J Pediatr (Rio J). 2014;90(6):580-586
Jornal de
Pediatría
www.jped.com.br
ARTIGO ORIGINAL
Impact of chronic kidney disease on quality of life, lung function, and functional capacity^
CrossMark
Carolina Guimaräes Teixeira, Maria do Carmo M.B. Duarte, Cecilia Maciel Prado, Emídio Cavalcanti de Albuquerque e Livia B. Andrade*
Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), Recife, PE, Brasil Recebido em 3 de dezembro de 2013; aceito em 28 de fevereiro de 2014
KEYWORDS
Renal insufficiency,
chronic;
Child;
Pulmonary function test;
Quality of life
Abstract
Objectives: To evaluate the impact of the chronic kidney disease (CKD) on quality of life, from the children's and their parents' perspective, respiratory muscle strength, lung function, and functional capacity in children and adolescents.
Method: Cross-sectional study of children with CKD aged 8 to 17 years. Those incapable of taking the tests were excluded. After an interview, quality of life by Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQLTM), muscular strength, pulmonary function tests, and the 6-minute walking test (6MWT) were applied. Student's t-test, ANOVA (difference in means), and Pearson's coefficient of correlation were used. The level of significance was set at 5%.
Results: Of the 40 patients, the mean distance walked at the 6MWT was 396 meters, and the mean final score at the quality of life test as perceived by the children and parents was 50.9 and 51, respectively. From the children's perspective, the transplanted patients had a higher quality of life score when compared to those undergoing hemodialysis (p< 0.001); those who practiced physical activity had better quality of life when compared to the sedentary children (p< 0.001). From the children's and the parents' perspectives, the male gender had a higher quality of life score (p < 0.05). There was a positive correlation between the distance walked at the 6MWT and age, height, final PedsQL™, forced vital capacity (FVC), and forced expiratory volume in the first second (FEVi), as well as a negative correlation between FEVi /FVC and the distance walked.
Conclusion: A significant reduction in the quality of life and the functional capacity was observed in children with CKD, influenced by the type of treatment, gender, and sedentary life style.
© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights reserved.
DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.Org/10.1016/j.jped.2014.03.002
* Como citar este artigo: Teixeira CG, Duarte MC, Prado CM, Albuquerque EC, Andrade LB. Impact of chronic kidney disease on quality of life, lung function, and functional capacity. J Pediatr (Rio J). 2014;90:580-86.
** Estudo vinculado ao Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), Recife, PE, Brasil.
* Autor para correspondencia.
E-mails: ftliviabandrade@gmail.com, liviabandrade2005@yahoo.com.br, liviaposimip@yahoo.com (L.B. Andrade).
2255-5536/© 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
Repercussâo da doenca renal crónica na qualidade de vida, funçâo pulmonar e capacidade funcional
Resumo
Objetivos: Avaliar repercussóes da doenca renal crónica (DRC) sobre a qualidade de vida na percepcao das criancas e dos pais, força muscular respiratoria, funcao pulmonar e capacidade funcional em criancas e adolescentes.
Método: Estudo transversal de criancas e adolescentes com DRC de oito a 17 anos. Excluidas as incapazes de realizar os testes. Após entrevista, aplicou-se questionário de qualidade de vida (PedsQL™), testes de força muscular, funcao pulmonar e teste de caminhada de 6 minutos (TC6 min). Foi utilizado o teste t de Student e ANOVA (diferencas de médias) e o coeficiente de correlacao de Pearson. Considerou-se nivel de significancia de 5%.
