saúde t¡ pública
portuguesa% StlUClC pLlbÜCcl
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Artigo original
Educaçâo sexual, conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos nos adolescentes
Lúcia Ramiro*, Marta Reis, Margarida Gaspar de Matos, José Alves Diniz e Celeste Simôes
Projecto Aventura Social, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa; Centro da Malária e Outras Doenças Tropicais, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal
INFORMAgAO SOBRE O ARTIGO
Historial do artigo:
Recebido em 8 de Margo de 2010
Aceite em 8 de Fevereiro de 2011
Palavras-chave:
Educagao sexual
Comportamentos sexuais
Conhecimentos
Atitudes
Crengas
Jovens
RESUMO
Introdugáo: O aumento das IST's, da gravidez nao planeada e de outros tantos riscos ligados a actividade sexual fazem com que os jovens sejam considerados um grupo de intervengao prioritário em termos de saúde sexual e reprodutiva. Para se promover atitudes e comportamentos sexuais saudáveis é essencial a concretizagao de uma educagao sexual que tenha como objectivo desenvolver atitudes e competencias nos jovens, permitindo que estes se sintam informados e seguros nas suas escolhas.
Material e métodos: Este estudo (HBSC/OMS) avaliou o papel que 3331 adolescentes portugueses (1579 rapazes e 1752 raparigas), com uma média de idades de 15 anos, atribuem a educagao sexual, os seus conhecimentos e atitudes face ao VIH/SIDA. Usou-se um questionário de auto-relato que foi aplicado as turmas em sala de aula. Resultados: Analisados os resultados do estudo, verificou-se que quer os factores de risco quer os de protecgao em relagao aos comportamentos sexuais de risco dos adolescentes sao inúmeros.
Conclusoes: Sendo assim, é crucial que a educagao sexual abranja intervengdes do tipo preventivo de carácter universal, abrangendo toda a populagao escolar e respectivos contextos de vida: escola, familia e grupo de pares, mas também intervengdes mais específicas, em pequenos subgrupos identificados como prioritários.
© 2010 Publicado por Elsevier España, S. L. em nome da Escola Nacional de Saúde Pública.
Todos os direitos reservados.
Sexual education, knowledge, beliefs, attitudes and behaviors in adolescents
ABSTRACT
Keywords: Sexual education Sexual behaviour Knowledge
Introduction: Because the incidence of STI, unplanned pregnancy and several other sexual risk behaviours are increasing among youngsters, it is accepted that they are given high priority in intervention in what sexual and reproductive health is concerned. In order to promote healthy sexual attitudes and behaviours, it is crucial to implement a program
*Autor para correspondencia.
Correio electrónico: lramiro@fmh.utl.pt (L. Ramiro).
0870-9025X/$ - ver introdugao © 2010 Escola Nacional de Saúde Pública. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.
Attitudes of sexual education that aims at developing attitudes and skills in young people, hence
Beliefs enabling them to make well-informed decisions and feel confident about the choices they
HIV make.
AIDS Material and methods: This HBSC/WHO research evaluated the role of sexual education for
Teenagers Portuguese adolescents and their knowledge and attitudes about HIV/AIDS. Structured self-
reported questionnaires were responded within a classroom context by 3331 participants (1579 boys and 1752 girls), with an average age of 15 years.
Results: The results show that there are inumerous risk and protection factors related to sex behavior.
Conclusions: This suggests that sexual education should focus on preventive interventions, not only universal, including all teenagers and considering all the contexts in which they interact (the school professionals, family and peers), but also selective strategies delivered to targeted subgroups, once they are identified.
© 2010 Published by Elsevier España, S. L. on behalf of Escola Nacional de Saúde Pública.
All rights reserved.
Educaçâo sexual
A Educaçâo sexual é a mais importante forma de prevençâo de problemas ligados à saúde sexual e reprodutiva dos jovens. Constitui um processo continuo e permanente de aprendizagem e socializaçâo que abrange a transmissâo de informaçâo e o desenvolvimento de atitudes e competencias relacionadas com a sexualidade humana e, portanto, promove atitudes e comportamentos saudáveis1-3. O facto de os jovens terem actualmente muita facilidade em obter informaçâo nâo garante que estes escolham informaçâo correcta e consequentemente que as suas escolhas sejam as mais adequadas, por isso a educaçâo sexual poderá desempenhar um papel relevante na triagem desta informaçâo, contribuindo para que seja utilizada da melhor forma4. A educaçâo sexual nâo deve cingir-se a informaçoes sobre os aspectos físicos do acto sexual, é essencial a abordagem de outros aspectos, como os sentimentos e os afectos5.
Se considerarmos a educaçâo sexual a principal forma de prevenir comportamentos de risco, seja promovendo os comportamentos preventivos, seja alterando os comportamentos iniciais de risco, deve-se ter em conta a) a importância da aquisiçâo das competencias cognitivas e comportamentais necessárias (à implementaçâo desses determinados comportamentos - ou à capacidade de mudança desses outros), b) a avaliaçâo da vulnerabilidade ao risco e da motivaçâo para a mudança e, ainda, c) os factores situacionais que possam intervir na implementaçâo desse comportamento/mudança, como sâo as normas sociais, a pressâo dos amigos (grupo de pares) e a influencia do parceiro.
Mas a educaçâo sexual, no ámbito da educaçâo para a saúde, implica, também, a consciencializaçâo do desenvolvimento dos jovens por parte dos agentes educativos envolvidos (de forma directa ou indirecta), como sâo as familias, escolas, comunidades, instituiçoes, organizaçoes nâo-governamentais, autarquias, institutos públicos e particulares, locais de lazer e diversâo.
Em Portugal, a implementaçâo da educaçâo sexual nas escolas tem originado, nos últimos anos, um grande debate.
