM) e uso de mamadeira (UM). O primeiro foi definido como alimentacao na qual a crianca recebe leite materno diretamente do peito ou leite extraído, sem outro líquido ou alimento sólido, exceto vitamina em gotas; no segundo, a crianca foi alimentada por leite materno (diretamente do peito ou extraído) independentemente de ter recebido outros alimentos; e, no terceiro, a crianca recebeu qualquer tipo de alimento líquido ou semissólido por mamadeira.
Na ausencia de um único protocolo clínico para o diagnóstico de respiracao bucal, foram utilizados dois métodos. O primeiro foi um histórico por escrito, conforme estabele-cido por Abreu et al.,13 que preconiza os principais sinais das
seguintes manifestares clínicas: ronco, dormir com a boca aberta, babar no travesseiro, nariz entupido todos os dias e sinais menores de coceira no nariz, nariz entupido ocasionalmente, dificuldade de respiracäo à noite ou sono agitado, irritabilidade ou sonolência durante o dia, dificuldade ou atraso na degluticäo de alimentos, episodios de infeccäo na garganta, infeccäo no ouvido ou sinusite e dificuldade na escola ou repeticäo. A ocorrência de dois importantes sinais ou dois sinais menores no histórico do paciente é com-patível com respiracäo bucal (RB).
O segundo método utilizado foi estabelecido pela observacäo e palpacäo do músculo mentoniano. Foi avali-ada a relacäo dos lábios superiores e inferiores na posicäo de descanso da língua, e foi realizada a análise da respiracäo da criança enquanto a mesma estava em uma posicäo mais relaxada, de acordo com o método estabelecido por Moyers.18 O teste foi indicativo de respiracäo bucal caso a crianca apresentasse ausência de selamento labial.
Com esses dois métodos diagnóstico, foi determinado o tipo de padräo de respiracäo das criancas, e criancas que apresentaram características compatíveis com respiracäo bucal em ambos os métodos foram consideradas que res-piravam pela boca.
Um questionário pré-teste foi entregue para 20 mäes que näo participaram do estudo em uma tentativa de fazer os ajustes necessários para um melhor entendimento das questoes abordadas no estudo. Os responsáveis legais assinaram o formulário de consentimento de acordo com as recomendaçoes da Resolucäo 196/96 do Ministério da Saúde e da Declaracäo de Helsinque, que regulamentam as dire-trizes e padroes de pesquisa envolvendo seres humanos. O estudo foi aprovado pelo comité de Ética em Pesquisa da UFPI (Parecer No. CAAE 0039.0.045.000-10).
Os dados foram processados e analisados utilizando a versäo Stata 11.0 (Stata Corporation, College Station, TX, EUA). Para avaliar a associacäo entre as variáveis foi utilizado o teste Qui-quadrado. Além disso, foi realizada uma análise multivariada com variáveis com p < 0,20 na análise bivariada, utilizando a regressäo de Poisson para verificar as variáveis independentes relacionadas à presençca de respiracäo bucal, controladas por possíveis fatores de con-fusäo (IP ajustado). Os resultados foram apresentados por índices de prevaléncia (IP) e pelo intervalo de confianca de 95%, e as associates foram verificadas pelo teste de Wald. Os resultados com p < 0,05 foram considerados estatistica-mente significativos.
Resultados
A populacâo estudada foi composta por 139 crianças do sexo masculino (55,2%) e 113 criancas do sexo feminino (44,8%), com idades entre 30 e 48 meses, com idade média de 39,3 (±4,7) meses e um peso médio ao nascer de 3.860,1 (±619,7) gramas; 114 (45,2%) criancas eram de famílias que recebiam 2-3 salários mínimos. Com relacâo à amamentacâo, 122 (48,4%) criancas foram amamenta-das exclusivamente até os seis meses de idade ou mais, e 199 (79,0%) foram amamentadas até os 24 meses. O padrâo de respiracçâo apresentado pelas criançcas, considerando o teste de sinais, e o tipo de selamento labial foram
Tabela 1 Prevalência de um padrâo predominante de respiracâo bucal de acordo com o sexo e a idade (n = 109)
predominantemente bucais, com 109 (43,1%) criancas, e nasais, com 143 (56,9%) criancas.
De acordo com o histórico relatado por escrito pelas mâes, os seguintes sinais foram os mais frequentes: dormir com os lábios abertos, 119 (47,2%) casos; babar no traves-seiro, 100 (39,7%) casos; e roncar 95 (37,7%) casos. Os sinais insignificantes mais prevalentes foram atraso na degluticâo de alimentos em 78 (30,9%) casos, dificuldade de respiracâo ou sono noturno agitado em 74 (29,3%) casos e episódios de infecçâo na garganta, otite ou sinusite em 62 (24,6%) casos. O exame clínico demonstrou que 125 (49,6%) criancas nâo apresentaram selamento labial.