Resultados: Dentre os 40 pacientes, a média da distancia percorrida no TC6min foi de 396 ±71 metros, e a média do escore final de qualidade de vida percebida pelas criancas e pelos pais de 50,9 e 51, respectivamente. Na percepcao das criancas, os transplantados apresentaram maior escore de qualidade de vida, comparados aos em hemodiálise (p< 0,001), e aos com atividade física e melhor qualidade de vida, comparadas às sedentárias (p< 0,001). Na percepcao das criancas e dos pais, o sexo masculino apresentou maior escore de qualidade de vida (p < 0,05). Houve correlacao positiva entre a distancia percorrida no TC6min e as variáveis idade, altura, PedsQL™ final da crianca, capacidade vital forçada (CVF) e volume expiratório forcado no primeiro segundo (VEF1) e negativa entre VEF1/CVF e a distancia percorrida. Conclusao: Observou-se reduçao significativa na qualidade de vida e na capacidade funcional em criancas com DRC influenciadas pelo tipo de tratamento, sexo e sedentarismo. © 2014 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
PALAVRAS-CHAVE
Insuficiência renal
crónica;
Crianca;
Funçâo pulmonar; Qualidade de vida
Introducâo
A insuficiência renal crónica (IRC) é caracterizada pela perda lenta, progressiva e irreversível da funçcao renal.1 Na crianca, a doenca renal crónica (DRC) está associada com relevante morbimortalidade cardiovascular, hospitalizares e problemas específicos comuns, como comprometimento do crescimento e alteraçoes biopsicossociais gerando impacto na qualidade de vida.2
Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, em 2012, mostram que 0,3% das criancas com DRC com idade entre um a 12 anos e 4,2% entre 13 a 18 anos realizaram tratamento dialítico.1 Nos últimos anos, o número de pacientes em tra-tamento dialítico duplicou, verificando-se um aumento de 8% ao ano, passando de 18.000 pacientes em 2001 para 91.314 em 2011, representando um gasto significativo para saúde.3
Estudos demonstram que criançcas e adolescentes portadores de DRC podem apresentar alteracoes na qualidade de vida, forçca muscular, funçcao pulmonar e capacidade funcional.4,5
A avaliaçcao da qualidade de vida relacionada à saúde é um importante critério na avaliaçcao da efetividade de tratamentos e de intervenues na área da saúde, tornando-se relevante no entendimento da associacçao existente entre a doenca e qualidade de vida.6 Goldstein et al.,7 em 2008, ela-boraram o questionário PedsQLTM específico para avaliaçcao da qualidade de vida em criançcas e adolescentes com DRC. Este questionário avalia sete dominios (fadiga geral, minha doencça renal, tratamento, interacçao com família e amigos, preocupaçcao, aparência física e comunicaçcao), sendo
aplicado aos portadores da DRC e aos seus responsáveis. Estudos sobre qualidade de vida utilizando o PedsQL™ veri-ficaram o impacto da DRC na qualidade de vida de criancas e adolescentes.7 8
O PedsQL™, versao 3.0, foi traduzido e adaptado cul-turalmente para a língua portuguesa em 2011,9 porém nao foram encontrados estudos publicados sobre sua validacao no Brasil.
A reducao da capacidade funcional e da realizacao de ati-vidades físicas e recreativas podem ser influenciadas pelo mau condicionamento físico, atrofia muscular por desuso, fraqueza, cansaco, edema de membros inferiores, dor lom-bar, dentre outros, dificultando a realizacao das atividades de vida diária dessas criancas.10,11 Outros fatores podem comprometer o sistema muscular de portadores de DRC, como a diminuicao da ingestao proteico-calórica e desequilibrio proteico. Os músculos respiratórios podem apresentar diminuicao das propriedades de forca e endurance decor-rente da miopatia urémica.12"14
A mensuracao da forca muscular respiratória possibilita identificar precocemente quadros de fraqueza muscular, além de identificar a gravidade, as consequéncias funcionais e a evolucao de disfuncoes pulmonares e neuromusculares.15,16 Estudo demonstra que criancas e adolescentes com DRC apresentam valores de forcca muscular significantemente menores, quando comparadas a crianccas saudáveis.4
Testes de caminhada sao testes submáximos utilizados na avaliacao da capacidade funcional de criancas com limitacao ao esforco físico. Apresentam-se fáceis de executar, repro-dutíveis, de baixo custo e demonstram boa correlacao
com o consumo máximo de oxigênio obtido em testes cardiopulmonares máximos.17"19 Estudo mostrou que crianças portadoras de DRC apresentam menor capacidade funcional, quando comparadas a criancas saudáveis.19
O presente estudo tem por objetivo avaliar as repercus-soes da DRC sobre a qualidade de vida na percepcâo das crianças e dos pais, força muscular respiratoria, funcâo pulmonar e capacidade funcional em criançcas e adolescentes.
Métodos
Trata-se de um estudo observacional do tipo corte transversal com criançcas e adolescentes portadores de DRC acompanhados no Centro de Nefrologia Pediátrica do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), em Pernambuco, Centro de Referência em doençcas renais e transplante do Nordeste do Brasil.
O estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do IMIP sob o número: 3334-13 e todos os responsáveis pelas criancças e adolescentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do inicio do mesmo.
Foram incluídas criançcas e adolescentes, com idade entre oito e 17 anos, portadores de DRC e um de seus pais. Excluidas as criancas com incapacidade de realizar o teste de caminhada de seis minutos (TC6'), dificuldade na compreensâo para realizaçcâo das manobras e portadores de cardiopatias complexas e doençcas pulmonares graves. A coleta de dados foi realizada no periodo de dezembro de 2012 a abril de 2013.
Inicialmente, os dados demográficos, antropométricos e cl nicos foram registrados em ficha de investigaçcâo padronizada contendo as variáveis de interesse do estudo. O atraso escolar da criançca foi definido como a correspon-dência idade-série regular maior que dois anos, segundo critérios adotados pelo Ministério da Educacâo do Brasil, e a renda familiar foi calculada pelo somatório da renda individual dos moradores do domicilio. O nivel de atividade física foi avaliado através do questionário Habitual Level Physical Activity (HLPA) em estilo de vida sedentário, atividade fisica regular (até de 2 horas semanais) e atividade fisica esportiva competitiva/organizada (mais que 2 horas por semana).20 O tipo de tratamento foi categorizado em conservador, diá-lise peritoneal, hemodiálise e transplante renal.
Em seguida, foi aplicado o questionário de qualidade de vida PedsQLTM após autorizacâo de uso pelo MAPI Research Trust, responsável pelas permissoes de uso do questionário e foram avaliadas a força muscular respiratoria, a funcâo pulmonar e o TC6'. Os testes foram realizados pela pesquisa-dora principal e uma acadêmica de fisioterapia devidamente treinada.
Qualidade de vida
A avaliacâo da qualidade de vida foi realizada através do questionário PedsQL™ (versâo 3.0).9 Este contém 34 ques-toes agrupadas em sete itens, que abrangem a percepcâo relacionada à saúde nas áreas de ''fadiga geral'', ''sobre minha doenca'', ''problemas no tratamento'', ''interacâo com familia e amigos'', ''preocupaçâo'', ''percepcâo da aparência fisica'' e ''comunicacâo'' percebidas pelos pais
e pelas criancas/adolescentes. Os valores variam de 0 a 4, sendo zero "se nunca é um problema'', 1 ''se quase nunca é um problema'', 2 ''se algumas vezes é um problema'', 3 ''se frequentemente é um problema'' e 4 ''se quase sempre é um problema''. As questoes foram convertidas em escores, com os valores proporcionalmente atribuidos e o somatório variou de 0 a 100 pontos. Quanto maior o valor de escore final, melhor a qualidade de vida dos pacientes.
Forga e fungao pulmonar
As pressoes respiratórias máximas foram realizadas através da manovacuometria com o uso do manovacuometro analógico (Comercial Médica®, Sao Paulo). O teste foi executado com a crianca sentada confortavelmente para aferir a pressao inspiratória máxima (Pimáx) através de uma manobra inspiratória, partindo da capacidade residual funcional, e a pressao expiratória máxima (Pemáx) foi avaliada a partir da capacidade pulmonar total para uma expiracao forcada, clipando o nariz para uma melhor vedacao. Para ambas as medidas foram realizadas tres manobras, escolhendo-se a melhor das tres com a técnica baseada no estudo de Wilson.21
A avaliacao da funcao pulmonar foi realizada atra-vés da espirometria utilizando-se um espirometro digital modelo OneFlow® (Clement Clarke International; Har-low, Inglaterra) e os procedimentos técnicos, critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade seguiram as normas da American Thoracic Society e European Respiratory Society (ATS/ERS).22 Foram determinados o volume expira-tório forcado no primeiro segundo (VEF1), capacidade vital forcada (CVF), pico de fluxo expiratório (PFE) e a relacao VEF1 /CVF. A manobra foi realizada tres vezes, e o maior valor foi utilizado.
