Scholarly article on topic 'Ansiedade e Fobia Dentária – Avaliação Psicométrica num Estudo Transversal'

Ansiedade e Fobia Dentária – Avaliação Psicométrica num Estudo Transversal Academic research paper on "Educational sciences"

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{Ansiedade / Fobia / Medo / "Medicina dentária" / "Escalas de avaliação" / "Níveis de ansiedade" / Anxiety / Phobia / Fear / Dentistry / "Scales of assessment" / "Anxiety levels"}

Abstract of research paper on Educational sciences, author of scientific article — Mariana Andias Ferreira, M. Conceição Manso, Sandra Gavinha

Resumo Objectivo O objectivo deste estudo foi avaliar a prevalência da ansiedade dentária, nos utentes das Clínicas Pedagógicas de Medicina Dentárias da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa (FCS UFP), procurando contribuir para a compreensão dos factores etiológicos, que eventualmente, induzem o surgimento deste distúrbio patológico. Materiais e Métodos Uma amostra de 150 utentes, com idade entre 15 e 64 anos, atendidos nas referidas clínicas entre os meses de Janeiro e Março de 2007, foi constituída de forma não probabilística, por quotas – género e faixa etária – elaboradas com base nos dados do último Recenseamento Geral da População Portuguesa, em 2001. A ansiedade e a fobia dos pacientes foram avaliadas através de uma escala de medição de ansiedade e outra para fobia dentária: Modified Dental Anxiety Scale (MDAS) e Dental Fear Survey (DFS) – versões Portuguesas, aplicadas num questionário que continha ainda uma escala de classificação socio económica (Classificação de Graffard). Resultados Como resultados mais relevantes salienta-se que, entre os 150 utentes inquiridos, 28,7% são “muito ansiosos ou fóbicos”, e 24% são “ansiosos”. Genericamente, a DFS parece mostrar um nível de ansiedade superior ao identificado pela MDAS. Conclusões A maioria dos indivíduos classificados como “muito ansiosos” assume ter sido alvo de experiência anterior de trauma (22%), faltar às consultas “às vezes ou frequentemente” (17%) e recorrer a tratamentos dentários apenas “quando têm dores” (20%). Estes expressaram ainda que adiavam e faltavam às consultas, pelo medo, bem como sentiam maior temor perante os estímulos agulha e broca. Abstract Objective The objective of this study was to evaluate the prevalence of dental anxiety in patients of Dental Medicine Clinics of the Faculty of Health Sciences at the University Fernando Pessoa, in order to make a contribution to the understanding of the etiological factors that may eventually lead to this pathological disorder. Materials and Methods A sample of 150 patients, 15 to 64 years old, attending the clinics between the months of January till March, 2007, was built nonprobabilistically by quotas – gender and age groups – based on the last Portuguese general census data, 2001. Anxiety and phobia assessment was performed using scales to measure anxiety and dental phobia: Modified Dental Dental Fear (MDAS) and Anxiety Scale Survey (DFS) – Portuguese versions, applied with a questionnaire that also contained a socio economic classification (Graffard Classification). Results As most relevant results, among the 150 patients, 28.7% are “very anxious or phobic”, and 24% are “anxious”. Generally, DFS shows higher levels of anxiety than the ones identified by MDAS. Conclusions Most patients classified as “very anxious” assumed to have been the target of previous trauma experience (22%), “sometimes or often” miss consultations (17%) and only recur to dental treatments “when in pain” (20%). These patients said to have postponed and missed consultations because of fear, and that felt greater panic facing needle and drill stimuli.

Academic research paper on topic "Ansiedade e Fobia Dentária – Avaliação Psicométrica num Estudo Transversal"

INVESTIGAgÄO

Ansiedade e Fobia Dentaria -Avaliagao Psicométrica num Estudo Transversal

Mariana Andias Ferreira*, M Conceigao Manso* *, Sandra Gavinha* * *

Resumo: Objectivo: O objectivo deste estudo foi avallar a prevaléncia da ansiedade dentária, nos utentes das Clínicas Pedagógicas de Medicina Dentárias da Faculdade de Ciéncias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa (FCS UFP), procurando contribuir para a compreensdo dos factores etiológicos, que eventualmente, induzem o surgimento deste disturbio patológico. Materiais e Métodos: Uma amostra de 150 utentes, com idade entre 15 e 64 anos, atendidos nas referidas clínicas entre os meses de Janeiro e Mar^o de 2007, foi constituida de forma nao probabilística, por quotas -género e faixa etária - elaboradas com base nos dados do último Recenseamento Geral da Populando Portuguesa, em 2001. A ansiedade e a fobia dos pacientes foram avaliadas através de uma escala de mediado de ansiedade e outra para fobia dentária: Modified Dental Anxiety Scale (MDAS) e Dental Fear Survey (DFS) - versoes Portuguesas, aplicadas num questionário que continha ainda uma escala de classifica^do socio económica (Classifica^do de Graffard). Resultados: Como resultados mais relevantes salienta-se que, entre os 150 utentes inquiridos, 28,7% sdo "muito ansiosos ou fóbicos", e 24% sdo "ansiosos". Genericamente, a DFS parece mostrar um nivel de ansiedade superior ao identificado pela MDAS. Conclusoes: A maioria dos individuos classificados como "muito ansiosos" assume ter sido alvo de experiéncia anterior de trauma (22%), faltar ás consultas "as vezes ou frequentemente" (17%) e recorrer a tratamentos dentários apenas "quando tém dores" (20%). Estes expressaram ainda que adiavam e faltavam ás consultas, pelo medo, bem como sentiam maior temor perante os estímulos agulha e broca.