Em 1978, 1981 e 1984, a questao da despenalizagao do aborto dividiu a populagao portuguesa. Apesar de esta nao ter sido aceite nessa altura, esta questao justificou a primeira legislagao sobre educagao sexual nas escolas. Contudo, em 1985 a preocupagao com a educagao sexual voltou a sofrer uma estagnagao6. Em 1997, na sequencia da identificagao de vários problemas e necessidades nao resolvidos relativamente aos direitos sexuais e reprodutivos da populagao, a educagao para a sexualidade tornou-se obrigatória. Entre 1995 e 1998, o Programa de Promogao e Educagao para a Saúde e a Associagao para o Planeamento da Familia criaram o Projecto "Educagao Sexual e Promogao da Saúde nas Escolas — Um Projecto Experimental". Até 2005 pretendeu-se fazer uma generalizagao gradual desta experiencia nas escolas portuguesas no sentido da integragao regular de projectos e actividades de Educagao Sexual nos vários niveis de ensino7.
Em 2000, os Ministérios da Educagao e da Saúde produziram as linhas orientadoras da educagao sexual em meio escolar8. Este documento foi crucial pois apresentou, pela primeira vez, os valores essenciais que deviam (e devem) orientar a educagao sexual escolar em termos de politica educativa, bem como os principais objectivos da mesma, nos dominios dos conhecimentos, das atitudes e das competencias, potenciando a efectiva dinamizagao da educagao sexual em meio escolar.
Em 2005 foi criado um Grupo de Trabalho de Educagao Sexual (GTES) que determinou que a educagao sexual seria abordada no ámbito de um programa de promogao da saúde. De acordo com as recomendagoes deste grupo de trabalho, no relatório final apresentado em 2007, os assuntos a abordar deviam envolver, entre outros, o entendimento da sexualidade como uma das componentes mais sensiveis da pessoa, no contexto de um projecto de vida que engloba valores e uma dimensao ética, a compreensao dos aspectos relacionados com as principais ISTs (incluindo o VIH/SIDA), a maternidade na adolescencia e a interrupgao voluntária da gravidez, assim como aspectos relacionados com o uso de métodos contraceptivos e preservativo para a prevengao da gravidez na adolescencia e das ISTs, respectivamente.
O Relatório final3 das actividades deste grupo aponta para a existencia de um número significativo de escolas do ensino
básico que já dedicavam uma das novas áreas curriculares nao disciplinares (Formagáo Cívica, Área de Projecto ou Estudo Acompanhado) á Educagáo para a Saúde - e em que a educagáo sexual está contemplada - e propoe a avaliagáo de um conjunto de conteúdos considerados mínimos. Para facilitar a dinamizagáo da educagáo sexual em meio escolar, é proposto que o professor coordenador possa usufruir de uma redugáo de tres horas na componente lectiva. Mais recentemente o ministério criou legislagáo (Lei n.° 60/2009) que estabelece a obrigatoriedade da aplicagáo da ES em meio escolar, identificando uma carga horária mínima a ser aplicada a cada nível de ensino, potenciando, assim, a implementagáo da mesma.
A promogáo da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes é um importante contributo para a sua formagáo pessoal e social, e a sensibilizado para a importancia da educagáo sexual como meio de promogáo da saúde nas escolas tem aumentado significativamente, dando origem á criagáo de um modelo de intervengáo para as escolas. É essencial que este modelo se desenvolva tendo em conta as características próprias da adolescencia e que se generalize ás escolas de todo o país, permitindo que se consigam obter ganhos na saúde dos nossos adolescentes.
Estudo HBSC/OMS - Health Behaviour in School-aged Children: o Comportamento Sexual dos Adolescentes Portugueses em 2006
O estudo dos comportamentos relacionados com a saúde dos adolescentes e dos factores que influenciam esses comportamentos é essencial para o desenvolvimento de políticas de educaçao para a saúde e para programas de intervençao dirigidos a adolescentes, pais e profissionais na área.
O HBSC/ OMS (Health Behaviour in School-aged Children) é um estudo colaborativo da Organizaçao Mundial de Saúde, realizado de 4 em 4 anos por uma rede europeia de profissionais ligados à saúde e educaçao. Portugal participa neste estudo desde 1994 através da equipa do Projecto Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana.
Tabela 1 - Características demográficas da amostra
(N = 3331)
N % M DP
Género
Rapaz 1.579 47,4
Rapariga 1.752 52,6
Idade 15,07 1,34
8° ano 16,08 0,92
10° ano 14,16 0,96
Nacionalidade
Portuguesa 3.101 96,5
CPCL (Africana + Brasileira) 111 3,5
Nível socioeconómico
Baixo 1.816 68,0
Médio Alto 854 32,0
Ano de escolaridade
8.° ano 1.740 52,2
10.° ano 1.591 47,8
Método
Participantes
Como se pode ver na tabela 1, a amostra do estudo HBSC de 2006, realizado pela equipa do Projecto Aventura Social, é constituída por 3331 adolescentes, dos quais 47,4 % sáo rapazes e 52,6 % raparigas, com uma média de idades de 15 anos (DP = 1,34). A maioria dos adolescentes é de nacionalidade portuguesa (96,5 %) e apresenta um baixo estatuto socioeconómico (68 %). No que diz respeito ao ano de escolaridade, 52,2 % frequentam o 8.° ano e 47,8 % frequentam o 10.° ano e estáo distribuídos proporcionalmente pelas 5 regioes educativas do Continente (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve). A amostra foi aleatória e tem representatividade nacional para os jovens que frequentam estes graus de ensino, no ensino oficial9.
Medidas
O instrumento de avaliagáo utilizado no estudo portugués é o adoptado no estudo Health Behaviour in School-aged Children10. Do questionário, que engloba um vasto conjunto de questoes sobre comportamentos e estilos de vida na adolescéncia, foram seleccionadas questoes relacionadas com aspectos sociodemográficos, comportamento sexual, e conhecimentos, crengas e atitudes face ao VIH/SIDA.