Teste da caminhada
A capacidade funcional submáxima foi avaliada através do TC6',conforme padronizacao da ATS,22 em um corredor plano de 30 metros. A crianca foi orientada a caminhar a maior distancia possível durante seis minutos, podendo interromper a qualquer momento, sem correr. Ela foi estimulada verbalmente a cada minuto conforme padronizaccao e, ao final de seis minutos, ela foi solicitada a parar onde estivesse, para registro da distancia percorrida em metros. Os parametros avaliados no pré e pós-teste inclu -ram frequencia card aca (FC) e saturaccao de pulso de oxigenio (SpO2) através do oxímetro de pulso modelo OXP-10 (EMAI Equipamentos Médicos Hospitalares, Sao Paulo), pressao arterial sistemica através de um esfigmomanometro modelo CE0050 (Tycos/WelchAllyn, Skaneateles Falls, EUA), frequencia respiratória (FR) (contados pelas incursoes da parede torácica por minuto) e a pontuacao da escala modificada de Borg para medir a dispneia.23
Os critérios de interrupcao do teste foram: cansaco ou dispneia intensa expressa pelo paciente, SpO2 < 85% ou recusa em continuar o exame. A partir dos valores de referencia sugeridos por Priesnitz et al.24 para crianccas saudáveis foi calculada a distancia percorrida predita no TC6min para as criancas, utilizando-se a fórmula TC6min = 145,343+ [11,78 x Idade(anos)] + [292,22 x Altura(metros)] + [0.611 x (FCnnal-FCInicial)] - [2,684xPeso(Kg)]
para avaliacao do desempenho no teste. Aplicou-se esta referência por se tratar de estudo com criançcas brasilei-ras saudáveis. A partir desses valores obteve-se a diferenca de médias entre a distância percorrida pelo paciente no TC6'(DPpac) e distância percorrida predita (DPpred).
Os valores foram expressos em médias e seus respectivos desvios-padrao para as variáveis quantitativas. Para verificar a normalidade utilizou-se o Teste de Kolmogorov--Smirnov para variáveis quantitativas. O teste t de Student foi utilizado para testar se dois grupos diferiram estatistica-mente a partir da comparaçao de suas médias e ANOVA para comparacao com mais de dois grupos. Para comparacao de médias pareadas foi utilizado teste t de Student. Para avaliar a correlacao utilizou-se coeficiente de correlacao de Pearson. Os dados foram analisados nos softwares SPSS 13.0 para Windows (IBM Corp, Armonk, EUA) e Excel 2007 (Microsoft, Microsoft Excel,Washington, USA). Em todos os testes foram utilizados nível de significância de 5%.
Resultados
Do total de 127 criancas e adolescentes com DRC acompa-nhadas no Centro de Nefrologia Pediátrica do IMIP, 40 foram incluidas no estudo e 87 excluidas (31 por incapacidade de realizar o TC6 min; 46 por dificuldade na compreensao para realizar os testes respiratorios e 10 por serem portadores de cardiopatia complexa ou doençca pulmonar crónica grave). Dos 40 pacientes elegíveis, a idade média ± DP foi de 13±2,6 anos, 52,5% eram do sexo masculino, 59,5% apresentaram atraso escolar e 85% nao praticavam qualquer atividade fisica. A média do escore final de qualidade de vida das criancas foi de 50,9±16,5, e dos pais de 51 ±16,5. A média da distancia percorrida em metros no TC6 min pelo paciente foi 396±71, enquanto que a média da distância predita pela fórmula foi de 620,2±44 metros, sendo essa diferença significativa (p < 0,001) representativa de 63,7% dos valores preditos (tabela 1).
Ao comparar a qualidade de vida e o tipo de tratamento evidenciou-se que os transplantados obtiveram um maior escore (65,3), quando comparados ao grupo que realizava hemodiálise (37,7) [p < 0,001], na percepcao das criancas. Além disso, verificou-se associaçcao significativa entre a qua-lidade de vida e o sexo na percepçcao dos pais e das criançcas, onde o sexo masculino apresentou um melhor escore final de qualidade de vida (58,1 e 56,9, respectivamente). Em relacao à qualidade de vida e à atividade fisica, observou-se que aquelas que realizavam atividade f sica regular apresen-tavam uma melhor qualidade de vida, quando comparadas às sedentárias (p = 0,002), na percepcao das criancas. Ao comparar as médias entre a distância percorrida e o sexo da crianca, verificou-se que a distância percorrida pelo sexo masculino foi maior, quando comparada à do sexo feminino (p = 0,008) (tabela 2).
