Scholarly article on topic 'Os comportamentos sexuais dos universitários portugueses de ambos os sexos em 2010'

Os comportamentos sexuais dos universitários portugueses de ambos os sexos em 2010 Academic research paper on "Educational sciences"

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{"Comportamentos sexuais" / "Saúde sexual e reprodutiva" / "Jovens universitários" / Portugal / "Sexual behaviour" / "Sexual and reproductive health" / "University students" / Portugal}

Abstract of research paper on Educational sciences, author of scientific article — Marta Reis, Lúcia Ramiro, Margarida Gaspar de Matos, José A. Diniz

Resumo O impacto causado pela infeção do VIH/SIDA, juntando-se a outros riscos ligados à atividade sexual, como a gravidez não desejada, fez com que a sexualidade passasse a ser considerada uma questão de urgência social e um fator que pode ter um forte impacto negativo ao nível da saúde, considerando-se os jovens adultos como um grupo especialmente vulnerável em termos de saúde sexual e reprodutiva. Esta investigação avaliou os comportamentos sexuais dos jovens universitários portugueses de ambos os sexos. A amostra do estudo nacional HBSC/SSREU é constituída por 3278 jovens, entre os 18 e os 35 anos. Os resultados obtidos demonstram que a maioria já teve relações sexuais, teve a sua primeira relação sexual aos 16 anos ou mais e utilizou como primeira contraceção o preservativo. Os métodos contracetivos escolhidos habitualmente por estes jovens são o preservativo e a pílula com intenção de prevenir, quer uma infeção sexualmente transmissível, quer uma gravidez indesejada. Os homens tiveram a primeira relação sexual mais cedo que as mulheres e mais frequentemente não utilizaram qualquer método contracetivo, o que sugere um elevado risco para contrair uma gravidez não desejada ou uma IST. Os homens e os jovens mais velhos referiram mais frequentemente ter relações sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, mais de 3 parceiros sexuais ocasionais no último ano e relações sexuais sob o efeito do álcool ou drogas. Os resultados refletem a necessidade de implementar políticas educacionais no âmbito da sexualidade, visando a orientação dos jovens quanto às práticas sexuais saudáveis. É imprescindível tornar os jovens mais responsáveis e mais atentos quanto aos cuidados com a sua saúde sexual, bem como com a dos seus parceiros. Abstract The impact caused by HIV/Aids and other risks related to sexual activity, such as unplanned pregnancy, is responsible for sexuality to be considered as a matter of social priority and a factor that may have a strong negative impact in terms of health, therefore ranking young people as an important target group in terms of sexual and reproductive health. This research assessed the sexual behaviors of university students of both sexes in Portugal. The sample of the national HBSC/SSREU study consists of 3278 young people between 18 and 35 years old. The findings show the majority has had sexual intercourse, had their first sexual intercourse at 16 or onwards and used either a condom or a contraceptive pill. The contraceptive methods chosen are usually the condom and the pill intended to prevent both a sexually transmitted infection and an unwanted pregnancy. Men report having had their first sexual intercourse earlier than women and report more frequently not having used any contraceptive method, which suggests a risky behaviour both in terms of unwanted pregnancy being infected with an STI. Men and older young people reported more often having sexual intercourse with another person during the romantic relationship, occasional sexual partners, more than three sexual partners in the last year and sexual intercourse under the influence of alcohol or drugs. The results reflect the need to implement educational policies in the context of sexuality, aiming at guiding young people about healthy sexual practices. It is essential to make young people more aware and more responsible for issues related to their sexual health, as well as their partners’.

Academic research paper on topic "Os comportamentos sexuais dos universitários portugueses de ambos os sexos em 2010"

tfg saúde || pública

ELSEVIER DOYMA

portuguesa % SäUClC put)lÍCá

www.elsevier.pt/rpsp

Artigo original

Os comportamentos sexuais dos universitários portugueses

de ambos os sexos em 2010

Marta Reis *, Lúcia Ramiro, Margarida Gaspar de Matos e José A. Diniz

Centro de estudos de educagao para a saúde, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Cruz Quebrada, Portugal

informa^ao sobre o artigo

Historial do artigo: Recebido a 7 de fevereiro de 2012 Aceite a 11 de dezembro de 2012 On-line a 6 de marzo de 2013

Palavras-chave: Comportamentos sexuais Saúde sexual e reprodutiva Jovens universitários Portugal

resumo

Keywords:

Sexual behaviour

Sexual and reproductive health

O impacto causado pela infeçâo do VIH/SIDA, juntando-se a outros riscos ligados à atividade sexual, como a gravidez nâo desejada, fez com que a sexualidade passasse a ser considerada uma questâo de urgencia social e um fator que pode ter um forte impacto negativo ao nível da saúde, considerando-se os jovens adultos como um grupo especialmente vulnerável em termos de saúde sexual e reprodutiva. Esta investigacâo avaliou os comportamentos sexuais dos jovens universitários portugueses de ambos os sexos. A amostra do estudo nacional HBSC/SSREU é constituida por 3 278 jovens, entre os 18 e os 35 anos. Os resultados obtidos demonstram que a maioria já teve relacoes sexuais, teve a sua primeira relacâo sexual aos 16 anos ou mais e utilizou como primeira contracecâo o preservativo. Os métodos contrace-tivos escolhidos habitualmente por estes jovens sâo o preservativo e a pílula com intencâo de prevenir, quer uma infecâo sexualmente transmissível, quer uma gravidez indesejada. Os homens tiveram a primeira relacâo sexual mais cedo que as mulheres e mais frequen-temente nâo utilizaram qualquer método contracetivo, o que sugere um elevado risco para contrair uma gravidez nâo desejada ou uma IST. Os homens e os jovens mais velhos referi-ram mais frequentemente ter relacoes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, mais de 3 parceiros sexuais ocasionais no último ano e relacoes sexuais sob o efeito do álcool ou drogas. Os resultados refletem a necessidade de implementar políticas educacionais no ámbito da sexualidade, visando a orientacâo dos jovens quanto às práticas sexuais saudáveis. É imprescindível tornar os jovens mais res-ponsáveis e mais atentos quanto aos cuidados com a sua saúde sexual, bem como com a dos seus parceiros.