Procedimento
A recolha de dados realizou-se em 2006, tendo sido seleccionados os 8.° e 10.° anos de escolaridade, distribuídos por 136 escolas públicas do ensino regular. No sentido de se obter uma amostra representativa da populagáo escolar portuguesa das idades indicadas no protocolo internacional, foram seleccionadas aleatoriamente escolas da lista nacional do Ministério da Educagáo, estratificada por regioes do país (cinco regioes escolares: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve). De acordo com o protocolo de aplicagáo do questionário Health Behaviour in School-aged Children (HBSC), a técnica de escolha da amostra foi a "cluster sampling" em que o "cluster" ou unidade de análise foi a turma. A administragáo dos questionários realizou-se no contexto da sala de aula. O preenchimento dos questionários foi supervisionado por um professor, ao qual era dirigida uma carta relativa aos procedimentos para a sua aplicagáo. Antes do preenchimento, os alunos foram informados que a resposta ao questionário era voluntária, confidencial e anónima. O tempo de preenchimento do questionário situou-se entre os 60 e os 90 minutos.
Resultados
As análises e procedimentos estatísticos foram efectuados através do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versáo 18.0) para Windows.
Comportamento sexual
A maioria dos jovens afirma que nunca teve relaçôes sexuais (77,3 %). Dos jovens que referem ter iniciado a sua vida sexual, 27,4 % sao rapazes e 18,6 % sao raparigas (tabela 2).
Diferenças entre género para as questôes relativas ao comportamento sexual - Amostra que referiu já ter tido relaçôes sexuais
Observou-se que, do total da amostra, 723 jovens já tinham iniciado a sua vida sexual. Destes, 71,1 % referem ter tido a sua primeira relaçao sexual aos 14 anos ou mais
Tabela 2 - Frequência de relaçôes sexuais - Amostra (N = 3331)
Relaçôes sexuais
Sim Nao
Amostra Total 22,7 77,3
Género
Rapaz 27,4 72,6
Rapariga 18,6 81,4
tarde; 87,8 % usou contracepgao na última relagao sexual, designadamente o preservativo (94,1 %), e a maioria mencionou nunca ter tido relagoes sexuais sob o efeito do álcool ou drogas (85,9 %).
Os resultados mostraram que, apesar de, quer a maioria de rapazes (61 %), quer de raparigas (83,8 %) terem tido a primeira relagao sexual aos 14 aos ou mais tarde, os rapazes (24,6 %) mais frequentemente que as raparigas (12,3 %) iniciaram entre os 12 e os 13 anos; e as raparigas (83,8 %) mais frequentemente que os rapazes (61 %) aos 14 anos ou mais tarde.
Quanto á utilizagao de método contraceptivo na última relagao sexual, rapazes (77,3 %) e raparigas (98,5 %) usaram-no, mas os rapazes (22,7 %) mais frequentemente que as raparigas (1,5 %) nao usaram.
Relativamente á escolha do método contraceptivo na última relagao sexual, rapazes (93,6 %) e raparigas (94,8 %) optaram pelo preservativo. No entanto, as raparigas (55,1 %) mais frequentemente que os rapazes (36,8 %) optaram pela pílula e os rapazes (6,5 %) mais frequentemente que as raparigas (0,8 %) optaram pelo espermicida.
No que diz respeito ás relagoes sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas, existem mais rapazes (17,1 %) do que raparigas (10,4 %) a referir que tiveram relagoes sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas (tabela 3).
Tabela 3 - Diferengas entre género para as questoes relativas ao comportamento sexual - Amostra que referiu já ter tido relagoes sexuais (N = 723)
Jovens que já tiveram relaçôes sexuais
Rapaz (N N = 404) % Rapariga (N = 319) N% Total (N N = 723) % x2
Idade da 1.a relagao sexual 45,690***
11 anos ou menos 56 14,4 12 3,9 68 9,7
12-13 anos 96 24,6 38 12,3 134 19,2
14 anos ou mais 238 61,0 259 83,8 497 71,1
Uso de métodos contraceptivos na última relagao sexual 13,713***
Sim 51 77,3 64 98,5 115 87,8
Nao 15 22,7 1 1,5 16 12,2
Métodos contraceptivos escolhidos na última relagao sexual
Preservativo 0,413
Sim 321 93,6 256 94,8 577 94,1
Nao 22 6,4 14 5,2 36 5,9
Pílula 10,904***
Sim 53 36,8 103 55,1 156 47,1
Nao 91 63,2 84 44,9 175 52,9
Coito interrompido 0,947
Sim 13 11,7 20 16,1 33 14,0
Nao 98 88,3 104 83,9 202 86,0
Espermicida 5,299*
Sim 7 6,5 1 0,8 8 3,5
Nao 101 93,5 118 99,2 219 96,5
Relagoes sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas 6,394*
Sim 64 17,1 32 10,4 96 14,1
Nao 310 82,9 277 89,6 587 85,9
*p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.
Diferenças entre géneros para as questoes relativas ao comportamento sexual
Mais de metade dos alunos refere que a maioria dos jovens da sua idade nunca teve relaçoes sexuais (55,1 %) e que os jovens costumam iniciar a sua vida sexual com 14 anos ou mais (80,2 %). A maior parte dos adolescentes refere que quando os jovens têm relaçoes sexuais é o casal que decide quando é a altura (57,2 %), e que têm relaçoes sexuais porque querem experimentar (53,4 %) e porque estâo apaixonados (49,9 %), que as principais razoes para o uso do preservativo sao evitar a gravidez (80,9 %) e a transmissâo do VIH/SIDA (73,3 %) mas também de outras IST's (74,6 %). A maioria dos inquiridos refere que se sentiria à vontade para conversar com o parceiro sobre o uso de preservativo (75 %), convencer o parceiro a usar preservativo (76,5 %), recusar ter relaçoes sexuais sem preservativo (69,8 %) e recusar ter relaçoes se nao quisesse (75,4 %).
Quando comparados os géneros, constata-se que os rapazes referem mais frequentemente que os jovens da sua idade nao tiveram relaçoes sexuais (58,9 %) e que têm a primeira relaçao sexual porque querem experimentar (56,5 %). As raparigas referem mais frequentemente que quando os jovens têm relaçoes sexuais decidem os dois quando acham que é a melhor altura (61,2 %), que têm a primeira relaçao sexual porque estao muito apaixonados (54,2 %) e porque namoram há muito tempo (34,1 %).
