ELSEVIER DOYMA
Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial
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Investigaçâo
Estudo comparativo de dois procedimentos de aplicaçâo de anestesia local intraoral
Lázaro Raimundo Couraa> Nivaldo Zöllnerb> Nivaldo André Zöllnerc, Luiz Carlos Laureano da Rosad e Joäo Marcelo Ferreira de Medeirose>*
aAluno do Programa de Pös-Graduagao Stricto Sensu em Odontología, Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil bEx-Reitor da Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil. Professor Titular da Disciplina de Endodontia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil. (In Memorian)
cProfessor da Disciplina de Clínica Integrada do Departamento de Odontologia, Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil dProfessor Doutor da Disciplina de Bioestatística da Universidade de Taubaté. Coordenador do Núcleo de Pesquisas Econômico-Sociais da Universidade de Taubaté, Taubaté, SP, Brasil
eProfessor do Programa de Pös-Graduagäo Stricto Sensu em Odontologia, Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil. Professor Doutor da Disciplina de Endodontia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté, Taubaté, Sao Paulo, Brasil
INFORMAÇAO SOBRE O ARTIGO
RESUMO
Historial do artigo:
Recebido em 18 de Novembro de 2009 Aceite em 1 de Margo de 2011
Palavras-chave: Medo Ansiedade Anestesia local Dor
Compararam-se métodos de aplicagao de anestesia local injetável com uso prévio de anestésico tópico tipo éster e outro usando placebo. Avaliaram-se sessenta pacientes de ambos os sexos que tinham sido submetidos ao tratamento endodontico em dentes superiores e apresentavam ausencia de sintomatologia dolorosa aguda os quais foram submetidos ao tratamento endodontico em dentes superiores. Dividiu-se em grupo experimental e controlo, ambos com preparagao cognitiva. No grupo experimental utilizou-se método próprio de aplicagao de anestesia local do alveolar superior médio, usando antisséptico tópico como placebo. No grupo controlo utilizou-se método de aplicagao de anestesia local com uso de anestésico tópico. Para determinar se os dois grupos eram diferentes em relagao ao nível de ansiedade, foi aplicada a Escala de Ansiedade Manifesta de Taylor e o questionário modificado de Corah e Pantera. Além disso, um questionário para avaliar diferengas qualitativas entre o convencional e o método proposto foi aplicado em ambos os grupos. Dos resultados obtidos dos testes subjetivos (escala e questionários), dos 30 componentes do grupo experimental 13 eram ansiosos, 10 pouco ansiosos e 7 muito ansiosos e nos trinta componentes do grupo controle 17 eram ansiosos, 9 pouco ansiosos e 4 muito ansiosos. Concluiu-se que no grupo em que foi utilizado o método próprio de aplicagao de anestesia local injetável e sem uso de anestésico tópico nao ocorreram variagdes significativas pelos exames objetivos e subjetivos; naqueles pacientes utilizando anestésico tópico do tipo éster, antes da aplicagao de anestesia local injetável, ocorreu alteragao do tragado eletrocardiográfico e aparente aumento da ansiedade.
©2009 Publicado por Elsevier España, S.L. em nome da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Todos os direitos reservados.
*Autor para correspondencia.
Correio electrónico: ferreirademedeiros@yahoo.com.br (J.M. Ferreira de Medeiros).
1646-2890/$ - ver introdugäo ©2009 Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.
Comparative study of two procedures to intraoral anesthetic injections
ABSTRACT
Keywords: The objective this research was compare two methods of applying local anesthetic
Fear injection with prior use of topical anesthetic ester and one using placebo. Sixty patients
Anxiety of both gender who have been submitted to endodontic treatment in upper teeth and had
Local anesthesia absence of acute painful symptoms were evaluated. Divided into experimental and control
Pain groups both with cognitive preparation. The experimental group used the proper method
of application of local anesthesia in middle superior alveolar using a topical antiseptic as placebo. The control group used the conventional method of application of local anesthesia with use of topical anesthetic. To determine whether the two groups were different in relation to anxiety level was applied Anxiety Scale and the Taylor Manifest a modified Corah and Pantera. In addition, a questionnaire to assess qualitative differences between the conventional and the proposed method was applied in both groups. From the results of subjective tests (scale and questionnaires), of the 30 components of the experimental group 13 were anxious, 10 bit anxious and very anxious and 7 in the thirty of the control group 17 were anxious, 9 and 4 little anxious very anxious. It was concluded that the group that used the proper method of applying local anesthetic injection and without topical anesthesia has not changed significantly by the objective and subjective tests; in patients using topical anesthetic ester, before application of local anesthetic injection, the change occurred the electrocardiographic tracing and apparent increase in anxiety.