A tabela 1 mostra os padróes de respiracâo bucal (RB) por sexo e faixa etária. Nâo foi observada nenhuma associacâo entre padrâo de respiracâo e sexo (p = 0,631) ou idade (p=0,910).
As tabelas 2 e 3 mostram que houve uma associacâo estatisticamente significativa entre aleitamento materno exclusivo (p = 0,007), amamentacâo (p = 0,010), uso de mamadeira (p< 0,001) e hábitos de succâo nâo nutritiva (p = 0,009) e o tipo de padrâo de respiracâo das criancas.
A tabela 4 apresenta o modelo multivariado utilizando a regressâo de Poisson com variância robusta para os fatores independentes associados ao padrâo de respiracâo predominante, mostrando que uso de mamadeira (p = 0,001), hábitos
de succao nao nutritiva (p = 0,048), aleitamento materno exclusivo por 2-3 meses (p = 0,045) e 4-5 meses (p = 0,043) sao os únicos fatores independentes estatisticamente significativos no modelo.
Discussao
Os achados deste estudo fornecem informales importantes sobre a relacao entre amamentacao e padrao de respiracao das criancas. Sao raros na literatura os estudos que analisam essa relacao e a prevalencia de respiracao bucal durante a infancia. Foram realizadas algumas pesquisas com criancas em idade escolar, porém os vieses de memoria quase sempre estao presentes; outros estudos foram realizados utilizando amostras de conveniencia.7,12,19 Algumas amostras podem ser utilizadas principalmente devido ás dificuldades técnicas associadas a métodos operacionais ou comumente utilizados para o diagnóstico de respiracao bucal, que sao exames complexos feitos em centros de cuidados terciários.7,16,20 O diagnóstico de respiracao bucal é feito clinicamente por meio da anamnese detalhada, pois as maes normalmente nao relatam sinais como roncar, dormir com a boca aberta e babar no travesseiro em visitas de rotina.21
Neste estudo, utilizamos o protocolo de entrevista pro-posto por Abreu et al.13 em associacao á técnica proposta por Moyers;18 esses testes podem ser feitos por profissionais em várias áreas de cuidados de saúde primários. Após o diagnóstico precoce de respiracao bucal, é importante encaminhar o paciente para tratamento intervencionista, pois respiraccao bucal foi associada a vários efeitos adversos.13,15,20"22 Pouco menos de metade das crianccas examinadas apresentaram padrao de respiraccao predominantemente bucal, o que é uma prevalencia elevada, porém menor que a encontrada por outros autores, incluindo Abreu et al.,13 Felcal et al.19 e Limeira et al.15 Esses estudos foram realizados com criancas em idade escolar, ao passo que no presente estudo a maioria dos individuos eram criancas com tres anos de idade.
No presente trabalho, foram observadas relacoes estatisticamente significativas para as duracoes de aleitamento
Tabela 2 Associacâo entre padróes de respiraçao e tipo de amamentacao (n = 252)
Tipos de amamentacâo (meses) Padróes de respiraçao Total pa
n Oral % Nasal n % n %
AME 0,007
< 1 11 32,4 23 67,6 34 100
2-3 26 66,7 13 33,3 39 100
4-5 38 66,7 19 33,3 57 100
> 6 68 55,7 54 44,3 122 100
AM 0,010
1-6 16 37,2 27 62,8 43 100
7-12 55 55,0 45 45,0 100 100
13-24 39 69,6 17 30,4 56 100
>24 33 62,3 20 37,7 53 100
AME, aleitamento materno exclusivo; AM, aleitamento materno. a Teste Qui-quadrado.
n % pa
Sexo 0,631
Masculino 47 43,1
Feminino 62 56,9
Idade (meses) 0,910
30-36 34 31,2
37-42 55 50,5
43-48 20 18,3
a Teste Qui-quadrado.