© 2012 Escola Nacional de Saúde Pública. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os

direitos reservados.

Sexual behaviours of Portuguese university students of both sexes in 2010

abstract

The impact caused by HIV/Aids and other risks related to sexual activity, such as unplanned pregnancy, is responsible for sexuality to be considered as a matter of social priority and a factor that may have a strong negative impact in terms of health, therefore ranking

* Autor para correspondencia. Correio eletrónico: reispsmarta@gmail.com (M. Reis). 0870-9025/$ - see front matter © 2012 Escola Nacional de Saúde Pública. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados. http://dx.doi.org/10.10167j.rpsp.2012.12.001

University students young people as an important target group in terms of sexual and reproductive health. This

Portugal research assessed the sexual behaviors of university students of both sexes in Portugal. The

sample of the national HBSC/SSREU study consists of 3278 young people between 18 and 35 years old. The findings show the majority has had sexual intercourse, had their first sexual intercourse at 16 or onwards and used either a condom or a contraceptive pill. The contraceptive methods chosen are usually the condom and the pill intended to prevent both a sexually transmitted infection and an unwanted pregnancy. Men report having had their first sexual intercourse earlier than women and report more frequently not having used any contraceptive method, which suggests a risky behaviour both in terms of unwanted pregnancy being infected with an STI. Men and older young people reported more often having sexual intercourse with another person during the romantic relationship, occasional sexual partners, more than three sexual partners in the last year and sexual intercourse under the influence of alcohol or drugs. The results reflect the need to implement educational policies in the context of sexuality, aiming at guiding young people about healthy sexual practices. It is essential to make young people more aware and more responsible for issues related to their sexual health, as well as their partners'.

© 2012 Escola Nacional de Saúde Pública. Published by Elsevier España, S.L. All rights

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Introducáo

Os individuos sexuados alcangam a sua identidade e autonomía na adolescencia1.

A adolescencia é uma fase da vida em que o ser humano passa por profundas transformares e vivencia novas experiencias no que diz respeito a sexualidade. Nesta fase é habitual acontecerem as primeiras relacoes amorosas, que apesar de nao serem sempre planeadas, muitas vezes terminam na primeira experiencia sexual2,3. Nao é um processo harmonioso, pois a maturidade emocional nem sempre acompanha a maturidade fisica, o que torna a adolescencia uma etapa de extrema vulnerabilidade a riscos ligados a atividade sexual, tais como a gravidez indesejada, o aborto, o VIH/SIDA e outras infecoes sexualmente transmissiveis (IST), que podem comprometer o projeto de vida ou até mesmo a própria vida do adolescente1,4.

De acordo com a Organizacao Mundial de Saúde, em termos mundiais, cerca de 15 milhoes de adolescentes sao maes anualmente5 e 21,6 milhoes de abortos ocorreram em 2008 em mulheres com idade entre os 15 e os 44 anos6. Em Portugal, no ano de 2010, 4052 adolescentes entre os 13 e os 19 anos foram maes7 e no ano de 2010, realizaram-se 19151 interrupcoes voluntárias da gravidez em mulheres com idade entre os 15 e os 44 anos, mas a maioria ocorreu em jovens entre os 15 e os 29 anos (55%)8.

Segundo o relatório da UNAIDS9, 34 milhoes de pessoas, em todo o mundo, vivem com VIH/SIDA. Em 2010, foram infetadas mundialmente 2,7 milhoes de pessoas e 42% dos novos casos de infecao pelo VIH ocorreram em jovens entre os 15 e os 24 anos9. Em Portugal, os dados de 2010 do Centro de Vigilancia Epidemiológica das Doencas Transmissiveis com-provaram a tendencia dos últimos anos, isto é, do aumento do número de heterossexuais infetados bem como dos individuos com idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos, o que significa que um número significativo terá contraído a infecao ainda durante a adolescencia ou inicio da idade adulta10.

Assim, a populacao adolescente e os jovens adultos sao considerados grupos de relevancia na prática de acoes preventivas e em investigares no ámbito dos comportamentos sexuais, identificando-se o uso inconsistente ou o nao uso de preservativos, a existencia de parceiros sexuais ocasionais, bem como a associacao entre o consumo de álcool e/ou drogas e a atividade sexual como fatores e comportamentos de risco a prevenir e a analisar11-14.

É de conhecimento público que o uso do preservativo é o único método que permite uma dupla prevencao, tanto para as IST quanto para a gravidez indesejada. No entanto, ape-sar do aumento da frequencia no uso do preservativo entre os jovens2,15, o uso inconsistente ainda é frequente, principalmente nas relacoes eventuais e nao planeadas11-14.

Porém, o uso do preservativo e de métodos contracetivos nao está necessariamente associado ao conhecimento. Um menor indice de uso de métodos contracetivos nao está relacionado diretamente com a falta de informacao16,17.

A eficácia do uso do preservativo e de outros métodos contracetivos, para além do conhecimento, está sujeito a outros fatores psicológicos fundamentais, tais como a eficácia e intencao do jovem para usá-lo(s), a percecao que este tem da atitude dos pares e a sua própria capaci-dade de assertividade17-19. E é ainda importante averiguar a quem é que os jovens recorrem para ter informacao e acesso face aos métodos contracetivos, uma vez que estes podem representar verdadeiros obstáculos que impedem o seu uso20.