©2009 Published by Elsevier España, S. L. on behalf of Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. All rights reserved.
Introdujo
A dor e ansiedade devem ser minimizadas ou evitadas por abordagem cordial ao paciente e pelo uso criterioso de técnicas de controlo, sobretudo a anestesia local. Em diversas etapas do tratamento endodóntico, o controle da dor torna-se mais importante que o controle da ansiedade e precisa ser reconhecida para que possa ser controlada.
O medo e sua consequente ansiedade pela injegao de anestésico no ámbito da medicina dentária variam em intensidade, de individuo para individuo, sendo esta uma característica universal. Esta ansiedade constitui uma barreira para o normal decurso do tratamento e, faz com que, pacientes evitem, abandonem ou adiem o tratamento para outra ocasiao. Assim, fatores como adequado método de anestesia, menor tempo de tratamento, preparagao psicológica inicial e uso de sedativos devem ser colocadas em prática para eliminagao de reagoes adversas ao tratamento.
O posicionamento do paciente entre profissional e assistente e em posigao de decúbito dorsal aumenta o medo e ansiedade ao tratamento dentário1.
Os anestésicos locais apesar de serem considerados eficientes para iniciar e concluir um tratamento sem dor apontam a ocorrencia de reagoes adversas de 5 a 15 % dos pacientes2.
O medo, a dor e a ansiedade ao tratamento dentário sao problemas universais, apesar do desenvolvimento técnico-cientifico da medicina dentária atual e que uma vez identificado um paciente com medo e ansiedade, deve-se
reduzir o tempo do procedimento clínico para nao exacerbar os sintomas3.
Há necessidade de métodos adequados de anestesia antes do tratamento evitando impactos negativos. Com vistas a isso, foi realizada investigagao para situagoes que mais provocavam medo e ansiedade ao tratamento dentário valendo-se de questionários e listando entre outros, o preparo e o ato de aplicagao da anestesia local injetável4.
De fato, o medo ao tratamento dentário ou anestesia é uma realidade que consiste de uma fobia condicionada que emerge do resultado de experiencias dentárias negativas o que sugerem a existencia de uma relagao forte entre ansiedade, tratamento dentário e experiencias negativas diretas5.
Na prática clínica, há sugestao de utilizagao de técnicas de anestesia local que oferegam menos desconforto e tranquilizem o paciente. Casos de falhas na obtengao da anestesia local relacionam-se com variagoes anatómicas, presenga de infecgao local, fatores psicológicos e certos métodos de aplicagao de anestesia local6.
Suportar uma injegao de anestesia é parte fundamental do tratamento, todavia, o medo da injegao pode induzir o paciente a evitar o tratamento e até mesmo um mau relacionamento com o Médico Dentista. Sendo assim, este deve possuir habilidade de convencer e mostrar ao paciente a importancia da sua saúde oral7.
Mais ainda, McCaffery e Beebe8 apontam que a ansiedade é avaliada pela DAS (Escalas de Ansiedade Dental) de Corah e Pantera9, pela pesquisa de medo dental de Kleinknecht e Bernstein10, pelo questionário sobre medo em criangas e por escalas de valores semelhantes á escala VAS (Escala Análoga
Visual), que quantifica de 0 a 10 e visualiza através de cores, a intensidade da dor.
Estudos apontam as consequências psicossociais causadas pelo medo, ansiedade e em fungäo do tratamento dentário tais causas revelam que a maioria dos individuos ansiosos evita o tratamento e compromete sua saúde oral com mais frequência11.