Palavras-Chave: Ansiedade; Fobia; Medo; Medicina dentária; Escalas de avalia^ao; Níveis de ansiedade

Abstract: Objective: The objective of this study was to evaluate the prevalence of dental anxiety in patients of Dental Medicine Clinics of the Faculty of Health Sciences at the University Fernando Pessoa, in order to make a contribution to the understanding of the etiological factors that may eventually lead to this pathological disorder. Materials and Methods: A sample of 150 patients, 15 to 64 years old, attending the clinics between the months of January till March, 2007, was built non-probabilistically by quotas - gender and age groups - based on the last Portuguese general census data, 2001. Anxiety and phobia assessment was performed using scales to measure anxiety and dental phobia: Modified Dental Dental Fear (MDAS) and Anxiety Scale Survey (DFS) - Portuguese versions, applied with a questionnaire that also contained a socio economic classification (Graffard Classification). Results: As most relevant results, among the 150 patients, 28.7% are "very anxious or phobic", and 24% are "anxious". Generally, DFS shows higher levels of anxiety than the ones identified by MDAS. Conclusions: Most patients classified as "very anxious" assumed to have been the target of previous trauma experience (22%), "sometimes or often" miss consultations (17%) and only recur to dental treatments 'when in pain" (20%). These patients said to have postponed and missed consultations because of fear, and that felt greater panic facing needle and drill stimuli.

Key-words: Anxiety; Phobia; Fear; Dentistry; Scales of assessment; Anxiety levels

(Ferreira MA, Manso MC, Gavinha S. Ansiedade e Fobia Dentária - Avaliagao Psicométrica num Estudo Transversal. Rev Port Estomatol CrMaxilofac 2008;49:77-86)

^Licenciada em Medicina Dentária pela Faculdade de Ciéncias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa

**REQU1MTE, Doutora em Biotecnologia, Professora Associada, Docente da Faculdade de Ciéncias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa ***Mestre em Saúde Oral Comunitária, Docente da Faculdade de Ciéncias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa

INTRODUJO

Desde o inicio do sáculo XX, particularmente nas últimas tres décadas, e até ao presente, testemunha-se o desenvolvimento galopante de uma Medicina Dentária cada vez mais eficiente, de melhor qualidade, capaz e apta a oferecer alternativas de crescente sofisticacao e praticabilidade, para solucionar os problemas de saúde oral dos pacientes. A importancia do estudo da componente emocional dos pacientes surge como um diferencial clinico na nossa época, que é marcada por descobrimentos tecnológicos acentuados. Conhecer minimamente o psiquismo dos pacientes, adquirir um conhecimento mais profundo do sentimiento e do sentido do medo, e o quanto este pode afectar, nao só a relacao profissional/paciente, mas também a execucao dos procedimentos no consultório e o desenvolvimento do trabalho Médico Dentário, torna se primordial para o profissional que dese-ja fazer um excelente atendimento. Os tratamentos nesta área Médica, por si só, sao passiveis de produzir ansiedade, excitacao e medo nos pacientes, constituindo uma barreira para a manutencao da saúde oral, sendo constatado a escala universal, e nao se restringindo apenas a paises especificos ou a grupos populacionais. Este é um problema sério detectado em vários estudos espacados no tempoft2-3'4). A prevalencia geral de medo é de cerca de 20 % em adultos, mesmo em países com sistemas de saúde oral bem estruturados(5). A procura pela sua compreen-sao, tem impulsionado o desenvolvimento de variados instrumentos psicométricos que permitam a avaliacao desta forma especifica de ansiedade, a determinacao da sua prevalencia e impacto, o perspectivar do seu diagnóstico e tratamento individualizados.

A maioria dos profissionais de Medicina Dentária considera a ansiedade dentária como uma componente de dimensao psicológica, extremamente relevante para a sua prática, bem como, um impedimento para a plena satisfacao por parte dos pacientes. A diferenca entre o medo e a ansiedade parece ser apenas a intensidade. A ansiedade está intimamente relacionada ao medo, sendo uma das suas particularidades o seu carácter de resposta a alguma ameaca(6). A ansiedade e a fobia dentária podem ser descritas como um estado subjectivo de sentimen-to ou reaccao perante uma situacao desconhecida, de possivel perigo, correspondente a uma mentira do subconsciente. A ansiedade caracteriza-se por uma diversidade de sentimentos subjectivos de tensao, apreensao, nervosismo e preocupacao que sao experimentados por um individuo num momento parti-cular(7). A existencia de vários estudos de diversos autores, em populacoes adultas de diferentes países, defende que existe uma prevalencia variável de 5% a 20% de ansiedade dentária eleva-da(2,8). Desta forma, é natural que surja ansiedade especifica,

traduzindo-se por atitudes de repulsa e recusa por parte do paciente e que comeca a ser realmente problemática quando, em funcao desta, ele adopta comportamentos que interferem com a visita regular ou rotineira, bem como preventiva, as consultas de Medicina Dentária.