Em Portugal, a prevalencia de uso dos métodos contrace-tivos é alta, porém concentrada no uso da pilula, utilizada por 85% das mulheres21. Entre os adolescentes portugueses, os métodos mais utilizados sao o preservativo masculino e a pilula22. No mundo, as estatisticas sugerem que mais de 60% dos jovens da Europa ocidental, central e de leste2 e dos Estados Unidos15 usam preservativo. Segundo o estudo de Pirotta e Schor16, realizado a estudantes universitários de Sao Paulo, os métodos mais utilizados sao o preservativo masculino e a pilula, relacionando-se o seu uso com o tipo de relacio-namento (esporádico ou namoro), em que o uso da pilula aumenta ou o uso do preservativo é substituido nos jovens

que referiam ter uma relacao mais estável e que designavam de namoro.

Optou-se por desenvolver um estudo nacional com uma amostra da populacho de jovens adultos, pois por um lado estes encontram-se num periodo importante de transicao da vida, e por outro lado há necessidade de maior conhecimento científico em relacao aos comportamentos sexuais. De entre os jovens adultos, considerou-se o subgrupo dos jovens que frequentam o ensino superior dada a elevada percentagem dos mesmos (entre 30-3S%, segundo o EACEA23) e por ser uma amostra mais fácil de recolher de modo sistemático e controlado.

É crucial existirem investigacбes sobre o comportamento sexual dos universitários para orientar o planeamento de acбes na área da saúde e educacao sexual desses jovens.

Deste modo, é objetivo do presente estudo aprofundar o conhecimento da sexualidade dos jovens universitários portugueses, nomeadamente: 1) caracterizar a 1.a relacao sexual, comportamentos relativos à contracecao (informacao, acesso e utilizacao) e comportamentos sexuais de risco; 2) analisar diferencas entre géneros face às variáveis mencionadas; e 3) analisar diferencas entre grupos de idade para a utilizacao de métodos contracetivos e comportamentos sexuais de risco.

Método

Amostra

A amostra do estudo nacional HBSC/SSREU é constituida por 3 278 estudantes universitários portugueses, entre os 18 e os 35 anos, selecionados aleatoriamente dos jovens que frequen-tavam o ensino superior portugués no ano letivo 2009/2010. A amostra incluiu 30,3% do género masculino e 69,7% do género feminino (distribuicao esta que é aproximadamente a encontrada na populacao universitária portuguesa24), com uma média de idades de 21 anos (DP =3,00). A maioria dos participantes é de nacionalidade portuguesa (97,3%), de reli-giao católica (71,9%), solteira (95,5%) e refere ser heterossexual (96,4%).

Procedimento

O estudo nacional «Saúde sexual e reprodutiva dos estudantes universitários» (HBSC/SSREU) foi feito pela primeira vez em 2010 - é uma extensao do estudo HBSC. O Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) é um estudo feito em colaboracao com a Organizacao Mundial de Saúde (www.hbsc.org) que pretende estudar os comportamentos de saúde em adolescentes em idade escolar e está inscrito numa rede internacional de investigacao constituida por 43 países europeus, entre os quais Portugal, através da equipa do Projeto Aventura Social, da Faculdade de Motricidade Humana25.

De modo a obter uma amostra representativa da populacao que frequenta o ensino superior em Portugal, efetuou-se uma selecao aleatória, estratificada pelas 5 regiöes do pais, das universidades e institutos politécnicos, quer do ensino público quer do privado.

A técnica de recolha da amostra foi a «cluster sampling», considerando-se a turma o «cluster» ou unidade de análise. Assim, recolheram-se questionários em 124 turmas num total de 3 278 alunos inscritos no ano letivo de 2009/2010. A administracao dos questionários realizou-se no contexto da sala de aula e o preenchimento dos questionários foi supervisionado pelo investigador responsável pelo estudo. Antes do preenchimento, os estudantes foram informados que a resposta ao questionário era voluntária, confidencial e anónima. O tempo de preenchimento do questionário situou-se entre os 60 e os 90 min.

Esta pesquisa nacional foi realizada em 2010 para o Minis-tério da Saúde e para a Coordenacao Nacional para a Infecao do VIH/SIDA. Teve a aprovacao de uma Comissao Científica, da Comissao Nacional de Ética e da Comissao Nacional de Protecao de Dados e seguiu à risca todas as recomendares de Helsinquia para a implementacao da investigacao.

Medidas

O questionário internacional do HBSC/OMS é desenvolvido numa lógica de cooperacao pelos investigadores dos países que integram a rede. O questionário «Saúde sexual e reprodu-tiva dos estudantes universitários» (HBSC/SSREU)26 utilizado neste estudo resultou do protocolo internacional no que diz respeito às questöes aplicáveis a nivel demográfico, bem como nas relacionadas com o comportamento sexual, atitu-des e conhecimentos face ao VIH/SIDA25. Para além dessas, acrescentaram-se outras, nomeadamente no que diz respeito aos conhecimentos e atitudes face à contracecao, às atitudes sexuais, às competéncias relativas ao preservativo e aos com-portamentos de risco, e acrescentaram-se, também, questöes sobre educacao sexual.

Do questionário, foram selecionadas para este estudo específico as seguintes questöes: 1) ter relacöes sexuais, 2) primeira relacao sexual (idade, utilizacao, escolha de método contra-cetivo usado pelo próprio ou pelo parceiro e motivos para ter a primeira relacao sexual), 3) comportamentos face à contracecao e preservativo (fontes de informacao, acesso, utilizacao de métodos contracetivos e frequéncia do uso do preservativo) e 4) comportamentos sexuais de risco (ter relacöes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, ter parceiros sexuais ocasionais, número de par-ceiros sexuais ocasionais no último ano, ter relacöes sexuais associadas ao álcool e às drogas, ter uma IST, ter efetuado uma IVG e ter engravidado sem desejar).