Os efeitos de uma estimulagäo e distragäo manual contribuem para reduzir a dor e a ansiedade usando método padräo de injegäo de anestesia local. Destarte, orientaçoes didáticas diminuiram a ansiedade em relagäo à administragäo e recepgäo de uma injegäo12.
O desconforto produzido pela penetragäo da agulha em diferentes partes da mucosa do palato indicam que a penetragäo da agulha no palato anterior é mais dolorosa do que no posterior13.
Realizou-se avaliagäo quantitativa da relagäo entre pressäo, dor e ansiedade em fungäo da pressäo exercida no inicio da injegäo de anestesia, a dor por Escala Visual Análoga e a ansiedade pela Escala de Ansiedade de Faces14.
Foi usado e relacionado questionários com a quantidade de ansiedade dental considerando idade, sexo e educagäo e associaram às faltas em consultas, duragäo das mesmas e o que se espera do futuro tratamento13.
Avaliaram o efeito ao tratamento psicológico sobre a adesäo ao tratamento dentário em três sessoes de terapia cognitivo-comportamental que consistiu de gestäo do stress e exposigäo ao estimulo. O efeito foi decidido em três visitas subsequentes do paciente à clinica. Comparando pacientes que completaram o tratamento psicológico com aqueles que abandonaram o tratamento, em torno de 68 % dos antigos e também S2 % dos últimos aderiram ao posterior esquema de tratamento dentário. O número de sessoes ao tratamento psicológico correlacionou significativa e positivamente nivel de ansiedade antes do tratamento. Concluiram que em três sessoes de terapia psicológica resultaram uma taxa de sucesso de 70 % a adesäo ao tratamento dentário entre os pacientes com temor ao tratamento dentário16.
Analisou-se o nivel de ansiedade dental antes de diferentes procedimentos médico-dentários. Escolheram 116 adultos apresentando pela primeira vez em um hospital odontológico os quais anotaram na Escala 1 de Ansiedade Dental de Corahs e uma Escala Visual Analógica a fim de distinguir sua percepgäo do nivel de dificuldade gerada por 13 diferentes tratamentos dentários. As açoes mais dificeis de enfrentar foram tratamento do canal radicular e restaurador sem anestesia local seguida pela cirurgia oral o que resultou correlagäo positiva entre pontuagäo da Escala de Ansiedade Dental e nivel de dificuldade durante o tratamento dentário17.
Estudaram 4SS crianças de ambos os sexos e idade entre S e 6 anos. Pesquisaram reaçoes a dor na maxila e mandíbula quando da infiltraçäo anestésica, bloqueio do nervo alveolar superior médio e posterior, bloqueio do nervo palatino maior e nasopalatino e bloqueio do nervo alveolar inferior. Administraçäo de anestésico e bloqueio no nervo nasopalatino produziu máxima dor com pontuaçäo mediana 10 enquanto que o bloqueio do nervo alveolar posterossuperior e bloqueio do nervo alveolar inferior foi acompanhada de dor mínima (3 e 4, respectivamente). Näo houve diferença com re^äo às
reaçoes dolorosas quanto ao sexo. A injeçâo na maxila foi mais dolorosa do que na mandíbula (7 contra 5). A infiltraçâo em segmentos anterior e posterior da maxila produziu reaçoes dolorosas máximas (8) e mínimas(3)18.
O objetivo desta pesquisa foi avaliar o nível de ansiedade em pacientes odontológicos, comparando métodos de aplicaçâo de anestesia local injetável, sendo dois grupos, a saber, um experimental (placebo com preparaçâo cognitiva), e um grupo controlo (anestésico tópico sem preparaçâo cognitiva).
Materiais e métodos
Foram selecionados 60 pacientes entre 20 e 40 anos de idade, de ambos sexos com indicaçâo de tratamento endodôntico em dentes anteriores superiores e sem dor aguda.
Esta investigaçâo foi submetida a julgamento e concordância do Comité de Ética em Pesquisa de seres humanos da Universidade de Taubaté conforme uma declaraçâo com protocolo CEP/UNITAU n.° 324/05.
Todos os pacientes foram submetidos a um protocolo de atendimento pré-operatório, iniciado pela recepcionista que os recebia informando-os sobre seu breve atendimento pela equipe profissional.