Quando questionadas sobre as razoes para o uso do preservativo, as raparigas referem mais frequentemente que serve para evitar IST's (78,2 %) e o VIH/SIDA (74,8 %).
Por outro lado, os rapazes sentem-se mais à vontade para falar com o parceiro sobre o uso do preservativo (79 %). As raparigas referem que se sentem à vontade para recusar ter relaçoes sexuais se nao quiserem (83 %) e recusar ter relaçoes sexuais sem o uso do preservativo (76,6 %); no entanto, sentem-se pouco à vontade para convencer o parceiro a usar o preservativo (12,1 %) (tabela 4).
Questoes relativas à Educaçâo Sexual
Como se pode observar na tabela 5, a maioria dos jovens refere que a educaçao sexual serve para ajudar a ter mais informaçao (81,8 %) e tirar dúvidas (53,9 %). Estes jovens referem que se sentem à vontade para falar de educaçao sexual com os amigos (85,4 %) e colegas (69,9 %), e pouco à vontade para falar com os pais (61,5 %) e professores (73,3 %).
Diferenças entre géneros para as questoes relativas à Educaçâo Sexual
As raparigas referem mais frequentemente que a educaçao sexual serve para ter mais informaçao (83,4 %) e tirar dúvidas (59,5 %) do que os rapazes (80,1 % e 47,6 %, respectivamente). Quando questionadas sobre como se sentem a falar de educaçao sexual, as raparigas referem mais frequentemente que os rapazes que se sentem pouco à vontade para falar com os professores (75,3 %) e pais (65,3 %) (71,1 % e
57,2 %, respectivamente). Os rapazes mencionam mais frequentemente que as raparigas que se sentem á vontade para falar com os amigos (87,5 %) e colegas (77,2 %) (83,6 % e 63,4 %, respectivamente).
Questoes relativas a conhecimentos, crengas e atitudes face ao VIH
Relativamente aos conhecimentos face ao VIH, a maior parte dos jovens refere que uma pessoa pode ficar infectada pela partilha de seringas (89,8 %), através da transmissáo máe/feto (80,2 %), com relagoes sexuais sem preservativo (86,7 %) e transfusoes de sangue (64,6 %). Sabem que uma pessoa aparentemente saudável pode ser portadora de VIH (78,2 %), que náo há transmissáo do VIH através de espirros (62,6 %), abragos (83,6 %), partilha de utensilios para comer e beber (48,1 %) e que a pílula náo previne a transmissáo do VIH (67 %).
Quanto ás crengas e atitudes face ao VIH, a maioria dos jovens menciona que náo corre risco de estar infectado pelo VIH (57,2 %), que náo teve relagoes sexuais sem usar preservativo (91,6 %) e náo partilhou seringas (98,1 %). Grande parte dos jovens concorda que deve ser permitido aos jovens infectados com VIH frequentar a escola (69,3 %), que assistiriam a uma aula ao lado de um colega com VIH (66,6 %) e que visitariam um amigo com VIH (80,6 %). Discordam que deixariam de ser amigos de uma pessoa por esta ter VIH (74,5 %) e que as pessoas com VIH deveriam viver á parte do resto da populagáo (80,8 %).
No que diz respeito ás fontes de informagáo sobre o VIH ou outras IST's, as mais mencionadas pelos jovens sáo os programas de televisáo (66,3 %), os folhetos (65,8 %) e a Internet (65,8 %).
Diferengas entre géneros para as questoes relativas a conhecimentos, crengas e atitudes face ao VIH
No que se refere ás diferengas entre os géneros, observou-se que as raparigas apresentam mais conhecimentos, crengas e atitudes positivas face ao VIH, também referem mais frequentemente que uma pessoa pode ficar infectada pelo VIH se houver partilha de seringas (92,3 %), através da transmissáo via máe/feto (83,9 %), através de relagoes sexuais sem o uso do preservativo (91 %), transfusoes de sangue (68,5 %) e que uma pessoa aparentemente saudável pode estar infectada com o virus (81,7 %). Também sáo elas que afirmam mais frequentemente que uma pessoa náo fica infectada se abragar alguém com VIH (87,2 %), que tomar a pílula náo protege a mulher de ficar infectada (69,2 %), e que náo há transmissáo através de tosse ou espirros (65,4 %) nem através de partilha de utensilios de comer e beber (51,6 %).
As raparigas mencionam mais frequentemente que visitariam um amigo infectado com o VIH (85,5 %), que deve ser permitido aos jovens com VIH frequentar a escola (73,8 %) e que eram capazes de assistir a uma aula ao lado de um colega infectado (72,9 %) e discordam que as pessoas infectadas deveriam viver á parte na sociedade (85,1 %) e que deixariam
Tabela 4 - Diferenças entre género para as questoes relativas ao comportamento sexual - Amostra (N = 3331)
Rapaz N % Rapariga N % Total N % x2
Maioria dos jovens da tua idade já teve relaçoes sexuais 13.205™
Sim 4S7 41,1 67S 4S,2 1.165 44,9
Näo 699 58,9 729 51,8 1.42S 55,1
Percepçao da idade em que os outros jovens tiveram 3.152
a primeira relaçao sexual
11 anos ou menos 22 3,0 23 2,5 45 2,7
12-13 anos 113 15,2 167 1S,5 2S0 17,0
14 anos ou mais 606 S1,S 714 79,0 1.320 80,2
Quando os jovens têm relaçoes sexuais... 73.321™
É o rapaz que toma a iniciativa 520 37,1 415 26,5 935 31,5
É a rapariga que toma a iniciativa 42 3,0 12 0,S 54 1,S
Decidem os dois quando acham que é a altura 740 52,8 95S 61,2 1.69S 57,2
Têm relaçôes porque um deles insiste 69 4,9 140 S,9 209 7,0
Outra razäo 30 2,1 41 2,6 71 2,4
Os jovens têm a sua primeira relaçao sexual porque...