Análise de dados

As análises e procedimentos estatísticos foram efetuados através do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versao 19.0 para Windows). Utilizou-se uma estatística des-critiva (com apresentacao de frequências e percentagens para descrever as diferentes variáveis nominais) e, para analisar as diferencas entre géneros e grupos de idade, utilizou-se o teste do qui-quadrado - x2 (com análise de residuais ajustados para localizacao dos valores significativos). O nível de significância estatística foi determinado para p < 0,05.

Resultados

Primeira relacâo sexual - Diferencas entre géneros

Verificou-se que do total da amostra, 83,3% (n = 2 730) dos jovens universitários de ambos os sexos mencionaram já ter tido relacбes sexuais. Os homens (88,б%) relataram mais fre-quentemente do que as mulheres (81%) que tiveram relacбes sexuais (x2(1) = 29,15, p = 0,000). Dos jovens universitários de ambos os sexos que mencionaram ter tido relacбes sexuais, 79,2% referiram que tiveram a sua primeira relacâo sexual aos 1б ou mais tarde e 90,3% usou contracecâo na primeira relacâo sexual, designadamente o preservativo (8б,8%).

Foram encontradas diferencias estatisticamente significativas entre os géneros para a idade da primeira relacâo sexual (x2(3) = 60,05; p = 0,000) e para a utilizacâo e escolha do método contracetivo (preservativo e pílula) (x2(1) = 59,10, p = 0,000; x2(1) = 18,56; p = 0,000; x2(1) = 91,19; p = 0,000, respetivamente) na primeira relacâo sexual.

Os resultados mostraram que apesar de a maioria quer de homens (72%) quer de mulheres (82,5%), ter tido a primeira relacâo sexual aos 16 aos ou mais tarde, os homens mais frequentemente mencionaram ter iniciado mais cedo (aos 11 anos ou menos, entre os 12 e os 13 anos, e entre os 14 e 15 anos).

Quanto à utilizacâo ou nâo de método contracetivo na primeira relacâo sexual (usado pelo próprio ou pelo parceiro), homens (84%) e mulheres (93,3%) usaram-no, mas os homens (1б%) mais frequentemente que as mulheres (б,7%) referiram nâo usar.

Relativamente à escolha do método contracetivo (usado pelo próprio ou pelo parceiro) na primeira relacâo sexual, as mulheres (88,7%, 2б,2%) mais frequentemente que os homens (82,7%, 10,2%) mencionaram o preservativo e a pílula.

Quando inquiridos sobre as razбes para a primeira relacâo sexual, os jovens de ambos os sexos que referiram já ter tido relacбes sexuais afirmaram maioritariamente que foi uma decisâo por consentimento mútuo (74%), em especial as mulheres ([77,8%], [x2(1) = 42,08, p = 0,000]). Destacou-se, ainda, estarem muito apaixonado/as (30,7%), novamente em particular as mulheres ([35,4%], [x2(1) = 57,51, p = 0,000]). Estas mencionam ainda, e mais frequentemente que os homens, que tiveram a primeira relacâo sexual porque se sentiram pressionadas ([3,2%], [x2(1) = 7,85, p = 0,005]). Os homens mais frequentemente mencionaram ter tido a primeira relacâo sexual por acaso (14,7%) e tomarem eles próprios a iniciativa (10,1%) (x2(1) = 70,72, p = 0,000; x2(1) = 70,73, p = 0,000, respetivamente) (tabela 1).

Comportamentos face à contracecâo e preservativo: informacâo, acesso e utilizacâo pelo próprio ou pelo parceiro - Diferencas entre géneros

Quando inquiridos acerca das diferentes fontes onde obtive-ram informacâo sobre os métodos contracetivos que costu-mam utilizar, a maioria apontou os técnicos de saúde (58,9%), folhetos/livros (52,9%) e amigos (52,2%). Foram encontradas diferencas estatisticamente significativas entre os géneros para as seguintes fontes de informacâo: técnicos de saúde

(x2(1) = 281,76; p = 0,000), comunicaçâo social (mass media) (x2(1) = 37,61; p = 0,000), mâe (x2(1) = 13,05; p = 0,000), Internet (x2(1) = 13,21; p = 0,000), professores (x2(1) = 16,64; p = 0,000), pai (x2(1) = 134,45; p = 0,000) e associates (x2(1) = 5,28; p = 0,022).

As mulheres mais frequentemente referiram utilizar os técnicos de saúde (69,8%) e a mae (42,6%) como fontes de informacâo, ao passo que os homens mais frequentemente referiram utilizar a comunicacâo social (mass media) (50,1%), a Internet (43,1%), os professores (42,4%), o pai (31,6%) e as associates (7,7%). Nâo se verificaram diferencias estatisticamente significativas entre os géneros para os amigos nem para os folhetos/livros.

Relativamente à questâo sobre o acesso à contracecâo e ao preservativo, a maioria dos jovens inquiridos de ambos os sexos adquiriu os métodos contracetivos que utiliza na farmácia (70,1%). Em relacâo a este local, nao se cons-tataram diferencas estatisticamente significativas entre os géneros. No entanto, foram encontradas diferencas estatisticamente significativas entre os géneros para os seguintes locais: supermercado (x2(1) = 76,38; p = 0,000), planeamento familiar (x2(1) = 111,09; p = 0,000), centro de saúde (x2(1) = 15,73; p = 0,000) e médico de familia (x2(1) = 39,97; p = 0,000).

Os homens adquiriram os métodos contracetivos mais frequentemente no supermercado (38,8%) e as mulheres no planeamento familiar (29,3%), centro de saúde (21%) e médico de familia (11,9%). Estas diferencias relativamente ao local de acesso dos métodos contracetivos possivelmente devem-se ao tipo de método usado pelos jovens ser diferente, ou seja, os preservativos podem comprar-se em supermercados, ao con-trário da pilula.