A técnica anestésica de eleiçâo foi a de bloqueio do nervo alveolar superior médio ou infraorbitário, com o objetivo de anestesiar as polpas dentárias dos dentes anteriores superiores, tecido periodontal envolvente e osso alveolar.
A pressâo arterial foi feita por profissional habilitado, utilizando aparelho marca BD (Becton Dickinson Industria Cirúrgicas Ltda/Sâo Paulo-SP) e com o paciente sentado.
Foi realizado eletrocardiograma antes e imediatamente após a aplicaçâo da anestesia local usando eletrocardiógrafo marca Ecafix modelo ECG-6 (North Med Equipamentos Médico Hospitalares) por um técnico de enfermagem e o traçado interpretado por um médico cardiologista.
Utilizou-se para técnica de anestesia seringa carpule/argola marca Können (KENNEN Indústria e Comércio Ltda-EPP/Sâo Paulo-SP) com mecanismo de aspiraçâo. Foram usadas agulhas descartáveis curtas calibre 30G marca Injecta (GN Injecta ICMMCOD LTDA/Diadema-SP, Brasil, Lote 06042628T1, Validade 13/01/2012). Antes da punçâo, injetou-se uma pequena quantidade da soluçâo para deslocar o émbolo de borracha da sua posiçâo original, promovendo com isso fluxo livre e uniforme da soluçâo anestésica (Mepiadre 100 (cloridrato de mepivacaína a 2 % e com o vasoconstritor epinefrina 1:100.000 -DFL Industria e Comércio S.A., Rio de Janeiro, Brasil. Lote 08090039, Validade Setembro 2010) à temperatura ambiente.
Nos pacientes do grupo experimental foi utilizada uma haste flexível embebida em soluçâo Periogard® (Colgate-Palmolive, Sâo Bernardo do Campo, SP, Brasil. Lote BR123A, validade Janeiro 2012) utilizado como placebo e, a seguir, secagem da regiâo a ser puncionada com compressa de gaze.
Posicionaram os pacientes com cabeça e tronco paralelos ao châo para melhor equilibrio do sistema cardiovascular sendo anestesiados sempre pelo mesmo profissional injetando em cada paciente 1,8 mililitros da soluçâo anestésica.
Em continuidade, a face interna e externa do lábio superior foi envolvida com compressa de gaze, prendendo-o
firmemente com os dedos polegar e indicador da mao esquerda. Posicionava-se o bisel da agulha voltado para a cortical óssea o mais próximo possível da mucosa realizando-se subitamente pequenos movimentos de tragao e relaxamento do lábio ao encontro da mucosa vestibular, isto é, penetragao da agulha sem nenhuma pressao.
Após isso, a solugao anestésica foi injetada lentamente á medida que a agulha era introduzida. Após penetragao da agulha, executava-se o mecanismo de aspiragao, sempre atento ao visor da seringa carpule, a fim de, conferir possível retorno sanguíneo e, quando ocorria mudava-se a diregao de penetragao da agulha cuidando para que o bisel nao tocasse o periósteo.
Durante o diálogo específico e cognitivo mantido com pacientes do grupo experimental sobre o método de aplicagao de anestesia local evitou-se mencionar palavras como dor, injegao, agulhada e outras que pudessem ativar memórias relacionadas á dor.
Nos pacientes do grupo controle utilizou-se anestésico tópico do tipo éster (Benzocaína) da marca DFL (Indústria e Comércio S.A., Rio de Janeiro, Brasil. Lote 0810T047, Validade 10/2010) e nao foi mantido diálogo específico e cognitivo entre profissional e paciente. Da mesma forma que nos pacientes do grupo anterior, a face interna e externa do lábio foi envolvida com uma compressa de gaze, prendendo-o firmemente com os dedos polegar e indicador, porém, a pungao do bisel era feita de encontro á superfície da mucosa, isto é, penetragao com pequena pressao.