De um modo geral, o medo da dor, a partir de uma experiencia desconfortável no passado, é o factor principal da causa da ansiedade dentária e é responsável pela maioria dos casos de pacientes que evitam o tratamento Médico-Dentário(9). Experiencias negativas podem surgir como sequela de experiencias traumáticas recentes, atitudes negativas de familiares, receio da dor, percepcao da falencia de um tratamento, trata-mento doloroso anterior, que reportam ser os factores etiológi-cos das reaccoes de temor.

O objectivo do presente estudo foi avaliar a prevalencia da ansiedade dentária, nos utentes das Clínicas Pedagógicas de Medicina Dentárias da Faculdade de Ciencias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa (FCS-UFP), procurando contribuir para a compreensao dos factores etiológicos, que eventualmente, induzem o surgimento deste distúrbio patológico, e ainda para diminuir a carencia de dados de prevalencia da ansiedade dentária na Populacao Portuguesa.

MATERIAIS E METODOS

Participantes

O estudo decorreu na sala de espera das Clinicas Pedagógicas de Medicina Dentária da Faculdade de Ciencias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa (FCS UFP), antes do atendimento do utente, entre os meses de Janeiro e Marco de 2007 e teve como alvo uma populacao com faixa etária 15 a 64 anos e de ambos os géneros.

A amostra de 150 utentes (adolescentes e adultos), foi recol-hida por conveniencia, e para evitar um afastamento da realidade demográfica Portuguesa, foi construida por quotas calculadas com base na distribuicao por género e faixa etária consideradas segundo os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatistica para a Populacao Residente no Grande Porto no ano 2005(10) e pelos resultados definitivos do Recenseamento Geral da Populacao e Habitacao de 2001(11). Todos os individuos seleccionados para o estudo foram entrevistados por uma única pessoa, evitando o risco de erro ou viés e a necessidade de cali-bragem de entrevistadores.

Descr^ao dos Instrumentos - Aplicado e pontua^ao

A colheita de informacao foi executada através de um ques-tionário composto por questoes de resposta direccionada e fecha-

da. Os instrumentos utilizados para a avaliaçâo da ansiedade e fobia dentária, foram a versâo portuguesa da Modified Dental Anxiety Scale (MDAS) de Lopes(12), segundo a versâo original de Humphris(13) e a versâo portuguesa da Dental Fear Survey (DFS) de Lopes(14), escala originalmente elaborada por Kleinknecht(15). A Escala de Graffard foi utilizada como instrumento avaliador do escalâo socio económico de cada individuo.

A MDAS é uma escala calculada através da soma das pontu-açôes para 5 itens, cujas respostas possiveis compreendem cinco pontos [de 1 "nada ansioso" a 5 "extremamente ansioso"], e que pode variar entre 5 (ansiedade baixa) a 25 (ansiedade alta). Para efeitos clínicos, uma pontuaçâo de 19 ou superior, indicia uma forte probabilidade de o entrevistado apresentar uma fobia relativamente à consulta de Medicina Dentária(1216), e assim esses individuos foram classificados como muito ansiosos.

A escala DFS é constituida por um questionário mais pormenorizado, com 20 situaçôes distintas, relacionadas com a consulta de Medicina Dentária: os itens 1 e 2 focam o acto de evitar a consulta; os itens 3 a 7 dizem respeito a sinais auto-percepcionados de activaçâo fisiológica durante a consulta; os itens 8 a 19 avaliam o medo, ansiedade ou desconforto relacionados com estimulos e procedimentos especificos e o item 20 fornece uma classificaçâo global do medo da consulta de Medicina Dentária.

A Escala de Graffard é uma classificaçâo social internacional, baseada no estudo de um conjunto de cinco critérios: profissâo, nivel de instruçâo, fontes de rendimento familiar, conforto do alojamento e aspecto do bairro onde habita. Cada um destes 5 critérios é avaliado numa escala de 1 (situaçâo mais favorável) a 5 (pior classificaçâo), e pela soma das avaliaçôes dos 5 critérios obtém se o valor correspondente à classe social do individuo, segundo o seguinte critério: Classe I [5;9] pontos, Classe II [10;13] pontos, Classe III [14;17] pontos, Classe IV [18;21] pontos, e Classe V [22;25] pontos.

Análise Estatística

Todos os procedimentos de análise estatistica foram realizados com recurso ao aplicativo Statistical Package for Social Sciences (SPSS©, versâo 15.0), por aplicaçâo de ferramentas adequadas. Considerou-se um nivel de significancia de 0,05, ou seja rejeitou-se a hipótese nula (considerada em cada teste) em situaçôes em que a probabilidade associada ao valor de prova (p) foi inferior a esse valor. A comparaçâo da idade dos inquiridos por género foi realizada através de um teste t para grupos independentes. A aplicaçâo da análise de variância (ANOVA) a um factor para comparaçâo da idade dos inquiridos por escalâo social, foi precedida da verificaçâo dos seus pressupostos de apli-cabilidade (normalidade das observaçôes - teste de Kolmogorov-

Smirnov com correcçâo de Lillefors (também utilizado no teste t), e homogeneidade de variância - teste de Levene). A infe-rência sobre quais os grupos diferentes entre si foi pesquisada pelo teste de comparaçâo múltipla de Scheffé.