Quanto aos métodos contracetivos usados habitualmente (pelo próprio ou pelo parceiro)a, a maioria dos jovens de ambos os sexos mencionou a pilula (70,4%) e o preservativo (69%). Foram encontradas diferencias estatisticamente significativas entre os géneros em relaciâo à pilula e ao preservativo (x2 (1) = 63,60, p = 0,000; x2 (1) = 4,41, p = 0,036, respetivamente).

As mulheres (75,2%) referiram usar a pilula com mais frequência do que os homens (60,3%). Enquanto os homens mencionaram mais frequentemente o uso do preservativo (71,7%) do que as mulheres (67,7%).

Na questâo efetuada para avaliar a frequência do uso do preservativo durante as relacoes sexuais nos últimos 12 meses, a maioria dos jovens de ambos os sexos mencio-nou nâo usar sempre (67,4%) e nâo se verificaram diferencias estatisticamente significativas entre os géneros (tabela 2).

Utiiizaçâo de métodos contracetivos - Diferenças entre grupos de idade

A análise das diferencas entre os 3 grupos de idade e a utilizacâo de métodos contracetivos revelou diferencas estatisticamente significativas para a pilula e o preservativo (x2(1) = 26.604, p =0,000; x2(1) = 81.356, p = 0,000, respetivamente).

a Nota: Nesta questao foi dito aos respondentes que deveriam considerar o uso de tipo de contracetivo por si ou pelo/a parceiro/a.

Tabela 1 - Diferenças entre géneros e a primeira relaçâo sexual

Homens (n = 993) Mulheres (n = 2 285) Total(n = 3 278) x2

N % N % N %

Relacoes sexuais

Sim 880 88,6 1850 81,0 2 730 83,3 29,15***

Nao 113 11,4 435 19,0 548 16,7

Homens (n = 880) Mulheres (n = 1850) Totala (n = 2 730) x2

N % N % N %

Jovens que já tiveram relacoes sexuais (n= 2 730)

Idade da 1a relagáo sexual (n = 2 730)

11 anos ou menos 14 1,6 2 0,1 16 0,6 60,05***

12 e 13 anos 44 5,0 39 2,1 83 3,0

14 e 15 anos 188 21,4 282 15,2 470 17,2

16 anos ou mais 634 72,0 1 527 82,5 2161 79,2

Uso de métodos contracetivos pelo próprio ou pelo parceiro na 1a relaçâo sexual (n = 2 730)

Nao usou 141 16,0 124 6,7 265 9,7 59,10***

Usou 739 84,0 1 726 93,3 2 465 90,3

Métodos contracetivos escolhidos pelo próprio ou pelo parceiro na 1 a relacâo sexual (% de jovens que responderam sim)

Preservativo 728 82,7 1 641 88,7 2 369 86,8 18,56***

Pílula 90 10,2 484 26,2 574 21,0 91,19***

Coito interrompido 13 1,5 34 1,8 47 1,7 0,46

Motivos para ter tido a sua 1 relacâo sexual (% de jovens que responderam sim)

Decisao por consentimento mútuo 582 66,1 1439 77,8 2 021 74,0 42,08***

Muito apaixonados 185 21,0 654 35,4 839 30,7 57,51***

Foi por acaso 129 14,7 96 5,2 225 8,2 70,72***

Parceiro tomou a iniciativa 51 5,8 130 7,0 181 6,6 1,46

O próprio tomou a iniciativa 89 10,1 48 2,6 137 5,0 70,73***

Sentiu-se pressionado 12 1,4 59 3,2 71 2,6 7,85**

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001.

A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado £ |1,9|.

a O número total difere considerando que alguns jovens nao responderam a algumas questoes.

O grupo de jovens com idades entre os 20 e os 24 anos (74,1%) referiu usar a pílula com mais frequência do que o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) e mais velhos (entre os 25 e os 35 anos). E o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) mencionou mais frequentemente o uso do preservativo (78,9%) do que os outros 2 grupos de jovens mais velhos.

Na questâo efetuada para avaliar a frequência do uso do preservativo durante as relacoes sexuais nos últimos 12 meses, foram encontradas diferencias estatisticamente significativas nos 3 grupos de idade (x2(1) = 71.499, p = 0,000). Os jovens mais novos mencionaram com mais frequência usar sempre (43,4%) e os outros 2 grupos de jovens mais velhos referiram mais frequentemente nao usar sempre (70 e 81,1%, respetivamente) (tabela 3).

Comportamentos sexuais de risco - Diferencas entre géneros e grupos de idade

Considerando os potenciáis comportamentos sexuais de risco, os resultados mostraram existir uma minoria de jovens em risco que afirmaram ter tido relacoes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (7,7%), parceiros sexuais ocasionais (33%), relacoes sexuais associadas ao álcool (35,5%)

e às drogas (5,7%), uma infecao sexualmente transmissível (3,3%), uma gravidez indesejada (4,2%) e ter efetuado uma interrupcao voluntária da gravidez (3,2%).

Foram encontradas diferencas estatisticamente significativas entre os géneros para ter tido relacoes sexu-ais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (x2(1) = 136,73; p = 0,000), parceiros sexuais ocasionais (x2(1) = 333,11; p = 0,000), número de parceiros sexuais ocasionais no último ano (x2(1) = 63,60; p = 0,000) e ter relacoes sexuais associadas ao álcool e às drogas (x2(1) = 166,52; p = 0,000; x2(1) = 57,22; p = 0,000, respetivamente).

Consideradas as diferencias entre os géneros, sao os homens quem mais referiram ter tido relacoes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (16,6%), par-ceiros sexuais ocasionais (57,4%), mais de 3 parceiros sexuais ocasionais no último ano (33,3%) e relacoes sexuais associadas ao álcool e às drogas (53,1 e 10,7%, respetivamente) (tabela 4).