Para comprovar os níveis de ansiedade dos pacientes tanto do grupo experimental como de controle usou-se a TMAS (Escala de Ansiedade Manifesta de Taylor)19-21 e o questionário
Tabela 1 - Número de pacientes dos grupos experimental e controlo relativamente ao nível de ansiedade
Estado Grupos
Experimental Controlo
Ansioso Pouco Ansioso Muito Ansioso Total 13 43 % 10 33 % 7 23 % 30 100 % 17 9 4 30 57 % 30 % 13 % 100 %
Teste Qui-Quadrado (x2 = 1,404) (p-value = 0,4956) n.s.
Tabela 2 - Número de pacientes do sexo masculino e feminino do grupo experimental com relaqao ao nível de ansiedade
Estado Grupo Experimental
Masculino Feminino
Ansioso 9 30 % 4 13 %
Pouco Ansioso 5 17 % 5 17 %
Muito Ansioso 2 7 % 5 17 %
Total 16 53 % 14 47 %
de ansiedade de Corah e Pantera9, avaliando o nível de medo e ansiedade antes dos procedimentos.
Após a conclusao do tratamento endodontico foi utilizado nos pacientes do grupo experimental, um instrumento para avaliagao do método de anestesia proposto pelos autores. Este instrumento de avaliagao foi manipulado por um indivíduo independente, sem conhecimento dos procedimentos realizados e que entregou aos pesquisadores os valores fornecidos por cada paciente.
Após a realizagao dos exames complementares objetivos (pressao arterial e eletrocardiograma) e subjetivos (escala e questionários modificados), os dados foram colhidos e realizados análise estatística valendo-se do teste Qui-Quadrado (x2) ao nível de significancia de 5 %.
Resultados
Os resultados do presente trabalho encontram-se nas tabelas 1 a 5.
De acordo com a tabela 1, dos 30 componentes do grupo experimental 13 eram ansiosos, 10 pouco ansiosos e 7 muito ansiosos e nos trinta componentes do grupo controle 17 eram ansiosos, 9 pouco ansiosos e 4 muito ansiosos, no entanto, sem significado estatístico (p-value = 0,4956).
A tabela 2 aponta para o grupo experimental a ocorrencia de 30 % dos pacientes do sexo masculinos ansiosos do que os pacientes do sexo feminino (13 %) e tal fato nao ocorreram com os pacientes tanto do sexo feminino como masculino (17 %) com relagao a pouca ansiedade. De outro modo, houve neste mesmo grupo mais pacientes mais ansiosos do sexo feminino
Tabela 3 - Número de pacientes do sexo masculino e feminino do grupo controlo com relaqao ao nível de ansiedade
Estado Grupo Controlo
Masculino Feminino
Ansioso 9 30 % 8 27 %
Pouco Ansioso 4 13 % 5 17 %
Muito Ansioso 1 3 % 3 10 %
Total 14 47 % 16 53 %
Teste Qui-Quadrado (x2 = 1,041) (p-value = 0,5942) n.s.
Tabela 4 - Número de pacientes submetidos ao eletrocardiograma dos grupos experimental e controlo antes da aplicaqao da anestesia local
Estado Grupos
Experimental Controlo
Normal 21 70 % 25 83 %
Alterado 9 30 % 5 17 %
Total 30 100 % 30 100 %
Teste Qui-Quadrado (x2 = 3,082) (p-value = 0,2134) n.s.
Teste Qui-Quadrado (x2 = 1,491) (p-value = 0,3598) n.s.
(17 %) do que o sexo masculino (7 %), contudo, sem significado estatistico (p-value = 0,2134).
Relativamente ao grupo controle da tabela 3 praticamente houve equilibrio percentual entre pacientes ansiosos e poucos ansiosos de ambos os sexos excetuando-se pacientes muito ansiosos do sexo masculino (3 %) contra pacientes muito ansiosos do sexo feminino (10 %), porém, sem significado estatistico (p-value = 0,5942)
Por sua vez, a tabela 4 apresenta pacientes do grupo experimental que foram submetidos ao eletrocardiograma antes de submeterem-se a aplicagao de anestesia local, em cerca de, 21 casos (70 %) encontrava-se em estado normal e 9 (30 %) em estado alterado enquanto no grupo controlo encontrou-se 25 casos (83 %) em estado normal e 5 (17 %) em estado alterado, todavia, sem significado estatistico (p-value = 0,3598).