Foi aplicado o teste de Qui-quadrado de independência para estudar a associaçâo ou dependência entre variáveis.

RESULTADOS

Caracterizaçao da amostra

Neste estudo foram inquiridos 150 pacientes das Clinicas Pedagógicas de Medicina Dentária da FCS-UFP, ll (51,3%' do género feminino, que se encontravam na sala de espera aguardando consulta (Tabela 1'. Os inquiridos apresentaram uma média (desvio padrao' de idade de 3В,3(13,В' anos, sendo 3В,5(14' anos para o género feminino e de 38,1(ад anos para o género masculino. Verificou-se nao existir diferenças significativas para a idade com o género. Relativamente à distribuiçao de inquiridos (n; %' por escalao social, apurou se que a maioria dos pacientes (59; 39,3%' pertenciam à classe Classe III, seguidos por pacientes da Classe II (4l; 31,3%', tendo os pacientes da Classe II média de idade significativamente mais baixa que as restantes (Tabela 1'.

Análise das variáveis relacionadas com o Comportamento Individual

A maioria dos pacientes questionados (58; 38,l%' referiu apenas recorrer ao Médico Dentista "quando tem dores", enquan-to que 116 (ll,3%' assumem "nunca faltar a consultas devido ao medo" (Tabela 2'. Observou-se que apenas l8 (52%' dizem nao ter tido "experiencia traumática" num consultório de Medicina Dentária (Tabela 2'.

De entre os inquiridos, 116 pacientes (ll,3%', afirmaram desconhecer a ocorrencia de algum acidente num consultório de Medicina Dentária. Relativamente à influencia da ocorrencia de acidentes, 80% dos utentes, manifesta que esse facto nao afecta o seu comportamento, mas a maioria, 82%, dos pacientes conhece familiares ou amigos próximos que relatam ter "medo" de visitar o Médico Dentista (Tabela 3'.

Escala MDAS e DFS

Da aplicaçâo da escala MDAS aos inquiridos nas Clinicas Pedagógicas de Medicina Dentária da FCS-UFP pode verificar-se que 4l,3% sao classificados como pacientes "sem ansiedade", 24% como "ansiosos" e 28,l% como "muito ansiosos". A escala DFS revela uma outra realidade, com 5,3% de "moderadamente ansioso", 40% de "ansiosos", 40 % "muito ansiosos" e 14,l% de "fóbicos" (Tabela 4'.

n (%) Idade (anos) P

Mínimo - Máximo Média (DP) Mediana

Amostra Total 150 (100%) 15 - 64 38,3 (13,8) 37,5

Género Masculino 73 (48,7%) 16 - 63 38,1 (13,7) 37 0,857*

Feminino 77 (51,3%) 15 - 64 38,5 (14) 38

Classe I 23 (15,3%) 23 - 58 35,8ab (10,2) 35

Classificaçâo Classe II 47 (31,3%) 16 - 63 33,9b (13,6) 32 0,009''

de Graffard Classe III 59 (39,3%) 15 - 62 40,7a (13,9) 43

Classe IV 21 (14%) 15 - 64 44,3a (14,5) 42

Tabela 1 - Descricao da amostra por variáveis sócio-demográficas. Estatísticas mais relevantes. * teste t para grupos independentes; ** ANOVA; b letras diferentes indicam grupos significativamente diferentes de acordo com o teste de comparacao múltipla a posteriori de Scheffé.

Pergunta Resposta n (%)

"Com que frequencia vem a consulta de Medicina Dentária?" Nunca 3(2,0)

Quando dores 58 (38,7)

Uma vez por ano 27 (18,0)

De 6 em 6 meses 35 (23,3)

Várias vezes ano 27 (18,0)

"Frequencia com que falta as consultas devido ao medo" Nunca 116 (77,3)

Ás vezes 21 (14,0)

Frequentemente 13 (8,7)

"Já teve alguma experiencia traumatizante num consultório de Medicina Dentária?" Sim 72 (48,0)

Nao 78 (52,0)

Tabela 2 - Distribuicao dos pacientes relativamente a frequencia de consulta, última consulta, faltas as consultas por medo e experiencias anteriores de trauma.

Pergunta Resposta n (%)

"Já teve conhecimento de algum acidente grave num consultório de Medicina Dentária?" Sim 34 (22,7)

Nao 116 (77,3)

"Esse relato influenciou o seu comportamento nas consultas de Medicina Dentária?" Sim 30 (20,0)

Nao 120 (80,0)

"Os seus familiares, amigos e pessoas com que convive tem medo de ir ao Médico Dentista?" Sim 123 (82,0)

Nao 27 (18,0)

Tabela 3 - Distribuicao dos pacientes consoante o seu relato de conhecimento de ocorrencia de acidentes na clinica, influencia destes acidentes no comportamento do utente, compreensao do tratamento e conhecimento de outras pessoas com medo de ir ao Médico Dentista

Género Escala de Graffard

Escala Categoría n (%) Masculino n (%) Feminíno n (%) Classe I n (%) Classe II n (%) Classe III n (%) Classe IV n (%)

Sem Ansiedade 71 (47,3%) 39 (26%) 32 (21,3%) 12 (8%) 21 (14%) 30 (20%) 8 (5,3%)