Tabela 3 Associacöes de padröes de respiracao com uso de mamadeira e a presenca de hábitos bucais nao nutritivos (n = 252)
Padrao de respiracao Total pa
Oral Nasal
n % n % n %
Mamadeira Nao Sim 33 76 28,9 55,1 81 62 71,1 44,9 114 138 100 100 < 0,001
Hábitos bucais nao nutritivos, incluindo succao Nao Sim 70 39 38,3 56,5 113 30 61,7 43,5 183 69 100 100 0,009
a Teste Qui-quadrado.
materno exclusivo e amamentacao total com os padroes de respiracao (tabela 3). Criancas com respiracao nasal apresentaram um padrao de respiracao normal e foram amamentados por um período de tempo mais longo que as criancas com respiracao bucal, o que também foi observado em outros estudos.6,8,15,16 Criancas que foram amamen-tadas exclusivamente por mais de um mes apresentaram menor prevalencia de desenvolver um padrao de respiracao predominantemente bucal, e a possibilidade aumentou conforme aumentou a duraccao da amamentaccao exclusiva. Com relacao á amamentacao, após uma análise multivari-ada, nao foi observada associaccao entre amamentaccao e respiraccao bucal.
Isso parece ser um consenso na literatura, com relacao ao tempo necessário para o estabelecimento de um padrao de amamentacao e respiracao nasal. De acordo com Santos-Neto,9 amamentacao a partir do 5° mes de vida é um fator preventivo contra perda de
selamento labial, porém essa proteccao é estabelecida apenas em bebes acima de 12 meses de idade. Con-tudo, o autor nao mencionou se a amamentaccao foi exclusiva ou completa. Limeira et al.15 mostraram que a protecao ocorreu em criancas que foram amamenta-das exclusivamente nos primeiros seis meses de vida e que a probabilidade de desenvolver um padrao de respiraccao nasal aumentou conforme aumentou a duraccao da amamentaccao, o que também foi observado no presente estudo.
A amamentacao auxilia na respiracao nasal devido á fisiologia desse tipo de alimentaccao, pois impede a entrada de ar pela boca durante o processo de alimentacao, forcando a passagem do ar pelo nariz e estimulando todos os músculos orofaciais.9,16 Além disso, a protecao nutricional e imunoló-gica fornecida pelo leite materno previne ou reduz o risco de infeccao respiratória,22 que pode resultar em respiracao bucal devido á obstrucao nasal.23
PRbruto (IC 95%) pa PRajustado (IC 95%) pb
Uso de mamadeira Nao Sim 1 1,58 (1,27-1,97) <0,001 1 1,82 (1,31-2,53) < 0,001
Hábitos de succao nao nutritiva Nao Sim 1 1,42 (1,06-1,90) 0,009 1 1,31 (1,01-1,72) 0,042
AME < 1 2-3 4-5 > 6 1,87 (1,14-3,06) 0,82 (0,64-1,06) 0,81 (0,64-1,01) 1 0,007 1,10 (0,80-1,52) 0,61 (0,38-0,98) 0,66 (0,45-0,95) 1 0,520 0,043 0,027
AM 1-6 7-12 13-24 >24 1,63 (1,09-2,44) 1,07 (0,84-1,31) 0,76 (0,61-0,95) 1 0,010 1,28 (0,79-2,09) 1,05 (0,71-1,57) 0,75 (0,45-1,26) 0,305 0,794 0,278
PR Bruto, variáveis nao ajustadas - análise bivariada; PR ajustado, ajuste para outras variáveis; IC 95%, intervalo de confianca de 95%; AME, aleitamento materno exclusivo; AM, aleitamento materno. a Teste Qui-quadrado (x 2). b Teste de Wald.
Tabela 4 Índice de prevalencia bruto e ajustado para os fatores associados ao padrao de respiracao bruto (n = 252)
A OMS1 recomenda aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, e amamentaccao complementar até os dois anos de idade ou mais. Criancas que foram amamentadas por menos que esse periodo apresentaram um maior risco de desenvolver infecccoes do trato respi-ratório, como pneumonia, sinusite e otite. A Academia Americana de Pediatria24 reafirmou as recomendaccoes da OMS de amamentaccao exclusiva nos primeiros seis meses de vida e amamentaccao continua com introduccao de alimentos complementares para neonatos no minimo até os 12 meses de idade ou mais, se mae e filho assim desejarem.