A análise das diferencias entre os 3 grupos de idade e os comportamentos sexuais de risco revelou diferencas estatisticamente significativas para ter tido relacioes sexu-ais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso (x2(2) = 14.615; p = 0,001), parceiros sexuais ocasionais (x2(2) = 24.258; p = 0,000), ter relacoes sexuais associadas ao álcool e às drogas (x2(2) = 29.239; p = 0,000; x2(2) = 22.420; p = 0,000, respetivamente), ter tido uma infecao sexualmente

Tabela 2 - Diferenças entre géneros e comportamentos face à contraceçâo e preservativo (informaçâo, acesso e utilizacao)

Homens (n = 880) Mulheres (n = 1850) Totala (n = 2 730) x2

N % N % N %

Fontes de informagáo dos métodos contracetivos (n = 2 730)

Técnicos de saúde 317 36,0 1292 69,8 1 609 58,9 281,76***

Folhetos/Livros 472 53,6 971 52,5 1 443 52,9 0,32

Amigos 468 53,2 957 51,7 1 425 52,2 0,50

Comunicado social (mass media) 441 50,1 698 37,7 1139 41,7 37,61***

Mae 311 35,3 788 42,6 1 099 40,3 13,05***

Internet 379 43,1 663 35,8 1 042 38,2 13,21***

Professores 373 42,4 635 34,3 1 008 36,9 16,64***

Pai 278 31,6 240 13,0 518 19,0 134,45***

Associagoes 68 7,7 101 5,5 169 6,2 5,28*

Local de obtencáo dos métodos contracetivos (n = 2 730)

Farmácia 621 70,6 1 292 69,8 1 913 70,1 0,15

Supermercado 341 38,8 420 22,7 761 27,9 76,38***

Planeamento familiar 97 11,0 542 29,3 639 23,4 111,09***

Centro de saúde 129 14,7 389 21,0 518 19,0 15,73***

Médico familia 38 4,3 220 11,9 258 9,5 39,97***

Método contracetivo usado pelo participante ou pelo parceiro (% de jovens que responderam sim)

Pílula 531 60,3 1 392 75,2 1 923 70,4 63,60***

Preservativo 631 71,7 1 253 67,7 1 884 69,0 4,41*

Coito interrompido 62 7,0 166 9,0 228 8,4 2,90

Frequencia do preservativo durante as relacoes sexuais nos últimos 12 meses (n = 2 584)

Usou sempre 283 34,5 559 31,7 842 32,6 2,03

Nao usou sempre 537 65,5 1205 68,3 1 742 67,4

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001.

A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.

a O número total difere considerando que alguns jovens nao responderam a algumas questôes.

transmissível (x2(2) = 23.861; p = 0,000), ter efetuado uma interrupçâo voluntária da gravidez (x2(2) = 25.379; p = 0,000) e ter engravidado sem desejar (x2(2) = 69.514; p = 0,000).

Verificou-se, ainda, que o grupo de jovens mais velhos (dos 25 aos 35 anos) mais frequentemente mencionou ter tido relacôes sexuais com outra pessoa durante o relaciona-mento amoroso (12,1%), parceiros sexuais ocasionais (41,2%), relacôes sexuais associadas ao álcool e às drogas (42,7 e 11,3%, respetivamente), uma infecao sexualmente transmissível (5,7%), uma gravidez nao desejada (13,1%) e ter efetuado uma interrupcao voluntária da gravidez (7,4%). O grupo de jovens mais novos mencionou ter menos comportamentos de risco (tabela 5).Discussao

O presente estudo teve como objetivo central conhecer a sexualidade dos jovens estudantes universitários portugueses de ambos os sexos, designadamente caracterizar a primeira relacao sexual, comportamentos relativos a contracecao e ao preservativo (informacao, acesso e utilizacao) e comportamentos sexuais de risco, analisar diferencas entre géneros face as variáveis mencionadas e analisar diferencas entre grupos de idade para a utilizacao de métodos contracetivos e comportamentos sexuais de risco.

Os resultados permitem-nos afirmar que a maioria dos jovens universitários de ambos os sexos mencionou já ter tido relacoes sexuais, teve a sua primeira relacao sexual aos 16 anos ou mais tarde e utilizou como primeira contracecao

Tabela 3 - Diferencas entre os grupos de idades e a utilizacao de métodos contracetivos pelo próprio ou pelo parceiro

18-19 anos (n = 795) 20-24 anos (n = 1612) 25-35 anos (n = 323) x2

N % N % N %

Método contracetivo usado pelo participante ou pelo parceiro (% de jovens que responderam sim) Pílula 524 65,9 1195 74,1 Preservativo 627 78,9 1089 67,6 Coito interrompido 64 8,1 138 8,6 204 168 26 63,2 52,0 8,0 26.604*** 81.356*** 0,225

Frequencia do preservativo durante as relacoes sexuais nos últimos 12 meses (n = 2 584) Usou sempre 328 43,4 456 30,0 Nao usou sempre 427 56,6 1066 70,0 58 249 18,9 81,1 71.499***

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.