MDAS Ansioso 36 (24%) 14 (9,3%) 22 (14,7%) 3 (2%) 14 (9,3%) 14 (9,3%) 5 (3,3%)

Muito Ansioso 43 (28,7%) 20 (13,3%) 23 (15,3%) 8 (5,3%) 12 (8%) 15 (10%) 8 (5,3%)

Moderad. Ansioso 8 (5,3%) 3 (2%) 5 (3,3%) 2 (1,3%) 3 (2%) 2 (1,3%) 1 (0,7%)

Ansioso 60 (40%) 32 (21,3%) 28 (18,7%) 5 (3,3%) 21 (14%) 25 (16,7%) 9 (6%)

DFS Muito Ansioso 60 (40%) 29 (19,3%) 31 (20,7%) 14 (9,3%) 17 (11,3%) 23 (15,3%) 6 (4%)

Extremamente Ansioso/Fóbico 22 (14,7%) 9 (6%) 13 (8,7%) 2 (1,3%) 6 (4%) 9 (6%) 5 (3,3%)

Tabela 4 - Distribuicao de frequencia dos inquiridos segundo a escala de ansiedade MDAS e a escala DFS, assim como a sua relacao com o género e a escala socioeconómica. As percentagens apresentadas sao calculadas sobre o total de individuos observados (150).

Adiar Faltar / Cancelar

n (%) n (%)

Nunca 67 (44,7) 68 (45,3)

As vezes 43 (28,7) 44 (29,3)

Muitas vezes 22 (14,7) 21 (14,0)

Frequentemente 15 (10,0) 15 (10,0)

Quase sempre 3(2,0) 2 (1,3)

Tabela 5 - Distribuicao de frequencia de respostas relativamente a adiamento e cancelamento de consultas. Salientam-se alguns resultados a negrito.

Tensâo Respiratorio Sudaçâo Enjoo Cardíaco

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

Nunca 2 (1,3) 2 (1,3) 12 (8,0) 27 (18,0) 3(2,0)

As vezes 20 (13,3) 29 (19,3) 53 (35,3) 65 (43,3) 23 (15,3)

Muitas vezes 32 (21,3) 33 (22,0) 34 (22,7) 30 (20,0) 36 (24,0)

Frequentemente 36 (24,0) 33 (22,0) 23 (15,3) 19 (12,7) 37 (24,7)

Quase sempre 60 (40,0) 53 (35,3) 28 (18,7) 9 (6,0) 51 (34,0)

Tabela 6 - Frequencia de respostas de para as alteracoes fisiológicas

Foi apurado que 44,7% dos pacientes assumiram "nunca" ter adiado e 45,3% "nunca" ter cancelado uma consulta pelo factor "medo". Contudo, deve salientar-se que 55,3% admitiu já ter adiado, independentemente da frequencia com que o fez (Tabela 5).

As respostas de activacao fisiológica durante o tratamento Médico-Dentário mostram que "quase sempre" é sentido um "aumento da tensao muscular" (40%), do "ritmo respiratório" (35,3%) e do" ritmo cardiaco" (34%). Já o "aumento da sudacao" e o "enjoo" é "as vezes" sentido pelos pacientes em 35,3% e 43,3%, respectivamente (Tabela 6).

as durante o tratamento. Salientam-se alguns resultados a negrito.

Ao "marcar a consulta" e ao "aproximar-se do consultorio", 42% e 33,3% dos pacientes, respectivamente, sentem "medo". De salientar que, na "sala de espera" e "na cadeira do Dentista" ninguém se manifesta "sem medo". De facto, 28,7% confessam sentir "muito medo" na "sala de espera", enquanto 30% dizem estar "aterrorizados" "na cadeira do dentista". Os acontecimientos "cheiro do consultorio" e "ver o dentista", nao parecem provocar "medo" na maioria dos utentes (Tabela 7).

Da análise da Tabela 8 verifica-se que "ver a agulha" (40,7%), "sentir agulha" (50%), "ver a broca" (30,2%), "ouvir a broca"

Marcar Consulta n (%) Aproximar Consultório n (%) Sala espera n (%) Cadeira Dentista n (%) Cheiro consultório n (%) Ver dentista n (%)

Sem medo 9 (6,0) 2 (1,3) 0(0) 0(0) 71 (47,3) 92 (61,3)

Pouco medo 51 (34,0) 38 (25,3) 30 (20,0) 22 (14,7) 46 (30,7) 43 (28,7)

Medo 63 (42,0) 50 (33,3) 42 (28,0) 43 (28,7) 13 (8,7) 7(4,7)

Muito medo 24 (16,0) 42 (28,0) 43 (28,7) 40 (26,7) 14 (9,3) 5 (3,3)

Aterrorizado 3(2,0) 18 (12,0) 35 (23,3) 45 (30,0) 6 (4,0) 3 (2,0)

Tabela 7 - Frequéncia de respostas de ansiedade antecipatória mediante diversos acontecimentos. Salientam-se alguns resultados a negrito.