Ao analisarmos a correlacao entre a distância percorrida no TC6 min e as variáveis do estudo verificou-se correlacao positiva significativa, ou seja, quanto maior os valores das variáveis melhor desempenho no teste no tocante às variá-veis idade, altura, PedsQLTM final da criançca, CVF, CVF predito, VEFi, VEFi predito. Observou-se ainda correlacao negativa entre VEF^CVF e o valor da distância percorrida, ou seja, quanto maior o valor da relacao, menor o
Tabela 1 Características das 40 criancas com doenca renal crónica atendidas em um Centro de Referéncia de Nefrologia Pediátrica, 2013, Brasil
Variáveis
Idade anos (média±DP) 13±2,6
Peso Kg (média±DP) 40±16,3
Altura metros (média±DP) 1,5±0,2
IMC (média±DP) 18,3±4,6
Atraso Escolar (n, %) 22 (59,5%)
Escolaridade materna < 8 anos (n, %) 27 (67,5%)
Renda familiar (n, %)
< 1 SM 8 (20,0%)
1 a 2 SM 12 (30,0%)
> 2 SM 20 (50,0%)
Atividade física (n, %)
Atividade regular 6 (15,0%)
Sedentário 34 (85,0%)
Tratamento (n, %)
Conservador 13 (32,5%)
Diálise peritoneal 9 (22,5%)
Hemodiálise 10 (25,0%)
Transplante 8 (20,0%)
PedsQLTM final da crianca (média±DP) 50,9±16,5
PedsQLTM final dos pais (média±DP) 51±16,5
Forca muscular respiratória (média±DP)
Pimáx 60,75±37,63
Pemáx 62,63±35,61
Funcao pulmonar (média±DP)
CVF valor predito 2,56±0,79
VEF1 valor predito 2,28±0,68
VEF1 /CVF 0,89±0,13
Distancia percorrida em metros 396±71,2a
(média±DP)
Distancia prevista (média±DP) 620,2±44,63a
Valores expressos em média e desvio-padrao (DP) e números (n) e porcentagem (%). IMC, indice de massa corpórea; SM, salário minimo; Pimáx, pressao inspiratória máxima; Pemáx, pressao inspiratória máxima; CVF, capacidade vital forçcada; VEF-i, volume expiratório máximo forçado de primeiro segundo; PedsQLtm, questionário de qualidade de vida. a p <0,001.
desempenho no teste. A frequência respiratória avali-ada após o TC6 min mostrou correlaçcao positiva com a diferençca da distância percorrida e a prevista (tabela 3). As outras variáveis analisadas nesse estudo nao demonstraram correlaçcao significativa.
Discussâo
O presente estudo demonstra que criançcas e adolescentes com DRC apresentam reduçcao significativa na qualidade de vida e na capacidade funcional. Neste estudo utilizamos o questionário de qualidade de vida PedsQLTM versao 3,0, por ser especifico para criancas e adolescentes com DRC e pro-vavelmente mais sensivel em detectar possiveis alteracoes na saúde destes pacientes. Além disso, nao encontramos na
Tabela 2 Comparaçâo de médias entre qualidade de vida com o tipo de tratamento, sexo e atividade física e distancia percorrida, diferenca da distancia percorrida com a prevista em criancas e adolescentes com doença renal crónica
Qualidade de Vida Distancia
Variáveis Escore final Pais Escore final Criançcas Distancia percorrida Diferença da distancia
prevista-percorrida
Média±DP Média±DP Média±DP Média±DP
Tratamento
Conservador 50,3±16,6 56,1±12,4 402,9±43,4 207,5±63,7
Diálise peritoneal 46,9±12,7 45,2±10,2 381,7±77,7 253,7±60,9
Hemodiálise 49,1±19,7 37,7±13,5 387,3±60,2 204,5±43,5
Transplante 59,4±15,9 65,3±17,8 409,3±113,0 245,5±107,2
p-valora 0,437 0,001 b 0,834 0,292
Masculino 58,1±13,9 56,9±14,9 423,3±63,5 205,1±64,6
Feminino 43,2±15,9 44,2±15,8 364,8±67,8 246,5±72,4
p-valorc 0,003 b 0,012 b 0,008 b 0,064
Atividade física
Sim 62,1±16,3 69,2±13,5 419,0±75,3 246,3±70,3
Nao 49,0±15,9 47,6±14,9 391,3±70,8 220,9±71,1
p-valorc 0,073 0,002 b 0,387 0,424
Valores expressos em média e desvio-padrâo (DP). a ANOVA. b p < 0,05. c Teste t de Student.
literatura pesquisada estudos referentes à melhor qualidade de vida na percepçâo dos pais de criancas e adolescentes com DRC que tenham usado o PedsQLTM.