Tabela 4 - Diferenças entre géneros e comportamentos sexuais de risco

Homens (n = 880) Mulheres (n = 1850) Totala (n = 2 730) X2

N % N % N %

Durante o seu relacionamento amoroso teve relacoes sexuais com outra pessoa Sim 140 16,6 66 Nao 702 83,4 1758 (n = 2 666) 3,6 96,4 206 2 460 7,7 92,3 136,73***

Parceiros sexuais ocasionais (n = 2 669) Sim 484 57,4 396 Nao 359 42,6 1 430 21,7 78,3 880 1 789 33,0 67,0 333,11***

Parceiros sexuais ocasionais no último ano (% apenas jovens que responderam sim) (n = 722) 1 131 30,7 156 52,9 Entre 2 a 3 154 36,1 111 37,6 Mais de 3 142 33,3 28 9,5 287 265 170 39,8 36,7 23,5 63,60***

Ter tido relacoes sexuais associadas ao álcool (n = 2 658) Sim 446 53,1 497 Nao 394 46,9 1 321 27,3 72,7 943 1715 35,5 64,5 166,52***

Ter tido relacoes sexuais associadas às drogas (n = 2 565) (n = 2 565) Sim 88 10,7 58 Nao 731 89,3 1 688 3,3 96,7 146 2419 5,7 94,3 57,22***

Ter tido uma infecao sexualmente transmissível (n = 2 647) Sim 28 3,4 59 Nao 807 96,6 1753 3,3 96,7 87 2 560 3,3 96,7 0,02

Ter efetuado uma interrupcao voluntária de gravidez (n = 2 553) Sim 30 3,7 51 Nao 783 96,3 1 689 2,9 97,1 81 2 472 3,2 96,8 1,04

Ter engravidado sem desejar (% do participante ou parceiro) (n = 2 581) Sim 33 4,3 76 Nao 741 95,7 1731 4,2 95,8 109 2 472 4,2 95,8 0,004

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1.9|. a O número total difere considerando que alguns jovens nao responderam a algumas questoes.

o preservativo. Estes resultados confirmam as tendencias encontradas noutros estudos2,15,22.

A análise comparativa entre géneros demonstrou existi-rem diferencias estatisticamente significativas em relacao a idade, ao uso de métodos contracetivos, a escolha do método contracetivo e aos motivos para ter tido a primeira relacao sexual. Verificou-se que mais frequentemente os homens tive-ram a primeira relacao sexual mais cedo que as mulheres e nao utilizaram qualquer método contracetivo, o que sugere um elevado risco para contrair uma IST ou uma gravidez nao desejada.

Relativamente a escolha do método contracetivo pelo par-ceiro ou pelo próprio na primeira relacao sexual, as mulheres mais frequentemente que os homens referiram o preservativo e a pílula. Em relacao a pílula, como é a mulher que engravida e é esta que a toma, aceita-se que seja ela a demonstrar maior preocupacao e responsabilidade contracetiva. Quanto ao preservativo, apesar de ser o homem a usá-lo, os estudos apontam para a dificuldade dos homens recusarem ter relacoes sexu-ais sem o preservativo e as mulheres mencionarem melhores competencias no sentido de convencerem o parceiro a usar o preservativo ou na ausencia de preservativo a recusarem ter relacoes sexuais, pelo que as mulheres tém demonstrado mais competencias também face a prevencao das IST27.

Quanto às razôes para a primeira relaçâo sexual, os jovens adultos de ambos os sexos, em especial as mulheres, afirma-ram maioritariamente que foi uma decisâo por consentimento mutuo. No entanto, há uma minoria de jovens a referir que a tiveram por acaso (mais frequentemente os homens) e que foram pressionados (mais frequentemente as mulheres), denotando-se uma possível influência do duplo padrâo, isto é, que os homens mais frequentemente procurem ter relacôes sexuais, independentemente de terem uma relacao afetiva enquanto se espera que as mulheres mais frequentemente nao queiram envolver-se em relacôes sexuais pois priorizam o envolvimento emocional28. Daqui decorre a necessidade de se realizarem intervencôes específicas, adaptadas aos géneros, no ámbito das competências pessoais e sociais, nomeada-mente no que diz respeito ao planeamento do futuro, à importáncia das questôes psicoafetivas e à eficácia e assertivi-dade na recusa das relacôes sexuais indesejadas. Estes dados corroboram os encontrados noutros estudos18,19.

No que se refere aos comportamentos face à contracecao e ao preservativo, a maioria aponta os técnicos de saúde, folhe-tos/livros e amigos como principais fontes onde obtiveram informacao sobre os métodos contracetivos que costumam utilizar. Mas, as mulheres mais frequentemente que os homens recorreram aos técnicos de saúde, sugerindo, mais

Tabela 5 - Diferengas entre os grupos de idades e comportamentos sexuais de risco

18-19 anos (n = 795) 20-24 anos (n = 1612) 25-35 anos (n = 323) x2

N % N % N %

Durante o seu relacionamento amoroso teve relacoes sexuais com outra pessoa (n = Sim 42 5,4 126 Nao 738 94,6 1446 : 2 666) 8,0 92,0 38 276 12,1 87,9 14.615***

Parceiros sexuais ocasionais (n = 2 669) Sim 210 26,9 Nao 572 73,1 541 1033 34,4 65,6 129 184 41,2 58,8 24.258***

Parceiros sexuais ocasionais no último ano (% apenas jovens que responderam sim) (n = 722) 1 61 32,1 189 43,6 Entre 2 a 3 73 38,4 155 35,8 Mais de 3 56 29,5 89 20,6 37 37 25 37,4 37,4 25,3 9.456

Ter tido relacoes sexuais associadas ao álcool (n = 2 658) Sim 217 28,0 Nao 557 72,0 592 978 37,7 62,3 134 180 42,7 57,3 29.239***

Ter tido relacoes sexuais associadas as drogas (n = 2 565) Sim 28 3,8 Nao 708 96,2 84 1 443 5,5 94,5 34 268 11,3 88,7 22.420***

Ter tido uma infecao sexualmente transmissível (n = 2 647) Sim 6 0,8 Nao 764 99,2 63 1 500 4,0 96,0 18 296 5,7 94,3 23.861***

Ter efetuado uma interrupcao voluntária de gravidez (n = 2 553) Sim 11 1,5 47 Nao 736 98,5 1450 3,1 96,1 23 286 7,4 92,6 25.379***

Ter engravidado sem desejar (% do participante ou parceiro) (n = 2 581) Sim 14 1,9 56 Nao 740 98,1 1 473 3,7 96,3 39 259 13,1 86,9 69.514***

* p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.

uma vez, que as mulheres tem maior preocupacao contrace-tiva, profilática e maior familiaridade com os profissionais e servicios de saúde26,27.