Ver agulha n (%) Sentir agulha n (%) Ver broca n (%) Ouvir broca n (%) Sentir broca n (%) Fazer limpeza n (%) Medo global n (%)

Sem medo 2 (1,3) 0(0) 1 (0,7) 1 (0,7) 0(0) 3(2) 18 (12)

Pouco medo 16 (10,7) 15 (10) 24 (15,4) 21 (14) 20 (13,3) 54 (36) 25 (16,7)

Medo 44 (29,3) 41 (27,3) 47 (31,5) 38 (25,3) 41 (27,3) 50 (33,3) 36 (24)

Muito medo 27 (18) 19 (12,7) 33 (22,2) 31 (20,7) 29 (19,3) 28 (18,7) 35 (23,3)

Aterrorizado 61 (40,7) 75 (50) 45 (30,2) 59 (39,3) 60 (40) 15 (10) 36 (24)

Tabela 8 - Distribuicao de frequéncia para o medo sentido com diversos estímulos. Salientam-se alguns resultados a negrito.

(39,3%) e "sentir a broca" (40%) sao estímulos que deixam os pacientes "aterrorizados". Porém, ao classificar "medo global", 24% dos pacientes afirmam sentir "medo" e apenas 24% se confes-sam "aterrorizados". O simples acto clínico de "fazer uma limpeza" transmite "medo" a 33,3% e deixa "aterrorizados" 10%. De sublin-har que diante dos estímulos "sentir agulha" e "sentir a broca" nenhum dos entrevistados se manifestou "sem medo" (Tabela 8).

Associaçâo entre a escala MDAS e a frequéncia da consulta

Os resultados permitem concluir que a classificaçao MDAS está significativamente associado a "experiencia anterior de trauma", "falta à consulta devido ao factor medo" e "frequéncia de consulta" (Teste Qui quadrado, p<0,05). Assim, a maior parte dos pacientes com experiéncia de trauma apresentam ansiedade muito elevada e os mais ansiosos tendem a faltar mais às consultas. Dos individuos classificados como "muito ansiosos", 17% (n=26) faltam "às vezes ou frequentemente" (Tabela 9). Quando interrogados "Com que frequéncia vem à consulta de Medicina Dentária?", 20% (n=30) dos "muito ansiosos" referem vir "nunca ou apenas quando tém dores".

Associaçâo entre a escala MDAS e os relatos dos pacientes

Verifica-se que o resultado da classificaçao MDAS está signi-

ficativamente associado a "conhecimento de acidentes em consultorios", a "influencia do relato de acidentes" e a "conhecer outros com medo" (Teste Qui-quadrado, p<0,05). Os mais ansiosos sao os que mais conhecem acidentes em consultorios (Tabela 10). Quando interrogados "Os seus familiares, amigos e pessoas com que convive tém medo de ir ao Médico Dentista7', dos que referem terem "conhecimento de outras pessoas com medo", 32% sao classificados de "sem ansiedade", 22% sao classificados de "ansiosos" e 28% de "muito ansiosos" (Tabela 10).

Associaqao entre as escala MDAS e DFS e variáveis sócio-demográficas

O resultado da classificacao de ambas as escalas nao se encontra associado nem com o género nem com a classificacao socio-económica dos pacientes (ver Tabela 5) (teste de Qui-quadrado: MDAS vs. género, 2 g.l., p=0,276; MDAS vs. classificacao, 6 g.l., p=0,696; DFS vs. género, 3 g.l., p=0,693; DFS vs. classificacao, 9 g.l., p=0,477).

Análise da correspondencia de categorías entre a escala DFS e a escala MDAS

Uma análise de correspondencias permite identificar asso-ciacoes relativamente claras entre as classificacoes atribuidas pela MDAS e pela DFS. Genericamente, a DFS parece mostrar um nivel de ansiedade ligeiramente superior ao identificado pela

Resposta (categoria) MDAS

(variável) Sem Ansiedade n (%) Ansioso n (%) Muito Ansioso n (%) g.i. p

Experiencia anterior de trauma Sim 24 (16.0%) 15(10,0%) 33(22,0%) 2 0,000035

Nao 47(31,0%) 21(14,0%) 10(7,0%)

Falta a consultas por medo1 Nunca 67 (45,0%) 32 (21,0%) 17 (11,0%) 2 0,000000000017

As vezes ou frequentemente 4 (3,0%) 4 (3,0%) 26 (17,0%)

Frequéncia de consulta2 Nunca ou quando tem dores 19 (13,0%) 12 (8,0%) 30 (20,0%) 4 0,00005

Uma vez por ano 17 (11,0%) 4 (3,0%) 6 (4,0%)

De 6 em 6 meses 35 (23,0%) 20 (13,0%) 7 (5,0%)

1 a variável foi reclassificada, agregando-se as respostas para "as vezes" e "frequentemente";

2 a variável foi reclassificada, agregando-se as respostas para "nunca" e "quando tem dores".

Tóbela 9 - Frequéncia de respostas obtidas para perguntas relacionadas com frequéncia de consultas, situacoes de medo e de trauma, por grau de ansiedade da escala MDAS. Valor de prova (p) para a associacao estatística (teste de Qui-Quadrado de independéncia, graus de liberdade (g.l.)) entre as variáveis apresentadas e a escala MDAS.