No presente estudo, a média do escore final de qualidade de vida percebido pelas criancas foi 50,9, resultados significativamente menores quando comparados aos verificados por Goldestein et al.,7 em estudo realizado nos Estados Unidos (72,5) e por Park et al.,8 realizado na Coreia (69,4). O menor escore encontrado no presente estudo pode ser
Tabela 3 Correlacao entre a distancia percorrida, diferenca da distancia prevista com a percorrida e variáveis do estudo nas criancas com doenca renal crónica
Variáveis Distancias
Distancia percorrida Diferença da distancia prevista - percorrida
Idade 0,339 a 0,162
Altura 0,356 a 0,111
PedsQL™ final da crianca 0,340 a -0,061
CVF 0,350 a 0,092
CVF valor predito 0,375 a 0,048
VEF1 0,395 a 0,074
VF1 valor predito 0,368a 0,063
VEF1 /CVF -0,315 a 0,226
FR depois do TC6 -0,243 0,327 a
PedsQLtm, questionário de qualidade de vida; CVF, capacidade vital forcada; VEFi, volume expiratório máximo forcado de pri-meiro segundo; FR, frequéncia respiratória. p < 0,05. a Correlacao significativa (Correlacao de Pearson).
devido ao fato de as criancças avaliadas possuírem baixas condicóes socioeconómicas.
A melhor qualidade de vida encontrada nos transplantados renais em relacâo aos que faziam hemodiálise em nosso estudo também foi relatada em estudo realizado na Coreia envolvendo 92 criancas com DRC.8 Um outro estudo realizado no Texas com 186 crianças e adolescentes com DRC demonstrou, além de uma melhor qualidade de vida, uma melhor sobrevida nas criançcas que realizaram o transplante renal. Este fato é justificado pelos autores por um maior risco de complicacóes nos que realizam diálise peritoneal e hemodiálise.5
A maior pontuaçâo no escore final de qualidade de vida do sexo masculino percebida pelas criançcas e adolescentes também foi demonstrada na percepçcâo dos adolescentes de 15 a 18 anos com DRC em estudo realizado por Maxwell et al.25
A melhor pontuaçcâo do escore final de qualidade de vida na percepçcâo das criancças que praticavam atividade física também foi verificada por outros autores. Akber et al. 26 avaliaram o nível de atividade física através do uso de pedómetros em pacientes com idade entres sete a 20 anos com DRC e observaram baixos níveis de atividade física nesta faixa etária, sendo associada a maiores riscos cardiovasculares. Os pesquisadores afirmam que os baixos níveis de atividade física foram associados com pior desem-penho físico e autorrelato de uma pior qualidade de vida.26
Pacientes com DRC podem apresentar disfuncóes musculares em decorrência de fatores inter-relacionados, como a diminuicâo da ingestâo proteico-calórica, atrofia muscular por desuso e desequilíbrio proteico. Estes fatores levam à alteracâo nas fibras musculares tipo II, reducâo do leito vascular e capilar, presençca de calcificaçcâo intravascular e
diminuiçcâo do fluxo sangu neo local, contribuindo assim para alte^öes musculares.27
Dado discordante ao do presente estudo se refere à forçca muscular. Estudo realizado por Coelho et al.4 em Minas Gerais, envolvendo 30 criancças portadoras de DRC, verificou menores valores na pressâo expiratória máxima.