Com referencia a tabela 5 observou-se que os pacientes que foram submetidos ao eletrocardiograma de ambos os grupos depois da aplicagao da anestesia local o grupo experimental apresentou-se com alteragao normal em 20 situagoes (67 %) e em 10 ocorrencias com alteragao anormal (33 %) enquanto no grupo controlo 3 casos com alteragao normal (10 %) e em 27 circunstancias com alteragao anormal (90 %) e com significado estatistico entre os dois grupos (p-value = 0,00001).
Discussao
O exito do tratamento dentário depende do conhecimento e vivencia profissional para boa progressao do tratamento. A eliminagao do medo e consequente ansiedade por parte dos pacientes durante procedimentos clinicos é uma tarefa prática de dificil concretizagao dependendo, é claro, da formagao humana e profissional do Médico dentista, o que estabelece bom relacionamento profissional-paciente, instrumento fundamental para o controle das alteragoes comportamentais de ambos.
Várias investigagoes procuram analisar e desenvolver novos métodos de distragao e de aplicagao de anestesia local, uma vez que, tal procedimento aumenta o medo e ansiedade12-15,22.
Medo e ansiedade estimulam a resistencia ao tratamento dentário, formando um ciclo vicioso onde os mesmos sao reforgados, portanto, adiar um tratamento provoca deterioragao da saúde oral e gera mais medo, ansiedade e expectativas negativas.
Tabela 5 - Número de pacientes submetidos ao eletrocardiograma dos grupos experimental e controlo depois da aplicagao da anestesia local
Estado Grupos
Experimental Controlo
Alteraçâo Normal 20 67 % 3 10 %
Alteraçâo Anormal 10 33 % 27 90 %
Total 30 100 % 30 100 %
Teste Qui-Quadrado (x2 = 20,376) (p-value = 0,00001) extremamente significante.
Este estudo comparou dois métodos de aplicagao da anestesia local injetável sendo um método utilizagao de placebo do anestésico tópico (Periogard) e outro anestésico tópico do tipo éster, e para mais, dados subjetivos (escala e questionários) e objetivos (aferigao de pressao arterial e eletrocardiograma) para análise do nivel de ansiedade.
Quanto a regiao a ser aplicada a anestesia a preferencia recaiu no bloqueio do nervo alveolar superior por se tratar de um local altamente sensivel á pungao da agulha o que valorizou e deu maior crédito ao método proposto.
Na verdade o uso de substancia tópica nao reduz a dor do paciente o que demonstra que se devem concentrar todos os cuidados durante a insergao da agulha e injegao do liquido anestésico no tecido, achados esses que vao ao encontro daqueles providenciados por Nusstein et al23.
Tanto isso é verdade que, quando analisado o grupo que recebeu placebo como anestésico tópico obtivemos bons resultados e sucesso durante a insergao da agulha como na aplicagao da injegao do anestésico no tecido e isto ocorreu gragas á preocupagao do profissional durante o procedimento o que, aliás, foi ratificado por Kudo14 quando estabeleceu paralelo entre pressao, dor e ansiedade no inicio da aplicagao da injegao de anestesia local.
Utilizou-se neste estudo o cloridrato de mepivacaina a 2 % com o vasoconstritor (epinefrina 1:100.000) isenta de reagoes cardiovasculares.
A análise da tabela 1 define a percentagem de pacientes dos grupos experimental e controlo, quanto ao nivel de ansiedade, frente aos dados subjetivos. É evidente que houve pequena diferenga em termos percentuais, quando comparamos pacientes ansiosos (43 %) do grupo experimental e 57 % do grupo controlo, pacientes pouco ansiosos sendo 33 % no grupo experimental e 30 % no grupo controlo, enquanto que naqueles pacientes muito ansiosos os indices foram de 23 % e 13 % respectivamente e sem significado estatistico.
Tais percentuais encontrado neste estudo e comparado com pesquisa desenvolvida por Wong e Jacobsen2 demonstram que reagoes adversas ocorrem de 5 a 15 % dos individuos que se submetem ao tratamento dentário e, dentro os procedimentos que provocam reagoes indesejadas está o ato de aplicagao da anestesia local.