Resposta (categoria) MDAS

(variável) Sem Ansiedade n (%) Ansioso n (%) Muito Ansioso n (%) g.i. P

Conhecimento de acidentes Sim 7 (4,7%) 12 (8%) 15 (10%) 2 0,002

Nao 64 (42,7%) 24 (16%) 28 (18,7%)

Influéncia do relato de acidentes Sim 7 (4,7%) 8 (5,3%) 15 (10%) 2 0,005

Nao 64 (42,7%) 28 (18,7%) 28 (18,7%)

Conhecimento de outros terem medo Sim 48 (32%) 33 (22%) 42 (28%) 4 0,000061

Nao 23 (15,3%) 3 (2%) 1 (0,7%)

Tóbela 10 - Frequéncia de respostas obtidas para perguntas relacionadas com relatos dos pacientes sobre acidentes no consultorio (conhecimento e influéncia) e medo, por grau de ansiedade da escala MDAS. Valor de prova (p) para a associacao estatística (teste de Qui-Quadrado de independéncia, graus de liberdade (g.l.)) entre as variáveis apresentadas e a escala MDAS.

MDAS (Figura 1). Assim, os que sao classificados como "nao ansiosos" pela Escala MDAS sao classificados como sendo "ansiosos" ou apenas "moderadamente ansiosos" pela DFS. Os "ansiosos" na Escala MDAS sao "muito ansiosos" segundo a DFS, e os "muito ansiosos" (MDAS) sao classificados como fóbicos pela Escala DFS.

DISCUSSAO

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Dimensión 1

Figura 1 - Análise da correspondéncia de categorias entre a Escala de DFS e a Escala de MVAS

paciente, identificaçao do paciente ansioso antes da consulta, o seu nível de ansiedade, surgiram instrumentos de avaliaçâo, com escalas como as usadas neste estudo: MDAS e DFS. Neste estudo, as escalas foram aplicadas com o objectivo de avaliar a ansiedade e fobia dos pacientes das Clínicas Pedagógicas de Medicina Dentária da Faculdade de Ciencias da Saúde da Universidade Fernando Pessoa. Convém, no entanto, salientar a carencia de dados epidemiológicos no que concerne a estudos da prevalência da ansiedade dentária na Populaçâo Portuguesa.

Da frequéncia da consulta, verifica-se que 38,7% da amostra dos pacientes inquiridos, recorre à consulta apenas "quando tem dores" e 48% refere ter experimentado trauma num consultório dentário. Foi verificada uma associaçâo estatisticamente significativa com a classe socio-económica (p=0,0027), sendo a classe mais elevada ou seja aquela com maior poder económico, a que menos espaça as consultas. Este resultado é corroborado com o reportado pelos estudos de Doerr et al.in) e de Raadal et al.iK), uma vez que é verificada a associaçâo entre a "frequéncia da consulta" e "classe socio económica", sendo a classe socioeconómica mais desfavorecida a que espaça mais as consultas, motivada pela escassez de recursos financeiros. O peso sócio económico pode surgir como casuística da diminuiçâo da frequéncia de consulta, a uma menor disponibilidade financeira que, por consequência, gera uma diminuiçâo de recurso a consultas.

Averiguou-se que 116 utentes (77,3% da amostra), "nunca" faltavam à consulta pelo motivo "medo" mas 22,7% (34, englobando a soma de respostas "às vezes" e "frequentemente") assumem faltar. Verifica-se uma associaçâo significativa entre os individuos que "faltam à consulta por medo" com a "experiencia anterior de trauma" (p=0,00079) e com "frequéncia de consulta" (p=0,00016). Assim, os individuos que mais faltam relatam "experiencia anterior de trauma" e a maioria mostra tendéncia para o protelamento da consulta, só recorrendo a esta na presença de sintomatologia dolorosa. Para dar fundamento à associaçâo aqui verificada, cita-se um estudo feito por Beck et al.i,9) onde se concluiu, que os pacientes que comparecem às consultas com menor regularidade, identificam-se como vítimas de procedimientos dentários anteriores, com episódios de trauma e em última instancia, apenas recorrem a tratamento dentário quando tém dores.

Apoiado nos relatos dos pacientes, apurou-se que 82% dos participantes afirmaram "conhecer outras pessoas com medo" de irem ao Médico Dentista. Verificou-se uma associaçâo significativa entre a "experiéncia anterior de trauma" e o "conhecimento de outros com medo" (p=0,018). Estes dados corrobo-ram o estabelecido pelos Kleinknech e Alexander*151. Estes defendi-am que relatos ou influéncias externas de terceiros, baseadas em possíveis e hipotéticos traumas, seriam assimilados pelos

pacientes, de forma inconsciente, como percepçôes pré-adquiri-das por imitaçao, acerca dos tratamentos e do próprio profesional. O testemunho de terceiros com patologia ansiosa, pode influenciar a visao e o temor percepcionados ou perspectivados pelos utentes, facto evidenciado no estudo de Arntz et al.i2<,) que alegam ainda que os comportamentos fóbicos podem ser predispostos quer pela adopçao de modelos comportamentais, quer por imitaçao ou por informaçao apreendida da convivéncia com estes.