Querem experimentar 11.69S™
Sim S92 56,5 SS6 50,6 1.77S 53,4
Näo 6S7 43,7 S66 49,4 1.553 46,6
Estao muito apaixonados 27.703™
Sim 712 45,1 950 54,2 1.662 49,9
Näo S67 54,9 S02 45,8 1.669 50,1
Já namoram há muito tempo 55.S22™
Sim 354 22,4 59S 34,1 952 2S,6
Näo 1.225 77,6 1.154 65,9 2.379 71,4
Razoes para uso do preservativo
Evitar a gravidez 3.7S2
Sim 1.255 79,5 1.439 S2,1 2.694 80,9
Näo 324 20,5 313 17,9 637 19,1
Evitar o VIH/SIDA 4.1S2'
Sim 1.132 71,7 1.311 74,8 2.442 73,3
Näo 447 28,3 441 25,2 SSS 26,7
Evitar outras IST's 25.601™
Sim 1.114 70,6 1.370 78,2 2.4S4 74,6
Näo 465 29,4 382 21,8 S47 25,4
Como te sentirias nas seguintes situaçoes
Conversar com o parceiro sobre o uso do preservativo 42.907™
À vontade 1.143 79,0 1.1S1 71,5 2.324 75,0
Pouco à vontade 104 7,2 231 14,0 335 10,S
Näo me sinto capaz 33 2,3 5S 3,5 91 2,9
Näo sei 167 11,5 1S2 11,0 349 11,3
Convencer o parceiro a usar preservativo 21.S20™
À vontade 1.121 76,9 1.269 76,1 2.390 76,5
Pouco à vontade 11S 8,1 201 12,1 319 10,2
Näo me sinto capaz 33 2,3 45 2,7 7S 2,5
Näo sei 1S5 12,7 152 9,1 337 10,S
Recusar ter relaçoes sexuais sem preservativo S1.71S™
À vontade 910 62,0 1.2S0 76,6 2.190 69,8
Pouco à vontade 1S5 12,6 111 6,6 296 9,4
Näo me sinto capaz 140 9,5 100 6,0 240 7,7
Näo sei 232 15,8 179 10,7 411 13,1
Recusar ter relaçoes sexuais se nao quiser 112.772"
À vontade 976 66,8 1.3S7 83,0 2.363 75,4
Pouco à vontade 165 11,3 S3 5,0 24S 7,9
Näo me sinto capaz S2 5,6 50 3,0 132 4,2
Näo sei 239 16,3 151 9,0 390 12,4
'p S 0,05; "p S 0,01; ™p S 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.
Tabela 5 - Diferenças entre género para as questôes relativas à Educaçao Sexual - Amostra (N = ЗЗЗ1)
Rapaz Rapariga Total x2
N % N % N %
A Educagao Sexual serve para te ajudar a...
Ter mais informagao 6.224'
Sim 1.264 80,1 1.461 83,4 2.725 81,8
Nao Э15 19,9 291 16,6 606 18,2
Tirar dúvidas que tens 47.Э84"'
Sim 752 47,6 1.04Э 59,5 1795 53,9
Nao 827 52,4 709 40,5 15Э6 46,1
Como te sentes a falar de Educagao Sexual com:
Os teus amigos 9.448"
Pouco á vontade 186 12,5 275 16,4 461 14,6
Á vontade 1.Э00 87,5 1.404 83,6 2.704 85,4
Os teus pais 22.171-»
Pouco á vontade 859 57,2 1.107 65,3 1.966 61,5
Á vontade 64Э 42,8 588 34,7 1.2Э1 Э8,5
Os teus colegas 72.Э11»-
Pouco á vontade Э41 22,8 621 36,6 962 Э0,1
Á vontade 1.155 77,2 1.074 63,4 2.229 69,9
Os teus professores 7.180"
Pouco á vontade 1.058 71,1 1.275 75,3 2.ЭЭЭ 73,3
Á vontade 4Э1 28,9 419 24,7 850 26,7
'p S 0,05; "p S 0,01; ™p S 0,001. A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado : а |1,9|.
de ser amigas de uma pessoa por esta estar infectada com VIH (81 %).
Relativamente à percepçäo de risco de infe^äo com VIH, as raparigas referem mais frequentemente que näo correm riscos (60 %) e que näo tiveram relaçôes sem usar preservativo (9Э,7 %).
No que diz respeito às fontes de informaçäo sobre o VIH, as raparigas recorrem mais aos folhetos (71,9 %), aos programas de televisäo (69,8 %) e à Internet (67,7 %) como fontes de informaçäo (tabela 6).
Discussao
Os resultados obtidos permitem afirmar que a maioria näo é sexualmente activa, teve a sua primeira re^äo sexual aos 14 anos ou mais tarde, utilizou o preservativo como contracepçäo na última re^äo sexual e nunca teve relaçôes sexuais associadas ao consumo de álcool e drogas. Na comparaçäo entre géneros, verifica-se que existe uma tendencia dos rapazes para iniciar a vida sexual antes das raparigas; säo as raparigas quem mais refere ter utilizado contraceptivos na última re^äo sexual e existem mais rapazes a referir que tiveram relaçôes sexuais associadas ao consumo de álcool e drogas (tabelas 2 e Э).
Quando questionados sobre se a maioria dos outros jovens já teve relaçôes sexuais, a maioria dos jovens considera que os seus pares iniciaram a vida sexual aos 14 anos de idade ou mais tarde, e säo os rapazes que consideram que os outros jovens iniciaram a vida sexual mais tarde que as raparigas. Mais de metade dos jovens considera que a decisäo de ter relaçôes sexuais cabe aos dois elementos do casal. Existem
mais rapazes do que raparigas que consideram que é o rapaz que toma a iniciativa. Para a maior parte dos jovens, a primeira re^äo sexual surgiu por vontade de experimentar e também porque estavam apaixonados. Na questäo sobre as funçôes do preservativo, mais de metade dos jovens escolheu em primeiro lugar a opçäo "evitar a gravidez". Em segundo lugar a opçäo escolhida foi "evitar outras IST" e em terceiro lugar "evitar o VIH/SIDA" (tabela 4).