Ao avaliar a funcâo pulmonar, verificou-se uma correlaçcâo positiva entre a CVF e o VEF1 com a capa-cidade funcional. As criançcas com melhores valores da capacidade vital e volume expiratório apresentaram melhor desempenho no TC6', sugerindo a influência dessas variáveis no teste. Em criançcas com DRC, a diminuiçcâo das variáveis espirométricas estâo relacionadas com obstruçâo reversivel das vias aéreas e aprisionamento de ar causados pelo acú-mulo de liquido próximos às pequenas vias aéreas.28 Estudo realizado na Franca também demonstrou que criancas portadoras de DRC podem apresentar limitaçcâo ao fluxo aéreo, onde a reduçcâo do VEF1 pode estar associada à diminuiçcâo da forçca muscular, responsável pelo atraso na contracâo das fibras musculares esqueléticas.29
A correlaçâo positiva encontrada entre a frequência respiratória final e a diferençca da distância percorrida e prevista indica pior performance no teste, achado este concordante com o estudo realizado com 30 criancças e adolescentes portadores de DRC, onde se observou uma associacçâo entre menor distância caminhada e um aumento da frequência respiratória final, pressâo arterial, saturaçcâo de pulso oxigênio e percepcâo de esforco de Borg, sugerindo assim um pior desempenho nas atividades funcionais.4
A capacidade funcional avaliada através da média da distância percorrida no TC6'encontrada em nosso estudo (39б±71,2 metros) foi menor do que a observada em outros estudos, cujas médias das distâncias percorridas variaram de 515 a 5б0 metros. Entretanto, em todos estes estudos, os valores se apresentaram significativamente abaixo do predito.4,18,26 Diversos fatores antropométricos, clinicos e biológicos podem influenciar as criançcas com DRC a apresen-tarem um menor desempenho nas atividades fisicas, como escolaridade materna, IMC, altura e idade. Estudo demonstra que filhos de mâes com n vel superior apresentaram-se mais ativos quando comparados àqueles de mâes menos escolarizadas.30
Em relaçâo às correlates entre distância percorrida e variáveis de interesse do estudo, observou-se que, quanto maior a idade das criançcas e adolescentes, melhor o desem-penho no TC6', denotando melhor capacidade funcional. Outro estudo também observou uma correlaçcâo positiva entre a idade e a distância percorrida mostrando que quanto maior a idade, melhor a capacidade funcional.26
No tocante à correlacâo da capacidade funcional avaliada através do TC6', pode-se observar que pacientes mais altos apresentaram uma distância percorrida significativamente maior quando comparados com as criançcas saudáveis. Estudo realizado na Bélgica com 25 criançcas portadoras de DRC observou que a altura é um fator importante na distância percorrida durante a realizaçâo do TC6', pois as pessoas mais altas apresentam um comprimento do passo maior e um melhor desempenho no teste.18
Em relaçcâo ao sexo, o masculino apresentou melhor desempenho no TC6'. Nossos dados sâo concordantes com estudo realizado na China, que encontrou em criançcas sau-dáveis do sexo masculino uma maior capacidade de exercicio
e melhor desempenho no TC6', provavelmente resultado de sua maior massa muscular.17 Por outro lado, estudo nos EUA com 44 participantes avaliou atividade f sica em portadores de DRC com idade entre sete e 20 anos, e observou que as meninas caminharam uma maior distância que os meninos no TC6'.26
A correlaçcâo positiva existente entre a distância percor-rida e a qualidade de vida percebida pelas criançcas revelou que, quanto maior à distância percorrida, melhor o escore, porém, nâo foram encontrados outros estudos referentes a esses achados na literatura.
Apesar da importância deste estudo, algumas limitacöes precisam ser destacadas, como o número da amostra, que talvez nâo tenha tido o poder de demonstrar todas as diferencças estudadas, como, por exemplo, a forçca muscular respiratória. No entanto, foram inclu das todas as criancças eleg veis com DRC do Centro de Nefrologia Pediátrica do IMIP. Ressalta-se, no entanto, que este estudo representa o primeiro estudo brasileiro que avaliou a qualidade de vida através do PedsQLTM em criançcas e adolescentes com DRC
Por fim, conclui-se que, na amostra estudada, observou--se uma reducâo significativa na qualidade de vida, capacidade funcional e na atividade fisica em criancas e adolescentes com DRC. Também foram encontradas associates positivas entre a capacidade funcional com a funçcâo pulmonar e a qualidade de vida. No entanto, nâo foi encontrada relaçcâo da forçca muscular respiratória com a capacidade funcional, sugerindo-se, assim, a realizacâo de novos estudos para melhor elucidacçâo.
Conflitos de interesse
Os autores declaram nâo haver conflitos de interesse.
Referências
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