Após aplicaçao da escala MDAS, constatou-se que 52,7% da amostra, manifesta ansiedade, independentemente da sua severi-dade, isto é, quer sejam apenas "ansiosos" ou "muito ansiosos". Registou-se ainda a supremacia de pacientes "muito ansiosos" sobre os "ansiosos". A prevaléncia neste estudo de pacientes com "medo" ou "muito ansiosos" é de 28,7%. O valor percentu-al de ansiedade obtido é díspar e superior ao defendido por Gatchel et al.(5), Milgrom et al.is) e por Hakeberg et al.i2), que afir-mam que a prevaléncia deste tipo de ansiedade elevada, é de cerca de 2G% nos adultos. Contudo, Johgh et al.(21) mediante estudos seus, defende que a percentagem de pacientes com fobia dentária ronda os 4G% na populaçao Europeia e Norte Americana. Este valor revela-se bem superior ao apurado na realidade em estudo.

Relativamente a MDAS versus Frequéncia da consulta, apurou-se que, dos pacientes "muito ansiosos", 2G % tende a recorrer às consultas de Medicina Dentária apenas "quando tem dores" e que 17% falta às consultas "às vezes ou frequentemente" devi-do a "medo". Constata-se ainda que, dos utentes classificados por MDAS como "muito ansiosos", em 33 casos é referida "experiéncia anterior de trauma". A classificaçao de MDAS encontra associaçao significativa com "experiéncia anterior de trauma" com p=G,GGGG35; "frequéncia da consulta" com p=G,GGGG5 e " faltas à consulta por medo" (Tabela 9). Esta elevada ansiedade dos traumatizados foi comprovada por Liddel(22) e De Jongh et al.(23). Moore et alm defendem ainda que os pacientes com ansiedade dentária elevada, tendem a protelar a consulta até surgir sintomatologia, faltam regularmente e relatam vivéncias negativas em consultórios de Medicina Dentária. Por sua vez os que exprimem menor ansiedade, sao os que visitam regularmente o Médico Dentista.

Já para DFS, verificou-se que a maioria 55,3% adiou a consulta e que 54,7% admite já ter faltado. Os valores resultantes do presente estudo, diferem da prevaléncia avançada pelo estudo de Erten etal.(25), efectuado numa clínica dentária universitária, em que 1G,5% dos pacientes adiam as consultas e 4,9% cance-lam a marcaçao, valores bem inferiores aos verificados. Para além disto, estes autores assumem que eventuais tratamentos invasivos podem causar percepçôes negativas no paciente e

serem factores indutores para o adiamento e cancelamento da consulta. Verificou-se associaçao significativa entre "adiar" e "faltar à consulta " com "experiéncia anterior de trauma", com valores de teste de Qui-quadrado, respectivamente, p=G,GGG61 e p=G,GG1. Assim, os que adiam ou faltam à consulta com mais frequéncia sao os que manifestam já terem sido alvo de "expe-riéncia anterior de trauma".

A maioria dos utentes, na "marcaçao de consulta" e na "aproximaçao do consultório" manifestam sentir "medo". Na "sala de espera", os pacientes sentem "muito medo" e "na cadeira do dentista", sentem-se "aterrorizados". Já perante "cheiro do consultório" e "ver o dentista", os pacientes manifestam-se "sem medo". De sublinhar que: na "sala de espera" e na "cadeira do dentista", nenhum paciente refere se sentir "sem medo" (Tabela 7). É defendido por Lopes(12) que estes acontecimentos encontram traduçao sob a forma de impactos fisiológicos, isto é, alteraçôes fisiológicas que, na véspera da consulta, o paciente já as manifesta, aumentando de intensidade na sala de espera do consultório, atingindo o pico na altura do inicio da consulta. Tal gradaçao, do aumento de ansiedade por antecipaçao, verifi-ca-se nos dados coligidos.

Quanto aos estímulos desencadeantes de medo dentário, constata-se que "ver a agulha", "sentir a agulha", "ver a broca", "ouvir a broca" e "sentir a broca" sao estímulos capazes de fazer o paciente sentir-se "aterrorizado" (Tabela 8). Estes resultados corroboram e aproximam-se das conclusôes obtidas por alguns autores(26), em que o medo das injecçôes e do ruído eram os temores mais flagrantes. Milgrom etal.i27), apurou que a "visao

da seringa", o "sentir da agulha" e o "ouvir e sentir da broca" sao alguns dos estímulos que produzem uma maior resposta de medo.

CONCLUSÖES

A maioria dos pacientes das Clínicas Pedagógicas de Medicina Dentária da FCS-UFP apenas recorre a tratamentos Médico-Dentários quando tem dores, nunca falta à consulta por "medo", nao foi alvo de trauma durante tratamentos, desconhece a ocor-réncia de acidentes em consultórios de Medicina Dentária, nao é influenciada por relatos de acidentes e priva com pessoas próximas que manifestam medo de ir ao Médico Dentista. No entan-to, a escala MDAS revelou que 52,7% dos utentes apresentam ansiedade dentária, sendo que se revela a supremacia dos "muito ansiosos" sobre os "ansiosos".

Os "muito ansiosos" só frequentam a consulta "quando tém dores", faltam recorrentemente à consulta movidos pelo "medo" e relatam "experiéncia anterior de trauma". Sao os que mais conhecem acidentes em ambiente de consultório, os que mais se sentem influenciados por relatos de tais factos e que, mais conhecem e convivem com pessoas próximas que exteriorizam medo perante a consulta.

Os fóbicos manifestam activaçao fisiológica exacerbada, padecem de ansiedade antecipatória ao "marcar a consulta" bem como na "sala de espera" temendo principalmente os estímulos agulha e broca.

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