Relativamente as questoes sobre o acesso e uso habitual dos métodos contracetivos, a maioria dos jovens inquiridos mencionou adquirir os métodos contracetivos que utiliza na farmácia e, habitualmente, usar a pílula e o preservativo. Estes resultados confirmam as tendencias encontradas noutros estudos2,15,16,22. Porém, a maioria dos estudantes universi-tários portugueses de ambos os sexos mencionou usar de forma inconsistente o preservativo. Estes dados corroboram os encontrados noutros estudos14.

A análise comparativa entre os 3 grupos de idade reve-lou diferencias estatisticamente significativas para a utilizacao de métodos contracetivos e a frequencia do uso do preservativo durante as relacoes sexuais nos últimos 12 meses. O grupo de jovens com idades entre os 20 e os 24 anos refere usar a pílula com mais frequencia do que o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) e mais velhos (entre os 25 e os 35 anos). E o grupo de jovens mais novos (18 e 19 anos) menciona mais frequentemente o uso do preservativo e o uso consistente do preservativo nos últimos 12 meses do que os outros 2 grupos, o que sugere que os jovens no inicio das relacoes amorosas recorrem ao preservativo e, a medida que a duracao do relacionamento aumenta, existe uma mudanca na escolha do método contracetivo. As investigares

apontam para o facto de que quando os jovens estao envolvidos em relacionamentos com uma duracao mais longa, isso pode constituir uma barreira a promocao de comportamen-tos sexuais saudáveis e seguros uma vez que, nesta área, parece existir uma associaciao entre o envolvimento afetivo e a desvalorizaciao dos comportamentos de prevenciao face a doencia, talvez porque acreditem que ao solicitarem a um parceiro de longa data a utilizacao do preservativo, poderá gerar-se um sentimento de desconfiancia em relaciao a fidelidade do casal16.

Para além disso, acresce que a fase de jovem adulto caracteriza-se por um estabelecimento estável da identidade pessoal e sexual, uma certa independencia dos pais e marca o inicio da fundacao de uma escala de valores ou um de código ético próprio desenvolvido através do contexto sociocultural em que esse jovem cresceu.

Relativamente aos comportamentos sexuais de risco, observou-se que uma minoria dos participantes mencionou ter relacoes sexuais com outra pessoa durante o relaci-onamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, relacioes sexuais sob o efeito do álcool ou drogas, uma infecao sexual-mente transmissível, uma gravidez indesejada e ter efetuado uma interrupciao voluntária da gravidez.

A comparaciao entre os géneros e os seus comportamentos sexuais atuais revelou diferencias estatisticamente significativas, em que os homens apresentaram mais comportamentos

de risco, pois mais frequentemente mencionam ter relacбes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, mais de 3 parceiros sexuais ocasionais no último ano e relacбes sexuais sob o efeito do álcool ou drogas. Estes resultados estao de acordo com a literatura11-13.

Consideradas as diferencas entre os grupos de idade, sao os jovens do grupo de idades mais velho (25 aos 35 anos) que mencionam ter mais comportamentos sexu-ais de risco, nomeadamente ter relacбes sexuais com outra pessoa durante o relacionamento amoroso, parceiros sexuais ocasionais, relacбes sexuais sob o efeito do álcool ou drogas, uma infecao sexualmente transmissível, uma gravidez nao desejada e ter efetuado uma interrupcao voluntária da gravidez. Por sua vez, o grupo de jovens mais novos mencionou ter menos comportamentos de risco. Face a estes resultados, observa-se que temos uma minoria de jovens em risco e isso sugere que os comportamentos sexuais saudáveis nao sao consistentes ou sao abandonados ao longo do tempo. Depreende-se também que os jovens adultos portugueses con-tinuam a constituir, na atualidade, um grupo prioritário a nível de prevencao em termos de saúde sexual e reprodutiva.

Considerares fináis

Os resultados refletem a necessidade de implementar políticas educacionais no ámbito da sexualidade, visando a orientacao dos jovens quanto às práticas sexuais saudáveis com o objetivo de reduzir a incidencia de IST e gravidezes nao desejadas nesta populacho. É imprescindível tornar os jovens mais responsáveis e mais atentos quanto aos cuidados com a sua saúde sexual, bem como a dos seus parceiros.

Dada a grande diversidade dos métodos contracetivos dis-poníveis, os jovens precisam de ser esclarecidos sobre as vantagens e desvantagens de todos os métodos de forma a poderem escolher o método que melhor se adequa a si. E porque nem todos os jovens universitários vao aos centros de saúde, é imperativo criar um espaco na universidade para essa troca de informacбes da populacho estudantil em geral. O desenvolvimento de estratégias mais voltadas para esta populacho, como por exemplo, o uso da Internet, a existencia de gabinetes próprios para esclarecimento e as campanhas de sensibilizacao (quer no campus universitário quer nas residencias) devem ser sistemáticas e contínuas, pois podem ser recursos valiosos.

É necessário desenvolver a responsabilidade individual e grupal para que sejam possíveis mudancas de comportamento, baseando-se em aceitacao e nao em obrigacao. É importante a educacao sexual sistematizada, que desmistifica as crencas negativas e associa o uso dos métodos contracetivos ao prazer resultante da seguranca que eles proporcionam. As pessoas precisam de ser sensibilizadas quanto aos riscos reais que elas correm, para que ocorram mudancas de comportamentos e atitudes.

Espera-se que esta investigacao possa ter contribuído para a compreensao da sexualidade dos jovens estudantes uni-versitários portugueses e, sobretudo, para a necessidade de sensibilizar a comunidade no geral, para a importáncia da promocao da educacao para a saúde e sexualidade.

Conflito de interesses

Os autores declaram nao haver conflito de interesses.

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