No presente estudo, o uso de mamadeira foi um fator de risco estatisticamente significativo para os padroes de respiraccao, pois mais da metade das crianccas com um padrao de respiraccao predominantemente bucal foi alimentada por mamadeira, mesmo se todas tivessem sido amamentadas inicialmente por periodos diferentes. A amamentaccao por mamadeira interfere negativamente no desenvolvimento orofacial e leva á perda de selamento labial; ademais, favorece uma posiccao inadequada da lingua e altera a forma da mandíbula.6,9 Quando uma crianca é alimentada por mama-deira, nao ocorre o mesmo tipo de exercicio fornecido pela amamentaccao aos músculos faciais, e a lingua da criancca deve funcionar como um dispensador de leite, tornando-a hipotonica e capaz de ficar na posicao correta em descanso. Estudos sobre o padrao de succao de bebes mostraram outras alteraccoes nos mecanismos de succcao em crianccas alimentadas por mamadeira, como alteraccoes na succcao e uma reducao nos movimentos arrítmicos de succao.3,4
A ausencia de contato entre os lábios é, sem dúvida, um sinal característico de respiracao bucal. Neste estudo, uma análise das manifestares clínicas em criancas classi-ficadas como apresentando respiraccao bucal mostrou que dormir com a boca aberta foi o sinal mais comum e estava presente em aproximadamente metade da amostra. Os próximos sinais mais comuns foram babar no travesseiro e roncar. A maioria das criancas que foram amamentadas exclusivamente até os seis meses de idade apresentou um melhor selamento dos lábios, o que também foi observado em estudos anteriores.6,15
O hábito oral de succao nao nutritiva (chupeta ou dedo) mostrou ter efeitos prejudiciais diretos e indiretos sobre alguns aspectos da saúde da crianca. Quando um bebe faz uso frequente de chupeta, ele/ela eventualmente apresen-tará respiraccao bucal devido a uma postura muscular facial e lingual compensatoria hipotonica,4,5,9 o que interfere ainda mais nos mecanismos de amamentacao.25-27 No presente estudo, ficou evidente que os hábitos de succao nao nutritiva estavam relacionados ao padrao de respiraccao das crianccas, e as que possuem esses hábitos mostraram-se mais propensas a desenvolver um padrao de respiracao bucal (p = 0,009).
Atualmente, a maioria das maes acredita nos benefícios da amamentaccao, o que foi confirmado pelos aumentos observados nas taxas de amamentacao.28,29 Contudo, mamadeiras e chupetas ainda sao comumente introduzidas, mesmo em crianccas que sao amamentadas exclusivamente; essa prática parece aumentar o risco de desmame precoce,26 demonstrando que o uso de mamadeira ainda é um hábito arraigado no Brasil e em outros países.30
Existe uma alta prevalencia de padrao de respiraccao predominantemente bucal entre as crianccas, e existe uma associaccao significativa entre aleitamento materno
exclusivo e o padrâo de respiracâo nas criancas. Uma maior duracâo da amamentacâo aumenta a probabilidade de uma crianca desenvolver um padrâo de respiracâo normal. Devem ser implementadas estratégias e programas motivacionais para aumentar a conscientizacâo das mâes, a fim de torná-las mais capazes e melhorar a seguranca da amamentacâo.
Conflitos de interesse
Os autores declaram nâo haver conflitos de interesse.
Referencias
1. World Health Organization. The optimal duration of exclusive breastfeeding: a systematic review. Geneva: WHO; 2001.
2. Gerd AT, Bergman S, Dahlgren J, Roswall J, Alm B. Factors associated with discontinuation of breastfeeding before 1 month of age. Acta Paediatr. 2012;101:55-60.
3. Moral A, Bolibar I, Seguranyes G, Ustrell JM, Sebastiá G, Martínez-Barba C, et al. Mechanics of sucking: comparison between bottle feeding and breastfeeding. BMC Pediatr. 2010;10:6.
4. Nieuwenhuis T, da Costa SP, Bilderbeek E, Geven WB, van der Schans CP, Bos AF. Uncoordinated sucking patterns in pre-term infants are associated with abnormal general movements. J Pediatr. 2012;161:792-8.
5. Cattoni DM, Fernandes FD, Di Francesco RC, Latorre M, do R. Characteristics of stomatognatic system of mouth breathing children: anthroposcopic approach. Pro Fono. 2007;19:347-51.
6. da Costa SP, van der Schans CP, Boelema SR, van der Meij E, Boer-man MA, Bos AF. Sucking patterns in full-term infants between birth and 10 weeks of age. Infant Behav Dev. 2010;33:61-7.
7. Carrascoza KM, Possobon RF, Tomita LM, Moraes AB. Consequences of bottle-feeding to the oral facial development of initially breastfed children. J Pediatr (Rio J). 2006;82:395-7.
8. Santos DC, Martins-Filho J. Padrao respiratorio (nasal ou bucal) e amamentacao: há relacao? Rev Assoc Paul Cir Dent. 2005;59:379-84.