Relativamente às diversas situaçôes relacionadas com o uso do preservativo, cerca de metade dos jovens da amostra refere que se sentiria muito à vontade a conversar com o par sexual sobre o uso de preservativo; a convencer o par sexual a usar preservativo; a recusar ter relaçôes sexuais sem usar preservativo se o par näo quiser usar; e a recusar ter relaçôes sexuais se näo quiser. Verifica-se que os rapazes sentem mais facilidade em conversar sobre o uso do preservativo e as raparigas dizem sentir-se mais à vontade em recusar relaçôes sexuais sem preservativo. No que diz respeito à facilidade em recusar relaçôes sexuais se näo quiser, säo as raparigas que referem sentir-se mais à vontade para o fazer (tabela 4).
Mais de metade dos jovens considera que a educaçäo sexual serve para obter mais informaçäo. A maior parte dos jovens prefere falar sobre educaçäo sexual com os amigos e os colegas, mostrando dificuldade em conversar com pais e professores. No que diz respeito às conversas sobre educaçäo sexual com os amigos, säo os rapazes quem se sente mais à vontade. Quanto às conversas sobre educaçäo sexual com os pais, säo as raparigas quem se sente menos à vontade. No que diz respeito à facilidade em conversar sobre educaçäo sexual com os professores, a percentagem de rapazes é significativamente superior à percentagem das raparigas (tabela 5).
Tabela 6 - Diferengas entre género para as questoes relativas a conhecimentos, crengas e atitudes face ao VIH - Amostra (N = 3331)
Rapariga
Rapariga Total
Achas que: 26.952*"
Uma pessoa pode ficar infectada com o VIH/SIDA se usar uma agulha e/ou seringa já utilizada por outra pessoa Sim 1.286 86,8 1.545 92,3 2.831 89,8
Nao 41 2,8 33 2,0 74 2,3
Nao sei 154 10,4 95 5,7 249 7,5
Se alguém infectado com o VIH/SIDA tosse ou espirra 21.554** perto de outras pessoas, estas podem ficar também infectadas
Razoes porque corres risco de ser infectado: Já tive relagoes sexuais sem usar preservativo
Sim 168 10,6
Nao 1.411 89,4
Já partilhei seringas Sim 37 2,3
Nao 1.542 97,7
111 1.641
27 1.725
6,3 93,7
1,5 98,5
279 3.052
64 3.267
1,9 98,1
Opiniáo para cada uma das seguintes afirmaçôes:
Se uma mulher infectada com o VIH/SIDA estiver grávida, o seu bebé pode ficar infectado Sim 1.146 75,9 1.418 83,9 2.564
Nao 102 6,8 48 2,8 150
Nao sei 261 17,3 224 13,3 485 Uma pessoa pode ficar infectada com o VIH/SIDA por abracar alguém que está infectado Sim 99 6,6 76 4,5 175
41.008*
4,7 15,2
35.064*"
Nao 1.202 79,5 1.471 87,2 2.673 83,6
Nao sei 210 13,9 139 8,2 349 10,9
Tomar a pilula pode proteger uma mulher de ser infectada com o VIH/SIDA 8.113*
Sim 188 12,4 173 10,2 361 11,3
Nao 976 64,6 1.169 69,2 2.145 67,0
Nao sei 347 23,0 347 20,5 694 21,7
Uma pessoa pode ficar infectada pelo VIH/SIDA se relagoes sexuais sem utilizar preservativo, mesmo seja uma só vez tiver que 57.157**
Sim 1.234 81,9 1.532 91,0 2.766 86,7
Nao 95 6,3 55 3,3 150 4,7
Nao sei 177 11,8 96 5,7 273 8,6
Uma pessoa pode parecer infectada com o VIH/SIDA muito saudável e estar 37.167**
Sim 1.119 74,2 1.366 81,7 2.485 78,2
Nao 118 7,8 59 3,5 177 5,6
Nao sei 271 18,0 246 14,7 517 16,3
certeza Discordo
Uma pessoa pode ficar infectada com o VIH/SIDA 18.300*
por usar utensilios para comer ou beber (pratos, talheres, copos) já usados por outra pessoa Sim 376 25,0 350 20,8 726 22,8
Nao 665 44,1 869 51,6 1.534 48,1 Sim 926 62,4 1.157 69,8 2.083 66,3
Nao sei 466 30,9 465 27,6 931 29,2 Nao 140 9,4 121 7,3 261 8,3
Uma pessoa pode ficar infectada com o VIH/SIDA com 24.996*** Talvez 418 28,2 379 22,9 797 25,4
uma transfusáo de sangue, num hospital, em Portugal Ler um folheto sobre esse assunto
Sim 908 60,3 1.152 68,5 2.060 64,6 Sim 881 59,1 1.195 71,9 2.076 65,8
Nao 189 12,5 150 8,9 339 10,6 Nao 166 11,1 108 6,5 274 8,7
Nao sei 409 27,2 379 22,5 788 24,7 Talvez 443 29,7 360 21,6 803 25,5
Correr risco de ser infectado pelo VIH
47.821*
Ver na Internet
Sim 298 20,9 190 11,7 488 16,0 Sim 942 63,7 1.127 67,7 2.069 65,8
Nao 770 54,1 972 60,0 1.742 57,2 Nao 166 11,2 183 11,0 349 11,1
Nao sei 355 24,9 458 28,3 813 26,7 Talvez 371 25,1 354 21,3 725 23,1
20.047*
Sim 253 16,8 192 11,4 445 13,9 Eu deixaria de ser amigo duma pessoa que estivesse 84.079
Nao 896 59,4 1.106 65,4 2.002 62,6 infectada com o VIH
Nao sei 360 23,9 393 23,2 753 23,5 Concordo 147 9,8 75 4,5 222 7,0
Nao tenho 345 23,0 243 14,5 certeza
Discordo 1.006 67,2 1.360 81,0 2.366 74,5 Deve ser permitido aos jovens infectados com o VIH frequentar a escola
Concordo 959 64,4 1.229 73,8 Nao tenho 291 19,5 259 15,5 certeza
Discordo 240 16,1 178 10,7 Eu era capaz de assistir a uma aula ao lado de um colega infectado com o VIH Concordo 887 59,5 1.219 72,9 Nao tenho 407 27,3 342 20,4 certeza
Discordo 197 13,2 112 6,7 Eu visitaria um amigo(a) que estivesse infectado(a) com o VIH
Concordo 1.115 75,0 1.425 85,5 2.540 80,6 Nao tenho 252 17,0 192 11,5 444 14,1
588 18,5
2.188 69,3 550 17,4
418 13,2
2.106 66,6 749 23,7
309 9,8
34.669*
71.127*
63.935*
9,3 9,9
119 8,0 50 3,0 160 5,4
As pessoas infectadas com o VIH deveriam viver a parte do resto da populagao Concordo 173 11,6 120 7,2 293 Nao tenho 185 12,4 129 7,7 314 certeza
Discordo 1.132 76,0 1.419 85,1 2.551 80,8 Fontes de informagao sobre VIH/SIDA ou outras IST's:
Ver programa de televisao sobre esse assunto
41.964*
19.439*
59.035*
6.903*
*p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001.