A necessidade de método indolor de aplicagao de anestesia local reduz as reagoes adversas. Deve-se aplicar suavemente uma injegao, isto é, de forma lenta por um profissional treinado o que produz menos dor ao paciente, uma vez que, esta esmerada injegao permite mesmo no paciente com baixo limiar de dor, redugao das reagoes de ansiedade.
Para os pacientes de ambos os sexos as tabelas 2 e 3 mostra pacientes dos dois grupos em fungao do nivel de ansiedade. Ao comparar tais indices notou-se que apesar de diferenga numérica e percentual ao confrontar os sexos, nao ocorreu significado estatistico.
Neste particular, Locker11 afirmou que o sexo feminino possui mais medo e ansiedade que o masculino quem sabe o sexo feminino possa estar mais preocupado com estética e desta forma influencia o temor de alteragoes fisicas e anatómicas como sequelas de um tratamento.
As tabelas 4 e 5 exibem os resultados do eletrocardiograma antes e depois da aplicagao da anestesia local. Para os
pacientes submetidos ao eletrocardiograma antes da aplicagao da anestesia comparando os níveis de ansiedade em fungao do tragado eletrocardiográfico normal e alterado percebe-se que nao houve significado estatístico, todavia, aquele paciente com tragado eletrocardiográfico feito depois dos procedimentos de anestesia foi observado diferenga estatística significante.
De fato ao analisar a tabela 5 observa-se que, comparando o nível de ansiedade dos 60 pacientes dos dois grupos verificou-se um índice de 90 % com alteragao anormal ao tragado eletrocardiográfico e 33 % também com alteragao anormal no grupo controlo, portanto com significado estatístico.
Naqueles casos onde se tomou cuidado para injegao do anestésico fato este observado no grupo controlo depois da aplicagao do anestésico mesmo assim, foi de 90 % de alteragao anormal, ou seja, ocorreu que 27 pacientes apresentaram alteragao anormal do eletrocardiograma, enquanto, nos pacientes do grupo experimental onde nao se fez preparagao cognitiva antes da aplicagao de anestesia local tópica e injetável o desconforto foi maior para este grupo, isto é, 33 % com alteragao anormal do eletrocardiograma.
Presume-se que, o desconforto gerado pelo medo e ansiedade tenha produzido aumento das catecolaminas endógenas, provocando alteragoes no tragado eletrocardiográfico. Concordamos com as investigagoes feitas por Edmondson et al24 ao afirmarem que a redugao e translucidez do fluxo salivar caracterizam aumento significativo da ansiedade, pois, é muito comum ouvir o paciente ansioso reclamar de boca seca.
Singi25 afirmou nao haver grupos sociais nem idade em que o medo do tratamento dentário nao exista e sim variagoes de intensidade e características. Esta afirmagao veio reforgar os achados de Vassend 3 quando afirmou que o medo e a ansiedade sao problemas universais e que o medo da dor é o principal fator de resistencia ao tratamento dentário.
A ansiedade é desencadeada por reagoes bioquímicas, por história pessoal, por memórias, pela situagao sociocultural do indivíduo e está intimamente relacionada ao medo, porém, sao reagoes distintas. Afirmagoes feitas por Ploghaus et al26 e Van Wijk e Hoogstraten27 sao contrárias á teoria de Litt28 quando alega que no tratamento a ansiedade significa literalmente dor.
Paciente que se submeteu ao procedimento dentário com história de dor ou trauma dentário apresenta fobias múltiplas, que vao além do medo da injegao e perda da confianga no profissional, achando-se desamparado. O paciente com medo específico da injegao de anestesia e que se submete a uma injegao indolor, adquire confianga no profissional e colabora durante todo o tratamento6.
Conclusoes
De posse dos resultados obtidos e a partir das condigoes do
presente experimento parece lícito concluir que:
— o nível de ansiedade foi semelhante nos pacientes de ambos os sexos
— a ansiedade desenvolvida durante a técnica anestésica precedida de preparagao cognitiva equiparou-se á ansiedade desenvolvida com a técnica anestésica precedida de anestésico tópico
— o tragado do eletrocardiograma apresentou uma maior alteragao no grupo de pacientes em que a técnica anestésica foi precedida por preparagao cognitiva.
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