9. Santos-Neto ET, Barbosa RW, Oliveira AE, Zandonade E. Fatores associados ao surgimento da respiracao bucal nos primei-ros meses do desenvolvimento infantil. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2009;19:237-48.
10. Barbosa C, VasquezS, Parada MA, Gonzalez JC, Jackson C, Yanez ND, et al. The relationship of bottle feeding and other sucking behaviors with speech disorder in Patagonian preschoolers. BMC Pediatr. 2009;9:66.
11. Agarwal S, Gupta V, Malhotra S, Nagar A, Pandey R. The effect of mouth breathing on dentofacial morphology of growing child. J Indian Soc Pedod Prev Dent. 2012;30:27-31.
12. Souki BQ, Pimenta GB, SoukiMQ, Franco LP, Becker HM, Pinto JA. Prevalence of malocclusion among mouth breathing children: do expectations meet reality? Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2009;73:767-73.
13. Abreu RR, Rocha RL, Lamounier JA, Guerra AF. Prevalence of mouth breathing among children. J Pediatr (Rio J). 2008;84:467-70.
14. Jedrychosk W, Perera F, Jankowski J, Brutscher M, Mroz E, Flak E, Kaim I, et al. Effect of exclusive breastfeeding on the development of children's cognitive function in the Krakow prospective birth cohort study. Eur J Pediatr. 2012;171:151-8.
15. Limeira AB, Aguiar CM, Bezarra NS, Cámara AC. Association between breastfeeding and the development of breathing patterns in children. Eur J Pediatr. 2013;172:519-24.
16. Trawitzk LV, Anselmo-Lima WT, Melchior MO, Grechi TH, Valera FC. Breast-feeding and deleterious oral habits in mouth and nose breathers. Braz J Otorhinolaryngol. 2005;71: 747-51.
17. World Health Organization. Division of diarrheal and cute respiratory disease control: indicators for assessing breast-feeding practices. Geneva: WHO; 1991.
18. Moyers RE. Ortodontia. Rio de Janeiro: Guanabara; 1991.
19. Felcar JM, Bueno IR, Massan AC, Torezan RP, Cardoso JR. Prevalencia de respiradores bucais em criancas de idade escolar. Cienc Saude Colet. 2010;15:437-44.
20. Frasson JM, Magnani MB, Nouer DF, de Siqueira VC, Lunardi N. Estudo cefalométrico comparativo entre respiradores nasais e predominantemente bucais. Braz J Otorhinolaryngol. 2006;72:72-82.
21. Abreu RR, Rocha RL, Lamounier JA, Guerra AF. Etiology, clinical manifestations and concurrent findings in mouth-breathing children. J Pediatr (Rio J). 2008;84:529-35.
22. Boccolini CS, Carvalho ML, Oliveira MI, Boccolini PM. O papel do aleitamento materno na redu^äo das hospitalizares por pneumonia em criancas brasileiras menores de 1 ano. J Pediatr (Rio J). 2011;87:399-404.
23. Salone LR, Vann Jr WF, Dee DL. Breastfeeding: an overview of oral and general health benefits. J Am Dent Assoc. 2013;144:143-51.
24. American Academy of Pediatrics. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics. 2012 Mar;129:e827-41.
25. Holanda AL, Santos SA, Sena MF, Ferreira MA. Relation between breast and bottle-feeding and non-nutritive sucking habits. Oral Health Prev Dent. 2009;7:331-7.
26. Moimaz SA, Rocha NB, Garbin AJ, Saliba O. A influencia da prá-tica do aleitamento materno na aquisicao de hábitos de succao nao nutritivos e prevencao de oclusopatias. Rev Odontol UNESP. 2013;42:31-6.
27. Carrascoza KC, Possobon Rde F, Ambrosano GM, Costa Júnior AL, Moraes AB. Determinantes do abandono do aleitamento materno exclusivo em criancas assistidas por um programa interdisciplinar de promocao a amamentacao. Cienc Saude Colet. 2011;16:4139-46.
28. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atencao a Saúde. Departamento de Acöes Programáticas e Estratégicas. II Pesquisa de prevalencia de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Brasilia: 2009.
29. Kacho MS, Zahedpasha Y, Eshkevari P. Comparison of the rate of exclusive breast-feeding between pacifier sucker and nonmucker infants. Iran J Ped. 2007;17:113-7.
30. Calgar E, Larsson E, Andersson EM, HaugeMS, Ogaard B, Bishara S, Warren J, Noda T Dolci GS. Feeding, artificial sucking habits, and malocclusions in 3-year-old girls in different regions of the world. J Dent Child (Chic). 2005;72:25-30.