A negrito os valores a que corresponde um residual ajustado > |1,9|.
Concluindo, grande parte dos jovens sabe identificar correctamente os modos de transmissäo do VIH. As raparigas têm mais respostas correctas. Quando questionados sobre as crenças e atitudes face ao VIH/SIDA, a maioria dos jovens apresenta crenças e atitudes positivas. As raparigas apresentam menos preconceitos que os rapazes (tabela 6).
Uma das limitaçoes deste estudo é o facto de se reportar a dados recolhidos em 2006. No entanto, é necessário ter em conside^äo que o mesmo é realizado de 4 e 4 anos, pelo que os dados apresentados säo os mais recentes. Espera-se que os dados recolhidos em 2010 possam vir a acrescentar mais conhecimento ao papel da educaçäo sexual na evol^äo dos conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos nos adolescentes portugueses.
Acresce que näo foi objecto de estudo as disparidades socioculturais da popu^äo estudada, apesar da recolha ter sido efectuada em todas as regioes educativas do Continente.
Comparaçâo dos resultados do estudo do HBSC entre 2002 e 2006
No geral, comparando os resultados de 2002 e 2006 näo se verificam alteraçoes significativas nos principais comportamentos sexuais de risco, ou seja, mantém-se a média na idade de início das relaçoes sexuais bem como a percentagem de adolescentes que já iniciou a sua vida sexual.
No entanto, há duas alteraçoes significativas a registar. Por um lado, verifica-se uma grande diminu^äo no número dos adolescentes sexualmente activos que näo usam preservativo nas relaçoes sexuais; por outro lado, há uma diminu^äo dos conhecimentos dos adolescentes face aos modos de transmissäo do VIH /SIDA.
O primeiro dado - menos adolescentes näo usam preservativo nas relaçoes sexuais - sugere uma melhoria em termos de saúde sexual reprodutiva pois há menos jovens a indicar esse comportamento de risco. Talvez essa melhoria se deva à concretizaçäo cada vez mais frequente e sistemática da educaçäo sexual, uma vez que o ministério da educaçäo tem procurado implementá-la através de legis^äo e de uma parceria eficaz com o ministério da saúde.Também os professores - agentes cruciais deste processo - consideram o tema da contracepçäo e sexo seguro como um dos mais importantes da educaçäo sexual, e simultaneamente é dos temas em que se sentem mais confortáveis para abordar, potenciando deste modo a probabilidade deste tema ser abordado11.
Quanto ao segundo dado - diminu^äo dos conhecimentos dos adolescentes face aos modos de transmissäo do VIH/ SIDA - este parece sugerir um retrocesso em termos de saúde sexual reprodutiva. Este tópico refere-se näo só ao uso do preservativo em todas as relaçoes sexuais (questäo que suscitou menos dúvidas aos respondentes) mas, também, a outros meios de transmissäo, como a partilha de seringas e a transmissäo vertical.Para além de avaliar os conhecimentos correctos, também questiona crenças como a tosse, os espirros e os abraços poderem ou näo facilitar a transmissäo do VIH/SIDA, ou se a toma da pílula contraceptiva protege
a mulher de infe^äo, por exemplo. Também em re^äo a este tópico os professores apontam grande importância e referem sentir-se confortáveis11, pelo que pode ter sido feito igual investimento em termos de educaçäo sexual. Apesar disso, reflecte um retrocesso em termos de saúde sexual reprodutiva porquanto é comummente aceite pela comunidade científica que quanto mais conhecimentos em re^äo aos comportamentos sexuais de risco, maior a probabilidade de um indivíduo ter atitudes e comportamentos sexuais preventivos. Contudo, no caso do VIH/SIDA em particular, alguns autores têm avançado a explicaçäo de que se está a generalizar a crença de que o preservativo resolve tudo e que o seu uso näo requer mais informaçoes, aceitando-se que seja esta a explicaçäo da diminu^äo dos conhecimentos dos adolescentes desta amostra face aos modos de transmissäo do VIH/SIDA, especialmente porque a maioria näo usa substância injectáveis nem está grávida.
Quanto à atitude de discriminaçäo face a portadores de VIH e SIDA, esta parece aumentar em 2006, confirmando a associaçäo, já encontrada em 2002, entre ignorância e discriminaçäo.
Quanto às fontes de informaçäo sobre sexualidade e VIH/SIDA, destacamos um aumento significativo dos utilizadores das informaçoes encontradas na Internet. Este aumento pode ser encarado como evidência da massificaçäo desta (nova) forma de difusäo de informaçäo, sendo essencial que se assegure que os jovens sabem identificar a informaçäo correcta.
Analisando os resultados deste estudo nacional, verificamos que existem múltiplos factores de risco e prote^äo, que determinam os comportamentos sexuais de risco dos adolescentes. Säo vários os autores que referem a necessidade de realizar a preve^äo dos comportamentos sexuais de risco o mais cedo possível, uma vez que vários estudos mostram que o envolvimento em comportamentos de risco aumenta com a idade12'13.
Conclusäo
A educaçäo sexual é um processo contínuo e permanente de aprendizagem que abrange a transmissäo de informaçäo e o desenvolvimento de atitudes e comportamentos saudáveis13. Enquanto processo de aprendizagem, a educaçäo sexual começa na infância, em família, mas uma vez que os jovens passam um tempo significativo na escola, esta constitui-se como um lugar privilegiado para a sua concretizaçäo.
Assim, envolver os pais e os professores poderá ser determinante na prote^äo para o envolvimento em comportamentos sexuais de risco, uma vez que estes constituem elementos fundamentais na vida dos adolescentes.
Relativamente aos pais, alguns estudos sugerem que muitos pais mencionam precisar de ajuda, quando se trata de falar sobre sexualidade, pois näo sabem o que dizer14; outros pais admitem näo ter muitos conhecimentos teóricos sobre este tipo de assunto15.
No que diz respeito à influência da escola, estudos realizados com professores do ensino básico e secundário11,16 mostraram que a maior parte dos professores (cerca de 72 %) referiu näo
ter prática em educaçäo sexual em meio escolar, apesar de considerarem que possuem conhecimentos e atitudes favoráveis à mesma, formaçäo complementar na área e um grau de conforto aceitável para dinamizarem actividades. Um resultado extremamente relevante nestes dois estudos refere-se ao facto de apenas uma percentagem inferior a um terço dos professores avaliados relatar ter inte^äo de se envolver na educaçäo sexual no futuro, sugerindo a necessidade de se reavaliar as condiçoes necessárias à implementaçäo de programas de educaçäo sexual em meio escolar no nosso país.
Também os pares säo identificados como muito influentes. Os estudos referem que os amigos determinam as escolhas dos adolescentes no que diz respeito ao comportamento sexual, à contracepçäo e ao uso do preservativo17. Também a percepçäo da idade de início das relaçoes sexuais dos pares pode ser um factor importante a ter em conta, dada a influência da percepçäo do comportamento dos outros.
Sendo assim, é indispensável que sejam criadas condiçoes para uma maior implicaçäo das famílias na educaçäo e re^äo com a escola, que os professores aumentem o seu campo de competências e, especialmente, de interve^äo, e que os amigos tenham mais informaçäo e comportamentos preventivos. Deste modo, a realizaçäo de cursos de sensibilizaçäo para pais, de cursos de formaçäo para professores e formaçäo interpares pode ajudar a aumentar o campo de interve^äo e, consequentemente, a promover a mudança. A disponibilizaçäo, na comunidade, de Gabinetes de Esclarecimento, com abrangência em vários locais (como as escolas), constituídos por equipas multidisciplinares, com recurso às tecnologias mais recentes (principalmente a Internet), pode ajudar a implementaçäo de campanhas de preve^äo para o esclarecimento e orientaçäo dos jovens, nomeadamente facultando informaçäo sobre os métodos contraceptivos, entregando gratuitamente preservativos e pílulas.
As intervençoes têm de ter uma abordagem sistémica e, portanto, devem abarcar os diferentes contextos de vida do adolescente, tal como tem sido proposto recentemente1-3, em especial nas quatro áreas da saúde consideradas prioritárias, que incluem a preve^äo dos comportamentos sexuais de risco e das IST's, VIH e SIDA.
Ao delinear possíveis intervençoes, alguns autores apontam como estratégias relevantes para o aumento da felicidade dos indivíduos e da percepçäo de satisfaçäo de vida a participaçäo social activa, o aumento do número de acontecimentos agradáveis na vida diária e o foco da ate^äo nos aspectos agradáveis das vivências. Mais do que o número ou a variedade de actividades agradáveis, é fundamental prevenir e acompanhar o adolescente; ajudá-lo a descobrir-se, a conhecer-se e a comunicar; dotá-lo de competências para avaliar o seu próprio desenvolvimento, os acontecimentos de vida, o contexto, a sociedade e o mundo; trabalhar os seus recursos pessoais para lidar com os desafios de uma existência indutora de stress; envolvê-lo em comunidades que o integre, sejam criativas e promovam a saúde; despertar-lhe horizontes e ideais de vida; acompanhá-lo nas opçoes e reflexoes de vida; e desenvolver a sua responsabilidade e solidariedade para com a comunidade.
É ainda importante o reforço da autonomia, responsabilizaçäo e participaçäo social do adolescente e da importância destes factores na promoçäo da sua saúde.
O grande desafio para pais e professores é estar presente, estar atento, mas actuar responsabilizando, dando e exigindo, facilitando as tomadas de decisäo, promovendo uma reflexäo pessoal sobre a vida, expectativas de futuro e opçoes de vida associadas ao bem-estar.
Parece igualmente importante considerar aspectos determinantes, como säo as diferenças a nível de grupo relativamente a crenças e valores, conhecimentos, necessidades utilitárias e afectivas, que poderäo, por sua vez, constituir o resultado de diferentes processos desenvolvimentais, educacionais, culturais e sociais e nesse sentido a interve^äo tem de ser também mais específica para näo excluir esses grupos.
Sendo assim, é crucial que a educaçäo sexual incida em intervençoes do tipo preventivo de carácter universal, abrangendo toda a popu^äo escolar e respectivos contextos de vida: escola, família e grupo de pares; mas também intervençoes mais específicas em pequenos subgrupos identificados como prioritários.
Neste momento decisivo é urgente a aplicaçäo das liçoes retiradas dos estudos à vida real, que se espera longa e feliz dos jovens portugueses.
Agradecimentos
Revisäo linguística Célia Alves.
À Equipa do Projecto Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana.
À Coordenaçäo Nacional para a Infe^äo VIH/SIDA/Ministério da Educaçäo/IDT - Instituto da Droga e Toxicodependência.
Ao Health Behaviour in School-aged Children / Organizaçäo Mundial de Saúde.
Ao Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais/IHMT/ UNL.
À Fundaçäo para a Ciência e a Tecnologia/Ministério da Ciência e do Ensino Superior.
Conflito de interesse
Os autores declaram näo haver conflito de interesse.
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